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Crónica de Hélder Rebocho
06-Feb-2008
Em política a estabilidade de um governo depende em muito da estabilidade do elenco que o constitui, por regra baseado em escolhas pessoais do primeiro – ministro. Por isso as remodelações governamentais são sempre sujeitas a diversas leituras. Entendem uns que significa o reflexo da escolha da pessoa errada para o cargo errado, para outros é consequência de falta de capacidade ou competência do governante. Há também quem defenda a tese da conjuntura pouco favorável na área da respectiva pasta ou a sucessão de medidas desacertadas. Todas estas leituras têm como denominador comum a culpa directa ou indirecta do Ministro ou Secretário de Estado exonerado e substituído, como se o governo não fosse uma equipa que funciona como um todo. Com a renovação governamental da passada semana que implicou a exoneração de Correia de Campos, o polémico Ministro da Saúde, José Sócrates não teve em vista uma mudança de fundo na política da saúde ou a alteração das reformas em curso. O seu único objectivo foi aproveitar a forma como são interpretadas as remodelações governamentais, para tentar limpar a imagem do Governo a curto prazo. Fê-lo no período de maior contestação, sob pressão, consciente que dentro de um ano o seu trabalho será avaliado nas urnas em eleições legislativas. Esta remodelação tem na sua génese, como principal motivação, não tanto a discordância em relação à actuação dos governantes exonerados ou às políticas e reformas implementadas, mas sobretudo intuitos eleitoralistas. Ao empurrar borda fora os protagonistas mais polémicos do seu governo, José Sócrates tenta lavar as mãos como Pilatos, esquecendo que o fracasso das políticas, seja em que sector for, deve ser encarado e assumido pelo primeiro-ministro e pelo governo como uma responsabilidade conjunta, sem fazer de um ministro o bode expiatório das opções erradas que directa ou indirectamente se reflectem em cada Ministério. Correia de Campos não foi um bom ministro da saúde, mas as medidas que tomou não são da sua exclusiva responsabilidade, são o reflexo e a consequência da das políticas gerais delineadas pelo Governo. A lógica diz-nos que a exoneração de um ministro só faz sentido como sanção pela não prossecução das políticas definidas pelo governo e não o contrário, mas é consabido que a caça aos votos tem o dom de alterar o sentido da lógica. A confiança pessoal que esteve na origem da escolha dos Ministros agora exonerados, sobretudo o da saúde, cedeu perante a necessidade de agradar á opinião pública, de desviar atenções, porque não acredito que a mudança de ministro se traduza numa mudança de política. Por isso, esta remodelação não passa de um retoque de maquilhagem feito com o intuito de melhorar a desgastada imagem do governo junto da opinião pública, preparando-a para a campanha eleitoral que José Sócrates agora iniciou.
Hélder Rebocho 06.02.2008
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