terça-feira, 29 de janeiro de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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A cultura da acção

29-Jan-2008
A imagem que o País tem do Alentejo pode até ser simpática mas não é rigorosa. A ideia de um Alentejo pitorescamente indolente ocupou injustamente o espaço de uma existência dura e de trabalho árduo. Confundiu-se a virtude da paciência com uma complacente preguiça. Esta etiqueta de terra de bonomia pode até, em certa medida, ter sido útil para o imaginário do turista mas nem por isso é mais autêntica. E a serenidade com que o Alentejo aceita este marca é reveladora o seu bom carácter.
Contudo poucos percebem o respeito que o Alentejo tem ao tempo. Mas o assunto merece maior atenção do que esta crónica lhe pode dar. Há contudo uma outra ideia falsa do Alentejo, que, por ser mais vivamente vulgarizada maior injustiça acarreta para os alentejanos, a da sua melancolia da desgraça. Circunstâncias adversas quiseram que a luta que esta terra travou com a ditadura se fizesse substituir pelo fado da pobreza e do destino de um rebelde Sísifo. Hoje, sempre que escuto as vozes proféticas da derrota e da miséria, percebo a nostalgia de algumas velhas ideias, mas de nenhuma realidade. É quase como defender que as coisas voltem ao que nunca foram. Se a fome existiu? Sem dúvida. Se a pobreza desertificou o Alentejo? É um facto. Mas não é nem nunca foi o destino desta terra. Desmentem os que daqui tiveram de partir e os que cá ficaram. Ninguém resignou. Em todas as suas experiências de governação democrática esta terra procurou genuinamente o avanço. Contudo é impossível o progresso sem mudança. O irlandês Bernard Shaw disse certa vez que os que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada. Digo eu que uma certa mentalidade cristalizada dos governantes não acompanhou o progressismo dos governados. E agora justamente se atribuiu a vitória de Alqueva aos alentejanos. Que outra cultura que não a cultura da acção e da confiança permite ao Alentejo, essa concepção abrangente e abstracta, mas feita de gente ambiciosa, trabalhar perseverantemente, para que a sua terra se desenvolva e fixe os que nela nascem e os que para ela correm? A oportunidade do turismo, da agricultura e da tecnologia, adjectivadas de excelência chegam com a Barragem, com a alta velocidade, com os grandes projectos turísticos. Com eles os empregos e a riqueza. Tudo numa moldura patrimonial e natural que se deve preservar. No meio desta cultura de acção e de confiança não deixa de ser imaginoso algum queixume nostálgico de um passado recente desta terra. Tão pitoresco o queixume que não tarda poderá ser produto turístico.

Francisco Costa

1 comentário:

Anónimo disse...

A imagem que os outros País têm de Portugal, não é nada mesmo simpática, e muito menos rigorosa.
E não se esqueçam que o turismo no Alentejo não é tudo... Esperemos para ver! Enquanto houver dinheiro da EU para gastar tudo bem, depois é que vão ser elas, como já aconteceu no tempo dos 10 anos de Cavaco...
E quem vos diz é alguém que está cá por fora e vê bem o que ai se vai passando. É mesmo muito triste.