
Mais papistas que o papa
28-Feb-2008
Sempre tive a ideia que nas Assembleias Municipais as divisões políticas e ideológicas se encontravam esbatidas pela prossecução do bem comum das populações dos concelhos. Entendo que esse órgão autárquico está muito mais perto do conceito de assembleia de vizinhos do que do conceito de parlamento local sujeito a estratégias políticas rígidas e fidelidades exacerbadas a direcções de bancada telecomandadas. Não significa isto que nas grandes questões que extravasam o interesse concelhio, como são as opções do governo, não se discuta política a sério e não apareçam reflectidas nos discursos das diversas bancadas, as clivagens ideológicas que são normais entre as diversas famílias políticas representadas.
Na Assembleia Municipal de Évora parece não ser assim, por via da atitude da bancada da maioria, sempre fechada a sugestões dos outros grupos municipais, intransigente nas votações de propostas que não tenham como origem a seu próprio partido. A última assembleia é disso um exemplo acabado. Tendo sido apresentadas várias propostas de moções e uma recomendação por parte das bancadas da CDU e do PSD, o partido maioritário apenas acompanhou a votação de uma dessas moções e, ainda assim, apresentando uma declaração de voto onde manifestava a sua discordância com a maioria dos seus considerandos. Poderão estar a pensar que se tratavam de ferozes ataques ao executivo municipal ou ao governo e como tal a posição do partido maioritário não poderia ser outra. Mas de facto não se tratava de nada disso. Uma das moções, apresentada pela CDU, reconhecia as dificuldades financeiras dos bombeiros, tornadas públicas, em pelo menos dois órgãos de comunicação social, e incitava a senhora governadora civil a exercer as pressões que achasse convenientes junto do governo no sentido de dotar os principais devedores dos bombeiros dos meios necessários ao cumprimento das obrigações assumidas. Apenas isto. O caricato da situação é que, tendo alguns eleitos da maioria entendido votar favoravelmente a moção provocando com isso um empate, coube a Capoulas Santos o ónus de a rejeitar usando o seu voto de qualidade. O PSD apresentou uma “moção de congratulação” pelo facto do governo admitir a possibilidade de rever os valores estabelecidos como tectos máximos das rendas que estariam abrangidas pelos apoios ao arrendamento por parte dos jovens. Então não é que a maioria PS votou contra uma moção que se congratulava com uma atitude do governo? Acho que poucas vezes o termo “mais papista que o papa” se aplicou com tanta propriedade como a esta situação e reflecte uma atitude de oposição acrítica em relação a tudo o que não vem do seu próprio umbigo. Não querendo comparar realidades incomparáveis faz-nos lembrar as histórias que nos chegam da Assembleia Regional da Madeira, onde o PSD vota sempre contra qualquer proposta da oposição, chegando ao ponto de a seguir apresentar uma proposta com o mesmo conteúdo, que depois aprova. Nenhum grupo municipal, aqui ou em qualquer outro concelho, está isento de atitudes pouco reflectidas ou sectárias, mas em Évora o fenómeno atinge de tal forma e com tal constância a maioria, que já nem os votos de congratulação por uma qualquer atitude do governo que apoiam, merece o seu voto concordante.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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