sexta-feira, 2 de novembro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA DIANA/FM

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Saramago - Eduardo Luciano

quinta-feira, 01 Novembro 2007
Hoje é feriado e não me apetece falar sobre a pequena política. Bem sei que haveria muitos temas em que poderia pegar: o Orçamento de Estado, a questão das provas para salvar os alunos faltosos no secundário, a possível fusão de dois bancos privados, o Plano Director Municipal, os exemplos de Orçamentos Municipais participados pelas populações e que ainda não chegaram a Évora, a notícia da decisão do Tribunal Constitucional contrária ao Presidente da Câmara, no processo de eleição do representante da Câmara Municipal de Évora na Região de Turismo, ou poderia sempre recorrer ao caso Maddie e às teorias da conspiração se não houvesse mais nada.
Mas como vos digo, hoje é feriado e vou dar descanso à pequena política e falar-vos de Saramago.
Não, não vos vou maçar com critica literária, que seria sempre de má qualidade devido à insuficiência de conhecimentos na matéria, mas da leitura da entrevista publicada no Diário de Notícias do último domingo.
Em quatro páginas de jornal, o escritor foi debitando opiniões sobre o mundo, a literatura, a política interna, a sua crença num futuro ibérico comum.
Nada que não tenha já dito e escrito em inúmeras entrevistas, provocando polémicas muitas vezes com quem não leu as palavras todas e se ficou pelo título.
Para quem acompanhou o percurso político de Saramago, parece haver nas suas palavras um certo distanciamento, como se o olhar do espectador tivesse substituído o olhar do militante.
Não acompanho algumas das suas opiniões e posições e estranho essa diferença de olhar que se vai acentuando à medida que os anos vão passando, mas isso não faz com que passe a ver o escritor, de quem admiro a obra e a forma como afirma as suas convicções, como um dissidente de um ideal comum.
E não é por qualquer deferência pelos seus quase 85 anos, ou porque dá sempre jeito ter um prémio Nobel para atirar à cabeça de um qualquer opositor político.
É porque continua a separar as decepções e frustrações, os erros e crimes cometidos em nome de um ideal, da essência profundamente humanista desse mesmo ideal.
Porque, ao contrário de muitos outros, não aproveita esses momentos em que sente abanar as suas convicções, pelo conhecimento de práticas contrárias aos seus ideais, para renegar tudo e afirmar ser preto o que antes dizia ser branco.
Saramago afirmou, na entrevista que referi, “O comunismo é uma convicção política, e mesmo que me dê muitas decepções e frustrações – e a nós não têm faltado, externas e internas – teremos de engolir uma série de sapos em nome de princípios que se sabe que estão a ser atacados. E se alguém tem de os defender que esse alguém seja eu.”
Para mim estas palavras chegam-me como garantia de que o escritor continua a pensar, como escreveu no seu poema “Ouvindo Beethoven”, que “chegará o dia das surpresas”.
Tenham um bom feriado e não se esqueçam da Feira do Alvito.

Até para a semana

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