Matutando e discernindo ideias, num tempo que já não volta.
- Não sei se Vos diga, se Vos conte mas, estava neste mesmo a reflectir e a pensar cá para os meus botões, numa tentativa de compreender as lógicas das mudanças que, os caprichos que a vida nos deram e nos ensinaram, como a esperança, os enredos complicados, as realidades e suas semelhanças, as injustiças, os critérios mal utilizados, as infelicidades e devaneios, as marcas do tempo e as recordações, as leviandades e as alarvidades, as birras e as glórias que, cada um sabe reconhecer em seu redor, ligando-as a um conjunto de bonomia e ao seu inverso também, numa amálgama desta sociedade e suas memórias.
- As considerações que cada um poderá ter, destacam-se porventura ainda que dispares, os modos de cada qual utiliza, no estar e de sentir os cheiros, os paladares ágrios ou doces, os ruídos e os silêncios, as caretas que o tempo faz, memorizando cada mente as determinados características dos acontecimentos, hábitos e posturas, alguns dos quais hoje extintos ou em fase disso.
- Hoje recordo o sabor dos figos frescos de S. João, na ribeira á junto á nora de alcatruzes, movida pela burra mais sabida e humilde de todos os tempos, naquela horta amanhada pelo meu avô Isaac.
- O sabor do cabrito confeccionado em casa do meu tio João, já com o estômago cheio, havia sempre o desejo de dar mais algumas garfadas, quase até rebentar.
- Os queijinhos olhados caseiros, tirados com sapiência do pote de barro com azeite, da Quinta do Magarreiro que aquela Senhora da família dos Coelhos que, tão bem os confeccionava e de quando em vez, se lembrava da sua gentil oferta.
- Os cogumelos tipo chapéu-de-chuva, assados na brasa com sal que, o Frade procurava e o Carola sabia preparar á maneira.
- As laranjas da baía, de encher a mão, a vista e o estômago, doces e sumarentas até dizer chega, indicadas para lanches em tempo de estio, da Horta do Joaquim Martins, produzidas em quantidade, na vanguarda do cultivo de flores, com ruas ladeadas de roseiras, onde cada uma da sua cor, apelavam ao arco-íris e á alta perfumaria.
- Os bailaricos na Sociedade ao som de conjuntos de sopro e metálicos, onde os ritmos latino-americanos e as vozes em dueto sobressaindo as castanholas espanholadas – A menina dança, ou fico com uma tampa e, um enorme melão? Esses bailaricos acabaram mas as danças de salão estão na berra e por incrível que pareça, até os sheikes estarão comigo e connosco, prontos para desabrochar.
- Outros aspectos que podíamos lembrar, sem nos tornarmos conservadores em excesso, sabendo que a vida segue o seu caminho, é evolutiva para o bem e para o mal, o pensamento é volátil, tal como o pingo da torneira, pinga até esgotar e acaba quando enferrujar ou o seu sangue esgotar, assim poderíamos pegar num sem fim de assuntos que, vivemos e sonhámos até aos dias de hoje.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa…
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p’ra casa.
Para recordar -
Letra - Ary dos Santos
Musica - Paulo de Carvalho
Voz Carlos do Carmo
- A imaginação conta muito e, a tradição recomenda o devido respeito pelo pregão, no entanto o cheiro a castanhas assadas, já não tem aquela finura de outrora, com o preço a custar os olhos da cara, com o característico estalar na brasa e o fumo dos assadores serão os mesmos, porventura para que não se espantem os animais na Golegã, por altura da Feira Nacional do Cavalo, a mesma que anteriormente a 1972 se denominava Feira de S. Martinho.
- O exagero do preço das ditas, sejam estas gradas ou não, bichadas ou sadias, não conta, levando a que o freguês fique arredio, ainda assim os estrangeiros vão picando, passando o hábito das castanhas assadas a ser mantido para turista se admirar e pagar, sem saber ler nem escrever.
- Com tanto paleio, não dei conta da hora do lanche, e porque é dia de magusto, o S. Martinho gosta de uma boa pinga de água-pé, o mais lógico é fazer as malas por hoje e tratar mesmo de aquecer o estômago, em boa companhia, sem antes Vos dizer que: - S. Martinho nasceu entre 315 e 317 na Hungria, filho de soldado Romano, entrou para o exército com 15 anos, a lenda a seu respeito diz:
Numa noite chuvosa de Inverno, indo S. Martinho a cavalo, deparou-se com um homem seminu, com ar de pedinte, que lhe pediu esmola, como não levava qualquer moeda, cortou a sua capa ao meio e entregou uma ao mendigo, para que pudesse agasalhar-se. Reza a lenda de que o pedinte seria Jesus e logo a chuva parou e o frio acalmou, com o sol a despontar entre as nuvens, tendo em 371 sido aclamado bispo de Tours.
1 comentário:
Ói amigo. Gostei de lêr esta tua crónica. Fêz-me recuar no passado e é sempre agradável recordar momentos da infância.
Como os nossos "fados" se parecem. Mas infelizmente tudo passou à história.
As figueira secaram, assim como as noras, os burros desapareceram e os alcatruzes fora destruìdos, tal como na horta da Formiga onde o meu avô Teófilo hortejava. Felizmente o teu tio João (o meu velho amigo Malato) deve continuar a saborear o bom ensopado e assado tal como eu quando vou até ao Alandroal.
A minha avó Jacinta também era cumplice no fabrico desses queijos da Horta do Magarreiro. Ainda hoje a minha mulher fala "quando ela lhe trazia um queijinho desses".
O Frade morreu e agora cogumelos (tubarões como nós lhe chamavamos) já não há.
Tal como o teu avô Isac, também o meu avô Manel Tátá cuidava a primor da Horta do Chico Garcia, mais tarde foi o meu pai a desempenhar tal tarefa (que ainda aos 87 anos não deixa de cultivar a terra), mas Horta é coisa que já não existe.
Bailes nas Sociedades já não há, tão pouco Sociedades, agora não se baile, pula-se e abana-se o capacete. Mas justiça seja feita esta juventude de agora "governa-se"melhor que nós nos governáva-mos.
Obrigado por estes momentos que tão boas recordações me troxeram.
Um abraço
Chico Manel
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