segunda-feira, 26 de novembro de 2007

AO CORRER DO TECLADO

Como vai vossemecê? Ao tempo tratava-se de cortesia sincera.

- Quase todos temos a noção, de que, por vezes as palavras dirigidas a outrem, ainda que com um sorriso de orelha a orelha, de amabilidades mil e, de gestos acariciadores, nada representam e não são levadas a sério. Nos encontros fortuitos, as saudações e cumprimento normalmente são de circunstância e podem apresentar inúmeras características, a tal ponto, quando não com a distracção conduzindo a alguns dissabores, quando mal entendidos, motivados pela volumetria do calor ou as tentativas da superioridade e mando.

- Com amizade ou não, estes encontros fortuitos por vezes dão azo a reflexões e pensamentos mil, passando por estágios de parte a parte, incidindo em raciocínios medidores, exploradores. Ideias frouxas e, quem sabe a ajustes de contas, chegando a vinganças, mantendo os mesmos sorrisos de paz podre.

- Como alentejano, e de peito aberto e sereno, nunca gostei de muita mistura, ainda que conhecido por todo o lado. Não haverá ninguém que me diga ter mudado de atitude. Desde montes e montados, catedrais e capelinhas, tudo tenho frequentado, a tasca do Lica conhecido e tipifico taberneiro com avental e tudo, a ginjinha do Rossio em copo de vidro grosso, o Velho Mirante da Pontinha e outros tantos lugares, onde fiz amigos sem nada tentar vender, nem me vangloriar de qualquer condição.

-O respeito que dedico diariamente ao funcionário da limpeza, é o mesmo que atribuo ao Presidente da Junta, a um amigo de infância ou a um irmão, donde a sinceridade e a maneira própria de tratamento, advêm dos bancos da escola, não me considerando mais rico nem mais pobre, em posição de inferioridade ou de superioridade, ainda que faça a destrinça entre um tempo e outro, seguindo á risca os ensinamentos do professor José Jacinto. – “ Devem todos mostrar educação: quando passarem por alguém mais velho que vocês, são os primeiros a dar os bons dias”.

- Ao tempo, para nós pequeninos, isto era penoso e difícil de realizar mas cumpria-se. Hoje é uma delícia saber-se que em determinada época, a educação tinha destas coisas e, a diferença dos cuidados para além do “ b - á – bá ” resultavam. Hoje as modas e as experiências ao sabor de cada agrupamento, não têm qualquer sentido, algumas, serão mesmo desprezíveis, somo caricatas e ao arrepio, objectivando o futuro.

- Com tanta conversa ao, sabor do teclado, estaria a ficar perdida a ideia que, fundamental hoje, Vos queria apresentar mas por se tratar de uma situação que a todos acontece, entrarei de imediato no assunto.

-Vossemecê para cá, vossa mercê para lá, os dias passam, as mentalidade progrediram e a cultura também. Tudo isto, ninguém duvida nem contesta, todavia o hábito diário de dar as saudações aos transeuntes, apenas se verifica numa camada de gente restrita, sobretudo os resquícios dessa tal franja, de pouco cultos mas humildes e com uma visão do humanismo que os da nove geração, não sabem nem desejam saber.

-Na província, estará porventura mais arreigado este hábito salutar, de dar as boas vindas a qualquer pessoa. Nos grandes centros populacionais a coisa é diferente e, de tal maneira se passa abusivamente por vinha vindimada, ainda que encontrem familiares ou vizinhos pelo trajecto, a lógica do ói ficou, serve para tudo, desde o professor, ao desconhecido ou familiar.

-A frieza com que se tratam as pessoas é assustadora, as modas e clichés têm pés para andar, vai daí que desde o - Bom-dia! Ao olá ou olé! Olha o gajo! Estás bué? Está tudo bem? Estás bom pá? Estás porreiro? Como vai essa gaita? Como está? Diga-me como tem passado? Tem passado bem de saúde? Linearmente, estas são as primeiras e as últimas palavras entre os transeuntes que, nem param para receber a resposta que parte delas não chega a ser dada. É triste por ser sério, é mau pela noção de cinismo com que cada um vê os outros, é péssimo, dadas as condições que superiormente não direccionam a nova cidadania.

- Se tudo isto não pobre, o cúmulo acontece muitas mais vezes que, aquilo que porventura possam supor: inúmera gente evita passar pelo seu vizinho, pelo seu professor ou com qualquer outra pessoa, tendo o cuidado prévio de colocar inicialmente a cabeça fora da ombreira, antes de sair para a rua só para não ter a trabalheira de dar a salvação, a quem nesse altura se cruze com o seu portal.

- Assim termino com amizade para todos os que me lerem, sem modas ou orelhas baixas – Estão bem? Como têm passado?
Eu fico bem, graças a Deus.

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