Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Crónica de Eduardo Luciano
03-Apr-2008
A questão da criação de uma Empresa Municipal para gerir alguns equipamentos socioculturais (o termo é da responsabilidade da empresa que produziu o estudo), tem agitado as águas mornas em que a política local costuma estar mergulhada. Desde logo porque é anunciada com um determinado fim e pela leitura do Relatório Final apresentado pelos autores do estudo se verifica que afinal irá servir para muito mais. De facto, a tal empresa vai influenciar decisivamente toda a política cultural para o concelho, condicionando opções e apontando caminhos que, na minha opinião, contribuirão para o empobrecimento da oferta de cultura, substituindo-a pelo conceito de entretenimento mais ou menos acéfalo. Da leitura dos pressupostos que estão base da criação da empresa, podemos facilmente concluir que tipo de cultura será oferecida à cidade.
Vejamos apenas um dos pressupostos. Não fazer espectáculos que não assegurem massa crítica de espectadores e suficiente receita de bilheteira para a cobertura dos custos. A cumprir-se tal pressuposto, todos as manifestações culturais, que não se enquadrem nesta lógica de dar ao povo o que povo aprendeu a gostar na televisão, serão irrealizáveis. Que tal lógica seja aplicada à Praça de Touros, não é coisa que me incomode particularmente, mas aplicá-la aos outros espaços previstos no estudo é que me parece verdadeiramente fantástico. Que eventos culturais se realizarão no Convento dos Remédios que assegurem a tal massa crítica de espectadores? E no Palácio D. Manuel? E nas Igrejas de S. Vicente e S. Sebastião ou até no próprio Teatro Garcia de Resende? Podemos olhar para o estudo do ponto de vista meramente técnico e concluir que parte de pressupostos errados, de expectativas erradas, que manipula números impossíveis. Mas ainda que o estudo fosse perfeito, Ainda que as contas batessem certas. O que está de facto em causa é a implementação de um política cultural que transformará Évora num mero entreposto de entretenimento com coisas fantásticas como o Vivo Gordo e outras maravilhas da cultura. Foi disso que se aperceberam mais de setecentos cidadãos que subscreveram a petição online Defender Évora cidade de Cultura. Quem diria que as questões culturais conseguiam colocar um conjunto de pessoas dos mais diversos campos políticos, áreas de actividade e idades, de acordo com uma plataforma comum: a ideia de que esta cidade só se afirmará pela sua diversidade cultural, com os agentes locais a contribuírem decisivamente para esse fim. É gratificante verificar que gente ilustre que normalmente está em campos diferentes se une para o essencial. Sei que é pouco modernaça esta ideia de Évora Cidade de Cultura. Dito assim e sem a palavra negócio que é escrita dezenas de vezes no estudo de viabilidade económica e financeira da empresa. Mas parece ser mobilizadora. Talvez não fosse mau a Câmara Municipal arrumar o estudo na gaveta, conversar com os agentes culturais locais, definir com eles uma estratégia de intervenção coerente que privilegie a diversidade e aproveite a capacidade instalada, que é muita e de qualidade. E como bónus, uma vez por outra, podem trazer o Vivó Gordo e Herman à Praça de Touros.
Até para a semana
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