sexta-feira, 14 de março de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM (DUAS)

Vale sempre a pena lutar

13-Mar-2008
Quem produz crónicas para serem difundidas pela rádio ou impressas em jornal, expõe-se inevitavelmente aos comentários de quem lê ou ouve. Sempre assim foi e ao aceitar dar a voz pelas minhas opiniões sabia à partida ao que me estava a arriscar. Com as facilidades proporcionadas pela existência da Internet, como rede global de informação, o que é aqui dito é reproduzido em diversos blogs e sítios do mundo virtual, acabando por tocar públicos que, em princípio, desconheceriam a nossa existência.
Abordo esta temática porque a reprodução do que aqui digo, num dos blogs da cidade, provoca sempre comentários diversos que muitas vezes se limitam ao insulto pessoal, aproveitando o anonimato para cometer impunemente os crimes de injúria e difamação. Mas nem tudo é mau nos comentários anónimos. Há também quem se preocupe em pegar no que aqui se diz e tente demonstrar o contrário, expondo argumentos razoáveis, embora discordantes, atacando as ideias de forma incisiva mas deixando o insulto de fora. A uns e a outros, agradeço o facto de se darem ao trabalho de comentarem o que digo, porque me dão uma enorme ajuda nesta minha participação cívica. Os primeiros porque, quando leio os insultos, me fazem sorrir e um homem bem disposto acaba por comunicar de forma mais eficaz. Os segundos porque me obrigam a pensar nos seus argumentos e aprendemos sempre com o discurso inteligente dos outros, ainda que deles discordemos. No passado fim-de-semana a manifestação dos professores encheu a Avenida da Liberdade. Cem mil parece ser o número redondo com que todos concordam. Depois das primeiras reacções da ministra que indiciavam uma teimosa persistência, o resultado daquela manifestação de indignação acabou por ser um claro recuo nas posições assumidas pela tutela da educação. Desde logo pela abertura demonstrada pelo Secretário de Estado Jorge Pedreira em encontrar soluções flexíveis para o processo de avaliação e porque, contrariamente ao que tem sido habitual, o ministério mostrou abertura política para dialogar e encontrar soluções que permitam desbloquear a situação existente. O Governo recusa a ideia de estar a recuar e afirma que esta procura de soluções negociadas não se deve em nada à manifestação do dia 8. Mas toda a gente já percebeu, que sem a forte mobilização dos professores nem estes ténues avanços e declarações de boas intenções por parte do ministério teriam acontecido. E por enquanto são isso mesmo. Como afirmou a Fenprof, trata-se de uma luz ao fundo do túnel e só a manutenção da pressão sobre o ministério poderá mantê-la acesa. Apesar da figura da ministra ser um obstáculo ao diálogo, pelos anti corpos que criou junto dos professores, o facto de continuar em funções não deve constituir nenhum sentimento de derrota para os que insistiram na sua demissão e alimentaram a esperança que acontecesse após a demonstração de força do passado sábado. O mais importante foi conseguido: um claro recuo na atitude do governo face à problemática da avaliação. Aguardemos para ver até onde vai. Até pode ser que depois do próximo fim-de-semana tudo volte à estaca zero, se o PS conseguir juntar no Pavilhão do Académico cem mil pessoas para prestar vassalagem a Sócrates. Estava a brincar.
Até para a semana


Crónica de Helder Rebocho

13-Mar-2008
No passado sábado o país assistiu a uma das maiores manifestações das últimas décadas, levada a cabo pelos professores em protesto contra as políticas educativas do governo. Por muito que José Sócrates pretenda desvalorizar a força dos números e privilegiar aquilo que apelidou de “força da razão”, a sua acção governativa não voltará a ser a mesma. A expressão do descontentamento ficou bem patente na esmagadora manifestação protagonizada pelos professores e nem a tentativa de a reduzir a meros números, lhe retira significado.
Para além de ter sido a maior manifestação dos últimos anos em Portugal, revelou outras particularidades que a retiram da vulgaridade do protesto de rua, porque foi protagonizada por cidadãos de todos os quadrantes políticos, excedeu em muito a capacidade de mobilização das estruturas sindicais e mereceu o apoio da maioria da opinião pública. Deixou, por isso, um sinal importante que o governo, embaraçado, pretende ignorar Não deixa de ser verdade que o sentido da governação de um país não pode depender de manifestações, mas também não é menos verdade que esta forma de protesto constitui um indicador que os governos em democracia devem levar muito a sério, sobretudo porque é desta forma que em regra se inicia o declínio dos ciclos políticos. José Sócrates está confrontado com um dilema, porque se ceder aos protestos dos professores e demitir a Ministra da Educação, provocará um abalo irreversível na sua imagem de firmeza, se o não fizer, seguramente que no próximo ano irá pagar uma elevada factura eleitoral. A situação torna-se ainda mais dramática porque a via discreta da remodelação governamental, já se esgotou na resolução dos protestos contra as políticas da saúde. O colete-de-forças que agora limita o Primeiro-ministro e o seu governo foi por eles fabricado á medida, com a falta de diálogo, com a prepotência e a incapacidade de estabelecer consensos sempre necessários quando se pretendem empreender reformas de fundo. Ninguém dúvida que há muito se exigem verdadeiras reformas na educação em Portugal, mas essas reformas para serem eficazes não podem ser idealizadas hoje para entrarem em vigor amanhã, nem podem ser impostas a todo o custo, atropelando tudo e todos. Mas o estilo deste governo é este mesmo, pretende alterar tudo de um dia para o outro, de forma imponderada, sem ouvir a opinião de quem vive o dia a dia da educação, da saúde ou da justiça. O resultado são as reformas trapalhonas, que nascem logo a pedir a sua própria reforma, revelando uma ânsia cada vez mais evidente de mostrar serviço nos últimos meses de mandato e dando sinais de ansiedade próprios de quem sabe que corre cada vez mais contra o tempo, o tempo em que os Portugueses perguntarão pela obra feita, que não existe. Como já não é possível abandonar o autoritarismo e enveredar pelo diálogo será de esperar para breve que renovadas promessas eleitorais tentem apagar os resultados de uma governação autista, geradora da instabilidade económica e social em que o país se encontra atolado e de onde não dá sinais de conseguir sair.
Hélder Rebocho

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