2008-08-01
Na varanda do 1º andar, deitado numa cadeira, que me permite várias posições, rádio menor que uma “bolacha Maria”, com auscultadores nos ouvidos, ouvindo um fado da Ana Moura.
Rodeiam-me telhados com antenas, discos de parabólicas e um céu azul, coberto de estrelas e onde reconheço a Ursa Maior (ou será Menor?) e uma luzinha que pisca; (é um avião a jacto).
Penso para comigo: Poderia estar a ver o que se passa no mundo! (bastava trazer a Tv para aqui, ou ouvir outras músicas (trocava o rádio pelo leitor de CDs), ou mesmo ver o filme mais recente (uma simples ligação do leitor de DVD, portátil).
1954-07-31
Amanhã vamos para o Monte. Abalamos cedo. O JAQUÊTAS leva a charrete. Já comprei no SEBASTIÃO, os pirolitos, para ti, e as cervejas para os “homens”. O CRISPIM comprometeu-se em ter lá a máquina logo de manhã, e os “homens” já lá devem dormir esta noite.
Ia começar a “DEBULHA”
Não vou falar, ou escrever, sobre a dureza destes trabalhos. Para tal façam favor de ler Alves Redol, Manuel da Fonseca, Fernando Namora, Miguel Torga, Virgílio Ferreira, por exemplo.
No entanto, recordo ainda hoje a distribuição das tarefas: Tu vais para a “moinha”, tu para "o desatar os molhos", tu ficas na palha, tu vais para a “almeara”, tu para a “manatenção” e tu és o “aguadero” (até ver).
2008 -08 – 01
Onde é que diabo hoje, (e como?) se separa a semente da palha, o trigo do joio?
1954 – 08 – 05
O dia esteve quente (saber se a temperatura ultrapassou os 40º - ninguém sabe).
Um banho no pego da “rêbera”, o “caspachinho” da ordem. O pôr-do-sol , e toca a dormir.
Onde?
Na eira onde corre mais fresco.
Deixe-me ir dormir na Eira!
E assim trocava o conforto (?) de uma cama, com colchão e tudo pelo prazer de dormir na Eira.
Não havia rádio. Mas havia a cantilena das cegarregas, dos grilos e outros bicharocos.
Não havia televisão, nem filmes, mas havia o DESIDÉRIO que tocava uma gaitada; o FARINHEIRA, que talvez devido ao excesso de pepino do “capacho” na ceia que o LADISLAU havia preparado, não conseguia evitar o ruidoso “soltar dos gases” a provocar risada geral; do KAIDI que lá no fundo aconselhava “olhem o gaiato”, mas não evitava a pergunta: então já tocas ao bicho?
E o SEBASTIÃO , que logo a propósito se saía “hoje bati uma à saúde da ….” (como se aquilo desse mais saúde á visada!).
E o MANECAS? Sempre sério, que a meio da roda (sim porque se dormia à roda da eira) "vamos mas é lá dormir que amanhã é dia de trabalho".
2008 -08-04
Desculpem lá! Lembranças do passado… É a velhice que se aproxima…Mas é sempre bom ter memórias do passado.
Xico Manel
Xico Manel
4 comentários:
Xico Manel
Agora que sabemos que o teu blog é visto no estrangeiro, e bem longe, por muita gente que procura informação sobre o Alentejo, este texto é a cereja sobre o chantilly. Os meus parabéns. MSubtil
Muito bem retratado o passado e o presente.
Parabéns
chantilly...ehhhhhhhhhhh
Gostei imenso de ler este texto ...
tudo quanto escreves, escreves bem.
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