quinta-feira, 12 de junho de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Amabilidade da : http://www.dianafm.com/

What a wonderful World

12-Jun-2008
Os dias que passaram foram prenhes de acontecimentos preocupantes, que mostraram a todos os que se preocupam com os que os rodeia como é frágil a existência de algumas certezas. A certeza de que o supermercado mais próximo terá sempre o produto alimentar que procuramos ou a certeza de que a bomba de gasolina terá sempre à disponibilidade o liquido que alimenta as viaturas que temos a certeza serem imprescindíveis para o nosso dia-a-dia. Como consequência de uma paralisação promovida por empresas de transportes, os portugueses correm o risco de deixar de aceder a bens essenciais sem os quais já não sabem viver. Trata-se de uma paralisação impulsionada por empresários do sector, que pretendem ajudas específicas para ultrapassar a crise provocada pela escalada de aumentos do preço do combustível e não de uma greve, como a comunicação social a tem, de forma ligeira, apelidado.
Concebem a mesma condescendência, por parte do governo, se fossem trabalhadores por conta de outrem a paralisar um sector estratégico da economia para defender direitos conquistados ou para reivindicar aumentos salariais? Após um longo processo negocial, os ministros do trabalho da União Europeia chegaram a acordo sobre a possibilidade de estender o horário de trabalho até às 65 horas semanais. Se a proposta passar no Parlamento Europeu, já imaginaram o que vão fazer ao tempo que vos vai sobrar depois de trabalharem, dormirem e comerem? É preciso pensar bem e estabelecer prioridades. A proposta é tão má que leva o eurodeputado socialista espanhol Alejandro Cercas a afirmar que “… o acordo cria um clima de insegurança completa para milhões de trabalhadores, através de horários sem garantias nem limites”. O próprio PSOE de Zapatero já anunciou que irá lutar abertamente contra o acordo. Esperamos para ver se o secretário-geral do PS português fará o mesmo anúncio. Em S. Pedro do Sul a empresa municipal que gere as termas é acusada de ter uma prática discriminatória na selecção de pessoal, ao questionar as candidatas sobre a sua qualidade de lactantes. Ou seja, se estiverem a amamentar os filhos e pretenderem usufruir das duas horas diárias que a lei lhes confere serão convencidas a desistirem da candidatura. Se esta for de facto a prática da empresa municipal, poderemos afirmar que o município de S. Pedro do Sul está na vanguarda da luta contra as vantagens da amamentação. Ao Presidente da República fugiu-lhe a boca para a sinceridade e referiu-se ao 10 de Junho como o dia da raça. Foi um magnífico regresso ao passado aproveitado e saudado pelos movimentos de extrema-direita. Como não se explicou nem se desculpou pela afirmação, sabemos que não se tratou certamente de um lapsus linguae e ficámos sem saber de que raio de raça é o homem. Falta de alimentos nos supermercados, bombas de combustível vazias, possibilidade de horários de trabalho de 65 horas, empresa municipal que discrimina mulheres que amamentam, um Presidente que quer comemorar um dia da raça. Felizmente que os nossos milionários da bola ganharam os dois primeiros jogos do Europeu para podermos ficar tranquilos. Se tivesse poder de decisão sobre a canção a emitir a seguir a esta crónica, não teria dúvidas em pôr-vos a ouvir a voz do Armstrong e o magnífico tema What a Wonderful World.
Até para a semana
Eduardo Luciano

Sem comentários: