quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DIVAGANDO SOBRE O “CINEMA VELHO”

Baptista Bastos: “a memória é a última coisa a morrer, não a esperança”

A LEI DOS CEM METROS

Se há personagens que nos deixam marcas na infância, adolescência, juventude, sem dúvida nenhuma o Domingos Peças foi uma dessas pessoas que nunca esquecerei.
Domingos Maria Peças de seu nome completo, natural de Monforte foi o homem que muitos dias de ansiedade (vem não vem?) a par com muitas noites de prazer e alegria proporcionaram na década de sessenta, setenta aos habitantes do Alandroal.
As grandes obras literárias: Os Miseráveis que nos traz à memória o Jean Gabin; a aventura: O Facho e a Flecha ,Burt Lancaster, Virginia Mayo; as artes: O Trapézio, Tony Curtis, Gina lolobrigida; o drama: Drama no Arrozal , Silvana Mangano, Vittorio Gasman; a alegria de saudáveis gargalhadas, Cantiflas, António Silva, Vasco Santana e tantos outros que por certo acudirão à lembrança de todos aqueles da minha geração que se tiverem a paciência de o ler se vão sentir mais jovens e recordar tempos felizes.
Foi também graças a ele que muitos daqueles que agora tiverem a minha idade despoletaram para a adolescência e foram descobrindo novos prazeres graças à visão celestial de Marilyns, Saras, Brigites, Claudias e tantas “deusas” que me acodem à lembrança. Não falando das segundas sessões (só para espectadores especiais) que mediante o pagamento de 2$50 e a partir da uma da madrugada lhes eram proporcionados os agora chamados”vintage”.
Sobre o Peças já por mais de uma vez aqui escrevi e salvo erro foi talvez o primeiro texto por mim escrito a ser colocado no Alandro al e ainda hoje (com regresso para o próximo mês) aqui é colocada semanalmente a rubrica “Domingos Maria Peças” no qual é aconselhado um filme recente.
Mas se hoje falo do Domingos Peças é porque a leitura de um texto do Expresso desta semana ao qual foi dado o nome Recuperado anuncio inédito com Vasco Santana, faz referência à Lei dos CEM METROS imposta pelo Estado Novo, que tinha obrigatoriamente que proceder à apresentação de películas estrangeiras (os cem metros de comprimento da bobina correspondem a quatro cinco minutos de duração, no formato de 35mm, típico da época).
Se estão lembrados chamávamos-lhe os documentários, e neles eram apresentados sempre o Jornal Nacional, produção do SNI e que servia de propaganda ao Estado Novo, a par com historietas dos TRÊS ESTAROLAS, DO BUCHA E DO ESTICA e de actividades desportivas onde o Ski imperava.
Vem tudo isto a propósito de “UMA DESCOBERTA” do Peças, que desencantou um cavaleiro a tourear um toiro, e que se afirmava: ou ser do Alandroal, ou familiar de gente do Alandroal, mais propriamente da Dona Matilde, pessoa muito conceituada na terra, possuidora e uma pensão, onde agora se situa a Caixa de Crédito Agrícola, familiar do meu amigo João Ribeiro.
Pois tal película não tinha a duração de mais de, dois, três minutos, mas bastava o anúncio pelas ruas do Alandroal que a mesma ia ser projectada na sessão da noite para a casa esgotar.
Chama-se a isto bairrismo e do melhor.
Alguém está lembrado?
E por acaso sabem ou lembram-se quem foi o Padoca?

Xico Manel

5 comentários:

Anónimo disse...

O Chico Manel tem uma memória fantástica. Já se sabia e todos os dias se confirma.
Dos filmes eu recordo a actuação do Jeff Chandler, cowboy exímio em muitos filmes. Das mulheres havia a Silvana Mangano e a Marujita Dias que nos encantavam apesar de miúdos.
Outros actores sempre esperados (e recebidos com umas pedradas) eram as osgas que subiam pela parede branca onde eram projectados os filmes. Isto na esplanada em frente à porta do castelo e da igreja matriz.
Obrigado pela recordação.MSubtil

Anónimo disse...

Terminou o período de reflexão. Quem foi o Padoca?

Anónimo disse...

O MSubtil escreveu um dia "encontrar Amigos é uma Festa", e eu sublinho, recordar pontos de encontro é uma Festa acrescida.
O ir ao cinema era realmente uma festa. Começava logo com a musica a anunciar o cinema, Quem não se lembra dos boleros e dos tangos "Um
Tango á Média Luz", do "Beija-me, Beija-me Muito" melodias ainda hoje agradáveis a qualquer ouvido.
Maria Peças sabia cativar.
O cinema francês relança Victor Hugo em "Os Miseraveis" onde o pratagonista e anfitrião de dois rapazes é roubado por estes, que veem a se apanhados e levados a sua presença. Acabam por ir em Liberdade levando os castiçais roubados.
O cinema italiano floresce com os nomes do Gina lollobrigida, Sophia Loren, Amadeo Nazareth, Carlos Ponti, na comédia e no drama.
O mexicano brinda-nos com as serenatas de Pedro Infante, á Sara Montiel. Quem não se lembra da imortalizada canção do raminho de Violetas.
Aparece Cantiflas, actor que comparo com o nosso querido António Silva, na fina e delicada maneira de apresentar.
Penso que o cinema português atinge o seu ponto maximo, com a comédia o "Pateo das Cantigas", com o maravilhoso trio António Silva, Vasco Santana e Ribeirinho. Tive a oportunidade de ver este último no Parque Mayer, na peça A Cidade não é para Mim, onde contracenava com Humberto Madeira,
E falando do cinema português terei que falar de José Salomé, alandroalense, que serviu de figurante, en cenas do "Quo-Vadis", onde fazia cair o cavalo, que ele próprio cavalgava.
Cantiflas em o Senhor Doutor parodiou os Hospitais, pela rigidez das dietas e a frigidez da seu pessoal. No "Embaixador" ridicularizou os politicos, em discursos e condecorações. A determinada altura e esgotadas as medalhas, volta-se para o lado e pede dinheiro em moedas de baixo valor, continuando a condecorar as altas individualidades.
Pergunto, não haverá por aí muita gente, que merece ser condecorada com estas últimas medalhas?
Obrigado.
Helder Salgado.

francisco tátá disse...

O Padoca era o "ajudante" do Peças.
Era ele que "arrumava" as cadeiras de ferro na Esplanada dos Casarões, que esticava os fios e subia ao muro para colocar as "cornetas" do som.
Outra curiosidade era o pessoal levar as cadeiras de casa, ou um banquinho sendo assim o bilhete mais barato. A gaitagem sentava-se em bancos corridos mesmo em frente do ecran.

Unknown disse...

estou á procura do filme drama no arrozal e não consigo obter nada a não ser no seu blog qual era o ano do filme?não sei se dá para responder se der o meu mail é mbelaspagani@gmail.com
obrigada