segunda-feira, 11 de agosto de 2008

DESAFIO

Colaborador esporádico do nosso blogue, o “Vizinho”, fez-me chegar estas magníficas fotografias que retratam profissões, cada vez mais, em vias de extinção.
Em presença das mesmas, e porque lhes encontro uma beleza rara, “deu-me” para vos lançar um DESAFIO.
Vai sendo altura da rapaziada da minha geração e da minha terra deixarem de se desculpar com os medos desta coisa da Net, deixarem-se de preconceitos ou medos de colocar comentários, assumirem que por aqui passam frequentemente. Pois bem deixo-vos o desafio: em presença das fotos, façam um esforço de memória e relembrem nomes de conterrâneos que foram grandes nos seus ofícios, da maneira como os executavam de histórias marcantes que os fazem permanecer na nossa memória.
Tenho a certeza que mesmo não tendo a coragem de exprimir o que lhes vai na alma, quando olharem a foto do Merceeiro se irão recordar do Tacão, do Arnaldo, do Bernardino…o mesmo quando olharem o Sapateiro lhes vai avivar a memória e lembrar o Adriano, o Morcela o Mestre Nuno… e os Barbeiros? Quem não recorda o Sopa, o Barradas, o Zé da Rissa…. Infelizmente esqueceu-se o fotógrafo de incluir Aguadeiros, Pinceleiros e Hortelãos, ( orgulho-me dos meus avós que desempenharam estas profissões).

E os jovens? Não sentem curiosidade em saber se algum antepassado exerceu uma profissão destas? Recordam-se de algum nome? Conhecem alguém que ainda hoje tenha o seu ganha-pão exercendo estes ofícios?
Talvez a curiosidade lhes faça perguntar aos pais, aos avós se recordam alguém.

Para os restantes visitantes, que fazem o favor de por aqui passar, tenho a certeza que a memória se lhes vai avivar, e recordar algum amigo, alguma história, uma obra…enfim um nome.

(Por hoje coloco três profissões… mas vai haver mais… por favor guarde na memória o que se pretende, colabore, porque esta “lenga-lenga”, já não vai aparecer.)



6 comentários:

Anónimo disse...

Ao ir lendo este artigo tive a sensação que não se falava dos ferradores.
Alegrei-me quando vi a fotografia.
Recordo os ferradores do Concelho.
O mestre Zeverino, o mestre joão Salomé, do Alandroal; o mestre Carmona, de Santiago Maior; o Mestre Peças, de Terena e o Mestre Salgado do Alandroal e depois de Terena.
Tambem eu fui ferrador sem chegar a Mestre.
O mestre Zé Salgado aprende o oficio no Alandroal, serve a tropa como ferrador, estabelece-se em Terena, onde toma conta da oficina do Mestre João Charrua, que prefere ser guarda-rios.
Ainda prego algumas ferraduras.
O que apresentava grande dificuldade, agora no Verão, era o corte dos cascos, por vezes eram amolecidos em surpilheira previamente molhada, assim como estar a forja, a dar ao fole e a tirar o espumalho (escória).
Ainda conheci o Mestre Zeverino, alto e seco, a sua oficina, se a memória não me falha, era onde hoje é o café Muralha. Contactei muitas vezes com o Mestre João Salomé, homem calmo. Vi, algumas vezes passar a Terena, o Mestre Carmona, já curvado e sempre no carro de varais puxado por um cavalo.
O Mestre Peças, meu tio, o Mestre Salgado, meu pai, ambos meus mestres, não só no oficio de ferrador, mas em lições de vida, de comportament e de carácter.
Deslocavamo-nos aos montes.
No Rosário ao Monte das Bolhas e aos Apostolos propriedades dos irmãos Bexigas.
A santa Clara do Semedo, do Caramelo.
Das Bolhas recordo o tio Quica, os irmãos Guerra e o cozinheiro, o Esbaronda, que fazia uns grãos de azeite que hoje ainda recordo.
Dos Apostolos o Xico Amador, de alcunha o "está Quieto", que um dia, um cavalo a meio de ferrar, lhe esfacelou a mão esquerda e uma mula que dava leite.
Trabalhava-se, nessa altura, de Sol a Sol e aos sábados. A manhã de Domingo era para ferrar as bestas.
Os ferradores, tais como os sapateiros folgavam às Segundas-Feiras. Foram os meus principios, o começo de vida, que enalteço e não renego.
À rudeza destes homens, à sua frontalidade, aos seus bons costumes, devo um pouco, aquilo que sou e, por isso, lhe tenho prestado, públicamente, homenagem e gratidão em frases como "mãos calejadas pelo rabo da charrua ou pelo varejão" ou "aos homens honrados da minha terra".
Perdoem-me o alongamento.
Deixem-me ainda recordar o irrequieto Adriano, o Arnaldo e a barbearia do Barradas.
Um dia, meio rapaz meio homem, fui fazer a barba, que ainda hoje são poucas e nassa altura muito menos. Ora o meu primo o Narciso, (juiz da fome) leva-me os pêlos de uma só redada e pergunta-me se queria álcool sublimado, sabia lá o que aqulo era, o que é certo é que levei um chapadão de àlcool na cara, que me fez dar um salto na cadeira. Comprei uma navalha de barbear marca Bismark, que ainda tenho e numca, que hoje ma lembre, fiz a barba em barbearia.
O Adriano era a alegria em pessoa, o Alnaldo, o agitador nas noites de cinema Peças, quer na Sociedade ou no Arquiz, onde o Becas, Desidério e companhia, faziam sempre uma perninha. O Arnaldo, á saída do cinema ordenava "vamos levar o Helder ao Choupal" aludindo aos seculares chopos, que se situavam no final da Rua Dr Manuel Xavier Rodrigues, e logo um grupo de quatro ou cinco rapazes se dispunham a acompanhar-me.
São estes, entre outros, os grandes momentos que solidificam amizades, projectam-nos para a vida e nos vão afirmando como Homens.
São as andanças da vida, Raízes com Tronco e Copa.
Helder Salgado

