Uma crónica de Paulo Jaleco do:
Apontamento sobre o Mundial de Rugby
Terminou, há cerca de duas semanas , o Campeonato do Mundo de Rugby, que , apesar de ir ainda na 6ª.edição, já é considerado o 3º. maior acontecimento desportivo do Mundo, apenas suplantado pelos Jogos Olímpicos e pelo Campeonato do Mundo de Futebol.
Esta edição, provavelmente a mais competitiva de todas as que se disputaram, teve para nós portugueses amantes do Rugby, um factor determinante, que nos fará recordá-la para o resto das nossas vidas, e que foi, naturalmente, a presença da nossa selecção. Com efeito, aqueles que, como eu, têm vivido o Rugby como parte integrante das suas vidas, não podem deixar de agradecer aos "Lobos", por terem colocado o Mundo do Rugby a falar de Portugal e Portugal a falar de Rugby.
O contributo que a actuação da nossa selecção teve, no que poderá ser um futuro risonho para o Rugby no nosso País, é inestimável, como se pode comprovar com o crescente aumento do número de atletas e de gente a querer praticar a modalidade. Compete, agora, a quem de direito, criar as condições para estes atletas praticarem a modalidade com as condições mínimas necessárias, em campos adequados, para se poder aproveitar este excelente empurrão.
Acabei há pouco de ler o livro do capitão Vasco Uva, "Hoje é por Portugal", excelente documento acerca da participação da nossa selecção no Mundial, onde relata, entre muitas outras coisas, a emoção que todos sentiram ao ver estádios cheios de gente a apoiá-los e a cantarem entusiasticamente, com eles, o nosso hino, cuja forma como foi sentido, cativou todo o País. Mas esse apoio e reconhecimento, que tanto fizeram por merecê-lo, ultrapassou os estádios e os portugueses, estendendo-se a toda a comunidade rugbística mundial.
Já tive oportunidade, aquando dum anterior apontamento que escrevi para o site do nosso clube, a respeito da viagem a Cardiff, alguns episódios que mostram, de forma significativa, como a nossa selecção conquistou a admiração de todos. Mas a viagem até Toulouse, para assistir ao Portugal-Roménia, que nos fez passar a mim, ao Manuel Couto, ao Bota Luz, ao Luís Pegado, ao Duarte e ao Sr. Maurício, comitiva que constituiu o Clube de Rugby de Juromenha Rugby World Cup Tournée, por Marselha onde assistimos ao Argentina -Namíbia e a Montpellier, onde presenciámos o Austrália-Fiji, veio confirmar grandemente essa ideia.
Foi constante o desejo de nos contactarem para, de alguma forma, elogiar a prestação da nossa selecção, como foi o caso de 2 adeptos escoceses, que conhecemos em Montpellier , após o Austrália- Fiji e que quase nos imploraram por uma camisola de Portugal. 2 dias depois encontrámo-los no Estádio em Toulose, de Kilt e camisola de Portugal, a apoiar os "Lobos"... Esta, como outras manifestações de apoio, foram constantes ao longo dos dias que passámos em terras gaulesas, como a dum grupo de antigos jogadores do Tring R.F.C., clube com alguma tradição em Inglaterra, que me confidenciaram que tinham vindo propositadamente do seu país para apoiar Portugal, por considerarem ser a equipa que jogava com mais coração, fazendo-os lembrar os seus tempos de jogadores. E foi a atitude, forma de viver e de se empregar no jogo que conquistou toda esta gente e, talvez por isso, quando terminou o encontro com a Roménia, ninguém queria abandonar o estádio, pois todos queríamos estar mais uns momentos com aqueles valorosos jogadores...
Em relação a outros aspectos do Mundial, pode considerar-se que teve um justo vencedor, com a África do Sul, única equipa que venceu todos os encontros, a contrariar a maior dose de favoritismo que recaía sobre a Nova Zelândia, selecção que, uma vez mais, claudicou no Campeonato do Mundo, que não vence desde a 1ª. edição em 1987. Foi um grande ano para a África Sul, que viu 2 equipas chegar à final do Super 14, só não conseguindo vencer a Tri Nations Cup, que perdeu para a Nova Zelândia, grande dominadora desta competição. Mas, como referi no início, a intensa competitividade vivida neste mundial, valorizou ainda mais a vitória conseguida pela África do Sul, que teve de trabalhar bastante, por exemplo, para conseguir vitórias sobre Tonga, a quem venceu por apenas 5 pontos, e sobre as Ilhas Fiji. Estas 2 selecções, oriundas do Pacífico Sul, foram as grandes revelações da competição, muito por culpa da alegria que colocam em campo, jogando abertamente de todo o lado. As Ilhas Fiji, que tive a felicidade de ver jogar ao vivo por 2 vezes, em Cardiff e Montpellier, protagonizaram alguns dos encontros mais espectaculares da competição, como foi o caso daqueles efectuados com o País de Gales, que venceram por 38-34 e lhes deu acesso aos quartos de final e , principalmente , com a África do Sul , nos 1/4 de final , naquele que considero o melhor jogo do Mundial.
E, se Tonga e Fiji foram as revelações, a selecção da Argentina foi a grande confirmação, demonstrando com toda a classe a razão do seu lugar no ranking da I.R.B. De certo, nomes como os de Longo, Pichot, Martin Hernandez,Contepomi, Corleto, vão ficar para a história do Rugby, para grande satisfação de todos os argentinos, entre eles os meus particulares amigos Roberto Baez, ele próprio um ex-pumita , e Nestor Velazquez, aos quais me associo no reconhecimento á sua seleccção.
Para terminar, gostava de voltar ao excelente livro do Vasco Uva e reportar-me a uma situação por ele descrita, que ocorreu após o encontro Portugal-Nova Zelândia. Tem a ver com " fair play" e respeito pelo adversário, sempre bem presente nesta competição, e que bem podia servir de exemplo para outras modalidades... Estou referir-me à atitude que os atletas neozelandezes tiveram ao dirigir-se ao balneário da equipa portuguesa no final do encontro, como Vasco Uva descreve: " Assim vieram todos ao nosso balneário para beber um cerveja connosco, conversar um pouco e para a tão esperada toca de camisolas. E deram-nos mais uma prova do respeito que nutrem por nós: só nos deixaram tirar fotos com eles e recusaram-se a dar-nos autógrafos, porque nos consideram camaradas de profissão e autógrafos só dão aos fãs. Nunca aos colegas! " . Se calhar, outras selecções teriam o mesmo comportamento, mas quem o fez aqui foram os ALL BLACKS, que apesar de não terem sido campeões, continuam, para mim, a ser a melhor equipa do Mundo.
Um apontamento final para o grande obreiro deste fantástico desempenho da nossa selecção, precisamente o seu treinador Tomaz Morais, que tão bem soube comandar o grupo. Tive oportunidade de falar com ele por duas ocasiões, após o Mundial, no almoço de homenagem à selecção no Cadaval e na Federação e pude constatar os problemas pessoais por que passou durante o referido Mundial. A forma como conseguiu gerir tudo foi simplesmente notável.
Vivam os Lobos
Viva Portugal
Paulo Jaleco
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