Nota: A partir de hoje o Al Tejo conta com mais uma preciosa colaboração.
Esporadicamente aqui vão ser transcritos textos elaborados pelo Dr. Alexandre Laboreiro, que amavelmente acedeu ao convite para connosco colaborar.
São artigos versando diferentes matérias, que ao fim e ao cabo reflectem uma maneira de estar e constituem autênticas lições de história.
José Alexandre Laboreiro , pessoa muito conceituada nos meios académicos de Montemor o Novo, é Licenciado em história, leccionou em diversos estabelecimentos de ensino, foi vários anos Presidente do Conselho Directivo da Escola EB2,3 de Montemor o Novo, faz parte dos Corpos Directivos de várias Instituições , além de assíduo colaborador no Jornal “Folha de Montemor”.
Para ler com atenção.
Al Tejo agradece a colaboração da Folha de Montemor, que nos facilitou os suportes para a transcrição.
Democracia e propaganda
«... a aprendizagem da cidadania passa pela adesão a valores e à lei, pela reflexão sobre o que seria uma organização ideal da cidade, e ainda mais por um conhecimento realista dos mecanismos demográficos, económicos, políticos e psicossociológicos que existem e que, regularmente, contrariam os nossos ideais.»
Philippe Perrenoud
( “A escola e a aprendizagem da democracia”)
Concordamos com António Sérgio, quando ele afirma: “A base da Democracia é a virtude ... isto é, a moralidade cívica de todos nós. Antes de ser um regime político, é a Democracia uma atitude moral ... Democracia é disciplina interna, política do espírito, e querer constituí-la mecanicamente, fora do espírito, é não atingir a menor noção dos seus princípios fundamentais. Democracia, autodomínio, são aspectos complementares da mesma ideia”. Porém, para fazer desabrochar e desenvolver em nós, um espírito liberto, autónomo, consciente, enformado por uma virtude e moralidade profundas (como preconizava Sérgio), é imperioso sermos sujeitos de uma Educação que nos fortaleça o individual para que cada vez mais participemos do Universal - desenvolvendo em nós o nosso maior expoente da racionalidade (num crescendo de espiritualização): numa superação dos limites vários que confinam o indivíduo numa pátria ou grupo; aculturação que conduza à intelecção do conjunto mental e cultural em que vivemos, de modo a torná-lo capaz de impulsionar o desenvolvimento e progresso do meio social no qual actuamos.
Ora, um espírito livre, autónomo, dispondo de si próprio, ao proceder - perante uma panóplia de opções que constitui a vida cívica - à inteligência profunda das coisas com vista à construção de uma opinião, e à assunção de uma atitude, opor-se-á logicamente à manipulação (que uma propaganda cada vez mais subtilmente tende a tecer).
É certo que a propaganda e a manipulação são quase tão velhas quanto o Homem: vinda da difusão da crença de que os reis eram deuses (na Antiguidade), ou detentores de inspiração divina (no Feudalismo medieval), ou remontando à representação iconográfica (em esculturas ou cunhagem de moedas) dos soberanos; assistimos hoje - mercê de estudos de Psicologia, Sociologia e Marketing sobre as sociedades - a uma persuasão de opiniões (em que nada é feito de improviso, em que cada pormenor do discurso é estudado, onde realces e omissões não são deixados ao concerto do acaso): utilizando meios de comunicação social (imprensa, rádio, televisão, internet), ou processos mais tradicionais, como os cartazes, folhetos ou alocuções directas em comícios.
A propaganda prende-se, assim, com a questão do Estado, da relação Estado/Sociedade e Estados/Estados - aparecendo como um fenómeno ligado à conquista e exercício do poder (e daí que os políticos não prescindam dos serviços de propaganda para a legitimação do exercício do seu poder).
Como sistema de representações, a propaganda é “ideologia”. A propaganda simplifica, distorce, tende a afirmar-se por ideias traduzidas, se possível, em palavras de ordem de mais fácil captação de adeptos. Centra-se, em regra, num jogo de contraposições entre o que se defende e o que se rejeita; mitifica, exagera, por excesso ou defeito; é muitas vezes retórica, moralizante; usa um jogo de luzes que tem tendência para esconder certas articulações, projectando toda a luz sobre outras, a fim de melhor servir os seus interesses.
Propaganda: arma poderosa tão capaz de permitir o funcionamento dos regimes democráticos como suster os totalitários.
Não contestamos, logicamente, a propaganda política - mas, defendemos a propagação, sim, de mensagens que formem Homens, Pessoas (e não “massas”), que não constituam difusão de ilusões e mitos, que formem verdadeiramente opiniões, espíritos de escolha, consciências cívicas, que não constituam atentados à moral política nem à inteligência, que não enformem paraísos sedutores, que eduquem para a Liberdade, que esclareçam e informem - e não manipulem nem manietem, que levem à participação, que desenvolvam a faculdade de reflectir para examinar (de modo a evitar o preconceito). A verdadeira propaganda democrática, não irá necessariamente do alto para o baixo, dos governantes para os governados, do Estado para a Nação: ela será, antes, pelos gestos e atitudes, a participação veiculada pela sociedade de cidadãos na vida democrática da nação. Lutando pelas melhores causas: denunciando o “branqueamento”, que se tenta fazer dos regimes totalitários - despertando as novas gerações para, pelo conhecimento do que foi o passado negro do nazismo e do fascismo, prepararem um futuro de Fraternidade, Igualdade e Liberdade: onde não conheçam a guerra, a exploração, a humilhação, a fome, a peste, a desumanização; mas em que vivam, sim, o Amor (em Liberdade, em Harmonia, em Cultura, em Progresso, em Democracia).
José Alexandre Laboreiro
Publicado na Folha de Montemor Maio 2007
2 comentários:
Caro 'blogueiro', fiz uma procura de imagens no google para máquinas de escrever Olivetti e fui remetido para o seu blog antigo em um comentário sobre uma máquina Olivetti vermelha. É sua? Ainda tem aquela máquina? Caso ainda a possua e tenha interesse em vendê-la me mande um email para fmarchini@uol.com.br. Obrigado e desculpe o incômodo.
Eis um artigo com um grande sentido humanista indicando a via
democratica que pelo País se distorce mais.
Bem Haja.
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