quinta-feira, 6 de março de 2008

POESIA NO AL TEJO

Caldeirada - Poluição

Alberto Janes

Em vésperas de caldeirada o outro dia,
Já que o peixe estava todo reunido,
Teve o goraz a ideia de falar à assembleia
No que foi muito aplaudido.

"Camaradas", principia, "a ordem do dia
É tudo aquilo que for poluição
Porque o homem que é um tipo cabeçudo
Resolveu destruir tudo pois então

E com tal habilidade e intensidade
Nas fulgurâncias do génio
Que transforma a água pura numa espécie de mistura
Que nem tem oxigénio!"

"E diz ele que é o rei da criação
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser!
Mas a minha opinião", diz o pargo capatão,
"Gostava de lha dizer."

"Pois se a gente até se afoga",
Grita a boga, "por o homem ter estragado o ambiente!
Deu cabo da criação esse pimpão
E isso não é decente!"

Diz do seu lugar "'tá mal!", o carapau,
"Porque por estes caminhos
Certo vamos mais ou menos ficando todos pequenos
Assim como os 'jaquinzinhos'."

Diz então o camarão a certa altura:
"Mas o que é que nós ganhamos por falar?"
"Ó seu grande camarão", pergunta então o cação
"Você nem quer refilar?"

"Se quer morrer", diz a lula toda fula
Com a mania da cerveja e dos cafézes,
"Morra lá à sua vontade, que assim seja
Para agradar aos fregueses."

Diz nessa altura a sardinha p'rá tainha:
"Sabe a última do dia? A pescadinha já louca
Meteu o rabo na boca
O que é uma porcaria!"

"Peço a palavra!", gritou o caranguejo,
"Eu que tenho por mania observar
Tenho estudado a questão e vejo a poluição
Dia e noite a aumentar.

Cai do céu a água pura
E a criatura pensa que aquilo que é dele é monopólio
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!

A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio
Se um dia lhe deito o dente
Pago tudo de repente ou eu não seja crustáceo!"

"É um tipo irresponsável", grita o sável,
"O homem que tal aquele
Vai a proposta p'rá mesa: ou respeita a Natureza
Ou vamos todos a ele!"

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