Anónimo disse...

Em maré de recordações acrescento algumas tarefas que se perderam: o temido Capador e o Tosquiador, havia-os em todas as terras, além do Matador dos porcos, do que fazia a aplicação das bichas (sanguessugas), do expert em arrancar dentes, fazer sangrias ou endireitar ossos, quem fazia os desmanchos (agora são abortos, etc.etc.
Para alegrar as ruas vinham: o chinês com gravatas numa régua pendurada ao ombro, vendedor de esticadores para os colarinhos, o homem que comprava o ferro velho e os alumínios, o pregador (protestantes lhes chamavam), os titeriteiros, etc.
Cumprimentos. MSubtil

francisco tátá disse...

Obrigado Helder pelo teu comentário.
Era isto mesmo o que se pretendia: recordar nomes de grandes HOMENS, homenagear os seus ofícios, recordar as suas histórias.
"ELES" foram vrdadeiros MESTRES não só no desempenho das suas funções, como nos ensinamentos que nos deixaram.
Um abraço
Chico Manuel

Anónimo disse...

Talvez lembrar tambem o engrachador,o abegão o carpinteiro, o latoeiro o amolador efim tantos outros que por cá passaram alguns dele ainda me recordo (embora a idade não seja assim tanta)O hortelão que o meu pai foi durante longos anos e a quem presto homenagem.

Um abraço Claré Jr.

francisco tátá disse...

Subtil: subtil o teu comentário. "esta" do vendedor de gravatas, dos esticadores para os colarinhos é de MESTRE.
Claré: Eu disse que tinha mais e vão aparecer muitas das que tu fazes referencia.
Obrigado pela compreensão
Um abraço
Chico

Anónimo disse...

Mas temos de acrescentar o Vendedor da Banha de Cobra (com uma mala de cartão onde trazia a cobra Joaquina que nunca mostrava, é claro), os caleiros (que também traziam carvão, os paneleiros do Redondo (cada um com vários burros com alforjes cheios de palha e panelas de barro). Figura típica de aldeia era também o pregoeiro (alguém a quem se pagava para nos cruzamentos gritar anúncios que podiam ir de uma jóia ou carteira perdida, à oferta de bacorinhos em determinado monte, etc. Nunca mais o mundo será como dantes. MSubtil