domingo, 25 de novembro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

O bastão da moral e da ética corporativa - Joaquim Pulga

25-Nov-2007
A Ordem dos Médicos teima em não alterar o artigo 47.º do seu código deontológico, que contempla a prática de aborto como uma "falha grave" na ética do acto médico. Diz o bastonário, em jeito de ameaça, não só ao ministro mas, entenda-se subliminarmente, a todos os cidadãos que necessitam dos actos médicos: "o ministro precisa dos médicos para fazer política de saúde". A todos os cidadãos, porque se não existissem os ditos, as existências do ministro e de política de saúde seriam redundâncias. E tira o bastonário a última pérola do saco da sua altiva insolência: "A ética e a moral é património de grupos, a lei é um consenso social". Pretende Sua Excelência Reverendíssima o Douto Pedro Nunes, bastonário do seu "grupo", dizer que no caso da interrupção voluntária da gravidez, só ele e o seu "grupo" detêm a moral e a ética. A maioria dos cidadãos que votaram favoravelmente o acto médico da interrupção voluntária da gravidez, são imorais e eticamente condenáveis. Prenhe da verdade este bastonário, para não dizer que está antes prenhe, ele e toda a classe que não o contradiz, de se julgarem imprescindíveis aos viventes humanos e daí poderem cometer todos os dislates. Afronta a lei o senhor bastonário, a lei que, por outro lado, ele e o seu "grupo" pretendem também sua protectora. Exemplar do pensamento de suficiência esta teima, numa classe que pensa pairar acima dos temores dos cidadãos.
Não lhe bastava já a escapatória da objecção de consciência. Têm, ele bastonário e o seu "grupo", de fazer fica pé regulamentar na "falha grave" que é a interrupção voluntária da gravidez e, deste modo, passar um atestado de comportamento bárbaro ao estado e seus cidadãos. Não terá esta teimosia, dita deontológica, para além do bolorento conservadorismo que encerra, uma outra leitura? Não estaremos perante um gato escondido com o rabo de fora. Que eu saiba, a Ordem dos Farmacêuticos não tem no seu código deontológico qualquer artigo a considerar de "falha grave" a venda de fármacos para a interrupção voluntaria da gravidez. Nem sequer solicitaram o uso do estatuto de objector de consciência. Não será, certamente, por serem todos a favor da IVG. Desconheço, igualmente, que entre os profissionais de enfermagem se tenha massivamente solicitado o estatuto do objector de consciência. Tal como aconteceu com os médicos do hospital do Espírito Santo, em Évora. Já agora gostava, que Sua Excelência Reverendíssima o Bastonário da Ordem dos Médicos, nos informasse do número de profissionais médicos, do sector privado, que solicitaram o estatuto de objectores de consciência. Seria interessante conhecer o rácio entre os sectores público e privado. Talvez assim o gato ficasse estrondoso em cima da mesa. O medo temível que a espécie humana tem da morte, leva-a a uma permissão quase absoluta aos que pensa terem o veredicto da sua salvação. Antes os curandeiros, agora os médicos! Têm assim, o doutor Pedro Nunes e o "grupo" que representa, a sensação de ter a faca e o queijo na mão. Olhe que não doutor, olhe que não. No mínimo, nós topamo-los e esperamos que o estado lhes trate da saúde!
Joaquim Pulga

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