quarta-feira, 2 de abril de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

http://www.dianafm.com/

Crónica de Hélder Rebocho

02-Apr-2008
O vídeo publicado na Internet contendo as imagens de acesa disputa pela posse de um telemóvel, em que são protagonistas uma professora e uma aluna de uma escola secundária do Porto, lançou amplo debate na opinião pública sobre a indisciplina nas escolas, afinal, uma realidade há muito constatada, mas insistentemente desvalorizada, em nome dos tão propalados direitos dos alunos. E são hoje tantos esses direitos, que os alunos e os seus encarregados de educação por vezes esquecem que também têm deveres. É assim em Portugal, neste país onde colocar trancas na porta depois da casa roubada, ainda vai sendo solução recorrente para muitos problemas.
As tristes cenas, cuja revelação, curiosamente, apenas foi possível pela conjugação de um telemóvel que as captou e da Internet que as divulgou, em si, nada têm de único ou de exemplar, repetindo-se em praticamente todas as escolas deste país, de norte a sul, constituindo apenas mais um episódio, entre tantos outros, que não são do conhecimento geral porque não são gravados para a posteridade. Aquilo que se passou no Porto não deveria ser novidade para ninguém, basta atentar na quantidade de testemunhos de professores, que relatam situações do mesmo género e em cenas idênticas, igualmente publicadas na Internet, para concluirmos que a indisciplina dos alunos não é um problemas novo e que aquilo que se passou no Carolina Michaelis não é um caso único. Mas afinal de quem é a culpa? A resposta é evidente, pelo menos para quem não usa o método da avestruz. Sucessivas reformas falhadas do ensino, excessivo e incompreensível proteccionismo dos alunos, que já nem sequer reprovam, porque beneficiam de passagens “ automáticas”; o novo estatuto do aluno; a desautorização dos professores e a ausência de regras de educação impostas pelos pais, são alguns dos ingredientes que têm contribuído, de forma determinante, para a indisciplina escolar. Se é verdade, que o poder político tem a sua quota de culpa no laxismo em que caiu o ensino, não é menos verdade, que os pais e encarregados de educação são os maiores responsáveis dos comportamentos energúmenos dos seus filhos. As regras básicas da boa educação e do respeito pelos outros não se aprendem na escola, mas em casa, no ambiente familiar, com bons exemplos, imposição de regras e disciplina. O grande problema é que muitos pais, embrenhados na absorvente vida profissional e social, norteada pelas implacáveis regras da concorrência, acabam por descurar a educação dos filhos, compensando a ausência do verdadeiro desempenho das funções parentais, com a satisfação de todas as vontades e caprichos. Por outro lado, têm também a tendência de delegar o papel principal da educação dos filhos, nos educadores, professores ou monitores, esquecendo que estes devem complementar a acção dos pais e não substitui-la. O resultado está á vista. A aluna em questão e outros da mesma estirpe, transportam para a escola a ausência de valores que trazem de casa e revelam perante os professores as lacunas da deficiente formação que os pais, por falta de preparação ou de tempo, acabam por lhes transmitir. Na época do primado do aluno sobre o professor, em que aqueles têm cada vez mais direitos e menos deveres e estes cada vez menos direitos e mais deveres, parece difícil restituir à escola a sua função disciplinadora. Se já não é possível regressar a outros tempos e voltar a dar à régua e à palmatória a sua função disciplinadora, porque a nova pedagogia o desaconselha, pelos vistos mal, não resta outra alternativa que não seja aquela que a professora do Porto adoptou. Na verdade, o recurso aos tribunais, afigura-se como a única alternativa para fazer muitos alunos entender que enquanto cidadãos, têm responsabilidades sociais, têm direitos, mas também têm deveres a cujo cumprimento estão inevitavelmente vinculados. As queixas-crime apresentadas pela professora, se outra virtude não tiverem, pelo menos que sejam úteis para demonstrar a esta aluna e a todos os outros, encarregados de educação incluídos, que a impunidade não é absoluta. Antes agora que mais tarde, porque como diz a sabedoria popular, -“ de pequenino é que se torce o pepino”.
Hélder Rebocho 02.04.2008

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