quinta-feira, 6 de março de 2008
CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM
Sinais dos tempos
06-Mar-2008
Por momentos, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro na Assembleia da República, regressei à infância e aos conflitos no recreio supervisionados pela D. Adélia. O que me levou a recuar 40 anos, foi a cena hilariante da troca de impropérios entre Paulo Portas e José Sócrates, afirmando o primeiro que não tinha medo do segundo e ripostando o segundo que não tinha medo do primeiro. Fiquei na expectativa para saber quem se atreveria a avançar com as conhecidas interpelações “queres alguma coisinha” ou “vamos lá para fora”. Não aconteceu, mas não deixa de ser sintomático do nível dos intervenientes que, sendo supostamente adultos, se portaram como crianças na disputa pelo território da brincadeira.
Alheados destas cenas, assistimos a diversas manifestações de professores por todo o país exigindo respeito pela sua função e capacidade de diálogo por parte do poder. Umas centenas nuns sítios, uns milhares noutros, viram-se nas ruas profissionais da docência que nunca se tinham manifestado ou feito greve. A comunicação social ia dando conta de testemunhos de gente que se assumia como militante do partido do governo e que, apesar desse facto, estava na rua. Desta vez, o primeiro-ministro resistiu à sua já habitual tentação de catalogar como comunistas todos os que se manifestavam. Em Évora a mobilização surpreendeu toda a gente, a começar pelos promotores da manifestação que não estavam à espera de uma resposta tão massiva por parte dos professores. Quem conhece a cidade sabe que juntar duas mil pessoas na Praça do Giraldo não é tarefa fácil, nem para assistir a espectáculo gratuito. Toda esta mobilização tem um significado muito claro, quer pelo número de participantes, quer pela sua pluralidade: o descontentamento é real, com causas concretas que tocam as pessoas e não obra e graça de qualquer manipulação de sentimentos difusos e muitas vezes confusos. O que está em preparação, por parte dos professores, para o próximo sábado em Lisboa ficará como um marco na contestação às políticas deste governo para a educação. Alguém me dizia que, em Coimbra, por exemplo, começavam a existir dificuldades em encontrar autocarros disponíveis para alugar. No passado sábado o Partido Comunista promoveu uma manifestação (o que nunca tinha acontecido nos últimos trinta anos) em defesa da liberdade e da democracia, aproveitando para cumprir o requisito legal de demonstração da existência de mais de cinco mil militantes. Foram perto de cinquenta mil que exibiram o cartão de militante à passagem pela porta do Tribunal Constitucional. É certo que estava fechado, mas o tribunal não pode ignorar este facto público, notório e documentado. Na Anadia a população voltou a sair à rua para exigir a reabertura do serviço de urgência, mostrando claramente que a mudança de ministro de nada serve se as políticas se mantiverem. Apesar de tudo isto, segundo um estudo da Agência Europeia do Ambiente, Portugal é o país da Europa onde menos se anda a pé, percorrendo cada português, em média, por ano, 342 quilómetros. Estou convencido que mais uns tempos deste “espírito reformista”, que acha que as reformas se fazem contra as pessoas e não com as pessoas, e rapidamente o estudo daquela agência europeia ficará desactualizado.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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