sexta-feira, 23 de novembro de 2007

REGRESSO AO PASSADO

Histórias já publicadas no Blog Alandro al.
pequenos contos que nos transportam no tempo e nos deixam um sorriso nos lábios.

Saudações Marroquinas.


Ainda em época de caça:

OS PRIMEIROS TEMPOS

Depois de muita bagagem, (escorvas, pólvora, chumbo e buchas), espalhada por esses campos fora, e depois de me ter chegado aos bons, aqueles que percebiam como se caçava, como o saudoso RAFAEL, o PROFESSOR JOSÉ JACINTO, o CORNETA, o CABEÇA DYRUP e o JUDAS e graças a dois canitos que me passaram a acompanhar, a VIOLETA e a SETTER, lá conseguia voltar para casa sem ser acompanhado da habitual grade, e trazer para casa duas ou três peças. E, modéstia à parte, até atingi um estatuto de bom caçador, a ponto de ser membro efectivo da comissão venatória concelhia. Desses tempos guardo algumas boas recordações, que agora à distância de trinta e tal anos ainda me fazem sorrir.
Lembro-me por exemplo do JUDAS que andou durante uma época inteira sem matar uma única peça de caça, pois fosse perto ou longe tudo deixava abalar ainda com mais vida; só um dia quando errou uma lebre na cama, com os canos da espingarda encostados à mesma, é que nos lembramos de experimentar dar um tiro num papelão colocado a meio metro, e que ficou intacto.
Conclusão: ao encher os cartuchos o amigo JUDAS tinha-se esquecido de lhes meter chumbo, tendo-o substituído por serradura.
Como sabem os dias de caça coincidiam e coincidem ainda com os Domingos, dias de futebol e dos jogos do meu Benfica, portanto tinha que arranjar um estratagema para não perder os relatos, pelo que me fazia acompanhar de um rádio pequenino para esse fim.
Escusado será dizer que quando me calhava ficar nas esperas o rádio era ligado, e os coelhos nunca lá saíam, o que causava estranheza aos meus companheiros, até que um dia fui apanhado, e a partir daí acabou-se a mama de ficar nas esperas e passei sempre a alinhar no bater do mato.
O pior foi num dia em que se jogava um Benfica – Sporting, e em que o CABEÇA viu um grande bando de perdizes, colocou-me a mim num local estratégico e o KAGANO noutro e foi dar uma grande volta por montes e cabeços para tocar as perdizes para os nossos certeiros tiros. Ainda mal ele tinha dobrado o primeiro cabeço, já nós estávamos os dois juntos a ouvir o relato. Nunca vi o DYRUP tão zangado, quando depois de ter palmilhado quilómetros nos apanhou com os ouvidos colados ao rádio.
Mas… bom … bom mesmo foi quando um dia depois de ter palmilhado a Pipeira toda sem ter dado um tiro, portanto com uma grade às costas e quando já de regresso para casa, fui dar com uma carrinha de caçadores Galegos, cheia de coelhos, e que se haviam esquecido de a fechar… bem… não trouxe mais, porque já não podia com a carga.
Aliás nós, Alentejanos, nunca vimos com bons olhos a invasão que os “apinocados” Lisboetas e Galegos levavam a cabo nas nossas zonas de caça e foi por isso que um dia quando atirei e matei um coelho, e um lisboeta depois do coelho morto lhe atirou um tiro começou aos berros clamando que o coelho era dele e que ele é que o havia caçado. De imediato lho entreguei. Era ver o ar de satisfação do homem Não só porque havia ganho um coelho, como porque tinha enganado um alentejano. Deixei que se afastasse, e quando já ia lá longe gritei-lhe: Olhe esse pode comê-lo já porque já tem batata para acompanhar.
Na verdade assim que peguei no dito cujo vi logo que tinha mixomatose.


E a última no que diz respeito à caça

A CAÇADA AOS JAVALIS

Naquela altura já eu me tinha formado em Mestre da Caça e já frequentemente era convidado para caçar em reservas e acompanhar os autênticos conhecedores da arte de Santo Humberto.
Assim numa quinta–feira de caça foi-me feito um convite para uma caçada aos javalis lá para os lados da Serra de Monchique, em pleno Algarve. Foi um convite feito por Lisboetas ao Sr. Rosinha, que poderia levar mais dois ou três amigos, e que depois da caçada aos javalis se poderia entrar numa reserva e matar meia dúzia de peças.
Combinámos a partida para as 4 da manhã (nessa altura ainda não havia auto-estradas), mas logo por azar nessa mesma noite um dever social obrigou-me a não me deitar. Assim sem ferrar olho, lá partimos à hora combinada, e lá chegamos a horas certas.
Como eu caí na esparrela de levar os meus canitos, destinaram-me logo a ir bater mato. Nunca sofri tanto em toda a minha vida de caçador. As estevas tinham mais de dois metros de altura, e em certos sítios só se conseguia avançar rastejando. Os tojos e as silvas eram tantas que os cães estavam todos ensanguentados, maldisse a minha pouca sorte, e não havia meio de ver claridade, pois o mato nem o sol deixava ver.
Mas tudo tem um fim e a hora de sair daquele inferno lá chegou, e com ela a hora do almoço. Javalis nem vê-los… e estou mesmo convencido que se aparecesse algum aqueles nabos nem sequer sabiam distinguir um javardo de um burro.
Almoço consumido, e bem regado, que tristezas não pagam dívidas, ala que eles aí vão a caminho do espaço de reserva. Perdizes eram aos montões, coelhos não se dava a conta. Aquilo é que foi apanhar caça, e transportar para a carrinha dos lisboetas, pois nós tínhamos levado um automóvel e estávamos com um certo medo de tanta fartura.
Ainda hoje estou para saber como é que aqueles espertalhões nos fintaram, pois quando nos preparávamos para vir embora, e proceder à divisão da caçada… dos lisboetas nada.
Como é que eles se combinaram tão bem que nos apanharam distraídos e se pisgaram.
Aquilo é que foram impropérios, cobras e lagartos, mas o certo é que mais mortos que vivos lá voltamos caminho do Alandroal com uma “beiçana” de palmo. Ficou-me de emenda… e com desconhecidos caçar nunca mais.

Xico Manuel

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