quarta-feira, 12 de março de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM (DUAS)



Uma no cravo, outra na ferradura

10-Mar-2008
"Entre um governo que faz mal e o povo que o consente, há uma certa cumplicidade vergonhosa." Disse Victor Hugo. Consta de uma sondagem recente que a popularidade do partido do governo baixa a fasquia uns pontos mas continua a liderar com um pequeno desafogo. Que a bondade do primeiro ministro também decresce na fatia dos pontos mas, por outro lado, não vê ninguém à sua frente. Que a oposição continua a garantir uma falange de apoio. Os laranjas, da alternância no poleiro, estão um pouco como se habitassem agora num albergue espanhol. Os do partidão continuam coesos no baluarte fortificado. Um núcleo da rapaziada bem pensante e satisfeita continua a alimentar as hostes – mais os votos – do bom Louçã e seus companheiros. Os outros descem ao sabor do débito no casino e a voz melíflua do traquino condutor.
A coisa está preta. Dizem. Diz a dona de casa na agrura do aprovisionamento doméstico. Diz o chefe de família a pedalar o salário no elástico dos dias que não estica até ao fim do mês. Do comum cidadão ao presidente da república, dizem-no os dois. Mais que o que se diz, sente-se. É mais que epidérmico. É urticária forte. Uns quantos, poucos, anafam gordas maquias por dá cá aquela palha de pouco trabalho e muita especulação. Muita especulação e compadrio. Baixos salários, paraísos fiscais e muito cortejamento da máquina pública. Assim engordam umas dúzias de bem instalados por conta própria ou em clima societário. A manada, arrosta com a fava do bolo. A manada é mungida ainda que fazendo cara de poucos amigos, mas é mungida. A manada é usurpada ao som do conto de "Alice no país das Maravilhas". A manada sente-se, porque se tem por filha de boa gente. Refila, mas em tom contido. Não vá o diabo tecê-las e ver-se a ser conduzida por caminhos ainda mais ínvios. Tem medo do dia de amanhã. Um medo ancestral que consta do ADN nacional. Um medo que exorciza desde sempre com a ladainha do que para pior já basta assim. E de qualquer maneira, a manada sempre teve um fraquinho por um dedo bem espetado. Um dedo assertivo - que aparte o paraíso que hoje diz existir, não se vislumbrar – indica com segurança na voz, um futuro pleno de conforto. Aparte os desertores descrentes, a maioria continua seduzida com o pensamento em mamar de um bornal a transbordar um dia destes. Desordem? É possível que um dia destes a rapaziada que por aí se junta manifestando descontentamentos mais que justificados, tome o freio nos dentes e faça um finca pé mais estrondoso. Um finca pé que obrigue o poder a gritar ó da guarda. Agora um levantamento popular à boa maneira dos compêndios da sublevação das massas, não! De forma alguma aqui na terra dos doces costumes isso acontecerá. Lá fora sim, certamente acontecerá mais dia, menos dia. Dado ser impossível continuar a especular o barril de petróleo a 100 dólares e, muito mais grave, a agiotar o trigo a um preço exponencial para a fome. Como é nosso timbre, nessa altura lá apanharemos a onda, ou não. Reza a história que por diversas vezes não tivemos unhas para isso e a coisa teve de cair de podre.
Joaquim Pulga

Má educação?

11-Mar-2008
Confesso que mesmo sendo simpático à classe docente deste País, casei com uma professora, não consigo deixar de defender que, não sendo bom para o nenhuma das partes o extremar de posições, Sindicatos e Ministério da Educação, a reforma que se faz no sector deve ser feita a bem do futuro do País, mesmo que tal custe a maioria absoluta de José Sócrates como já vaticinam alguns fazedores de opinião. Esta dura reacção às política para a educação prende-se com um crescente descontentamento de uma classe que tem vindo a perder, desde as últimas décadas, um estatuto que teve em tempos idos, quando a democracia era apenas um desejo.
O facto é que muita coisa mudou desde então. A democratização do ensino levou à escola milhares de jovens que outrora ficavam de fora e milhares de professores foram precisos para educar tanta gente. Contudo a quebra demográfica travou este crescimento de alunos mas não fez reduzir o número de professores. O descontentamento da classe docente tem muitas variáveis. Somada a diminuição do prestígio da classe, a precariedade, a instabilidade profissional, a crescente exigência da profissão às novas regras de progressão na carreira e ao processo de avaliação obtém-se a reacção possível, a corporativa. Contudo não joga a seu favor o facto de não conhecermos as suas propostas. Fica-nos a ideia, por via do comportamento dos sindicatos, que elas simplesmente não existem. O que até agora ouvimos é o que sempre ouvimos: suspensão, adiamento, aplicação faseada, revogação (porque é esta a visão que têm os sindicatos do seu papel). E com tanta indignação da classe docente em relação às “políticas da Ministra” como ouvimos repetidamente das bocas de anónimos manifestantes, o que sobra espremido para a opinião pública? Que os professores estão contra o facto de serem avaliados. Mesmo e apesar da posição ensaiada dos sindicatos que se está a favor da avaliação do corpo docente mas não da avaliação que se propõe, como está bem de se ver. Admitamos que as declarações de alguns professores nas televisões ou nos jornais são excessivas e que, a não ser que estes sejam sindicalistas, o que normalmente os afasta das salas de aulas por muitos anos, os exemplos que assim dão dificultam seriamente a relação de respeito que tanto exigem ter dos próprios alunos. E aqui a imagem que fica dos professores não é mais responsável que a naturalmente cábula dos seus alunos que desde sempre contestam que o teste devia ser de consulta, que é marcado para uma data que não dá jeito, que a matéria é difícil, e que, no fim, as notas não são justas, etc. Não acredito, como não acredita a Ministra que alguma vez os sindicatos venham a definir um política educativa onde prevaleça o interesse dos alunos. E a prova é dada pela ameaça destes em levar a contestação para dentro das escolas. Por isso defendo que a reforma deve ser levado a cabo por inteiro e, idealmente, sem crispação, o que pede, se possível, a tolerância dos professores. O País precisa deles como o futuro dos seus jovens alunos. É possível estar do lado desta política e ao lado dos professores pela dignificação da sua carreira. Não acredito mesmo é que a solução seja deixar tudo na mesma. Hoje sem conhecimento não há competitividade. Sem competitividade não há crescimento económico. E sem crescimento económico não há futuro. Ora o futuro é coisa que não se adia.
Obrigado e até para a semana.
Francisco Costa

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