quinta-feira, 10 de abril de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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O tempo

10-abr-2008
Na semana passado o sol brilhou e as temperaturas subiram, possibilitando o arejar do guarda-roupa primaveril e colocou no rosto de muitos e muitas um sorriso optimista. Gente que andava triste a acabrunhada de repente foi banhada por um optimismo que já não se via há muito. Gente que não se falava começou a tagarelar nos espaços de convívio físicos e virtuais, de forma animada, como se o sol que brilhava lá no alto se tivesse transformado na luz ao fundo do túnel que permitia caminhar no sentido do abandono da escuridão.
É curioso como um pouco de sol consegue transformar gente derrotada em alavanca de projecto vencedor, como uma subida de temperatura é suficiente para gerar crenças em alternativas para uma vida diferente na cidade. Nunca, nos últimos seis anos e meio, se viu tanta gente diferente junta em torno de uma ideia comum. E tudo isto apenas porque a primavera se anunciou de forma gloriosa e o povo acreditou que vinha para ficar. E tinha razões para tal. Nada fazia prever mudanças meteorológicas bruscas, tudo apontava no sentido do reforço desse caudal de calor que ia aquecendo o coração de cada vez mais gente. Mas o tempo é mesmo assim. Imprevisível. Começou a ficar cinzento e de repente a chuva voltou e a temperatura caiu a pique. Apesar disso e do regresso da roupa de Inverno, continuei a ver nas pessoas um ar satisfeito como que a dizer, são apenas as chuvas de Abril e mais cedo que tarde o sol aí estará para continuar a mobilizar mais gente que quer viver a cidade e as suas culturas longe de lógicas centradas apenas no lucro e na suposta sustentabilidade económica. Ontem as condições meteorológicas agravaram-se, levantou-se um tal vendaval que varreu as ruas da cidade, levando tudo pela frente, impedindo os fumadores de tabaquearem à porta dos empregos e fazendo rodopiar alguns papéis que se vão encontrando pela cidade. Os cidadãos que o sol tinha trazido para a rua, que se tinham animado em torno da chegada da primavera, começaram a ficar apreensivos. É que o vento costuma ter um efeito desorientador nas pessoas. Caminhamos com mais dificuldade e quando é muito forte parece até que nos desarruma as ideias, que nos desconcentra. Há dias em que o vento é de tal forma forte que mudamos inesperadamente de rumo, surpreendendo aqueles que nos esperavam em determinado ponto para retomarmos o caminho da luz ao fundo túnel. Este tempo, meus amigos, é do “caraças”. Mas também não é preciso desanimar, a primavera e os dias quentes chegarão inevitavelmente. Peço desculpa por ter feito uma crónica sobre o tempo, mas há dias em que um homem ou fala disso, ou ainda se arrisca a dizer coisas que quer.
Até para a semana
Eduardo Luciano

1 comentário:

Dina disse...

Bem não diria que esta é uma mera crónica sobre o tempo... será antes sobre a descrença e o desânimo invernais, e a renovação da esperança que a Primavera, (concordo plenamente consigo!) inevitavelmente traz!
E isto é verdade, metereológicamente falando e, num sentido metafórico, pessoal, política e socialmente também!