sexta-feira, 25 de julho de 2008

POESIA NO AL TEJO



ALEIXO PARA DIZER UMAS VERDADES

A ninguém faltava o pão
Se este dever se cumprisse:
– Ganharmos em relação
Com o que se produzisse.

Entre grandes e pequenos
Ficávamos quase iguais,
Dando a uns um pouco menos
E a outros um pouco mais.

Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da Nação...
Vendo jogo, guardo gado,
– Só me falta ser ladrão!

Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

Havia p'ra aí "um graxa"
Que era muito meu amigo:
Agora engraxa sem graxa,
Já não se fala comigo.

Vai subindo lentamente,
Só assim serás alguém,
Que quem sobe de repente
Poucas vezes sobe bem.

Diz tudo quanto quiseres,
Mas eu, p'ra te ser sincero,
Daquilo que tu disseres
Só acredito o que quero.

Nas muitas quadras que canto
Procuro, mas não consigo,
Uma só que diga tanto
Como em todas elas digo.

A arte é força imanente,
Não se ensina, não se aprende,
Não se compra, não se vende,
Nasce e morre com a gente.

Na sociedade dos ricos,
Forçado pela vaidade,
Há quem faz do cu três bicos
P'ra entrar na sociedade.

Mas que inteligência rara!
E julgas-te uma competência!
Nem sei como tens cara
P'ra ter tanta inteligência!

Doutores nobres e ricos,
Homens de grandes valores!...
As criadas – aos penicos,
Também lhes chamam "doutores"!

Uma mosca sem valor
Poisa, c'o a mesma alegria,
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.

A rica tem nome fino,
A pobre tem nome grosso;
A rica teve um menino,
A pobre pariu um moço!

Riem d'outras com desdém
Certas damas bem vestidas;
Quantas, para vestir bem,
Se despem às escondidas!

Quantos moços elegantes
Vestem como todo o esmero!...
No vestir são uns gigantes,
No saber não valem zero.

Fazem a mesma figura
Homens que vestem bons fatos;
Quando lhes cheira a gordura,
Caem também como ratos.

Se o hábito faz o monge
E o mundo quer-se iludido,
Que dirá quem vê de longe
Um gatuno bem vestido?

Neste mundo, onde sobejam
Os homens de pouco siso,
Talvez os malucos sejam
Os que têm mais juízo.

É menos parvo, a meu ver,
O que o é, sem que se veja,
Do que aquele que, sem o ser,
Se faz parvo, sem que o seja.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!

Num mundo de imperfeições,
Aos tortos chamam direitos,
E aos poucos que são perfeitos
São tidos por aleijões...

...E assim, lição por lição,
Que a pouco e pouco aprendemos
De outros – a outros daremos,
Que a muitos outros darão!

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