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Envergonhados - Eduardo Luciano
quinta-feira, 18 Outubro 2007
A propósito do Dia Internacional de Erradicação da Pobreza, o Instituto Nacional de Estatística divulgou os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, referente ao ano de 2005.
A crueza dos números que nos entraram em casa, chocaram aqueles que preferem acreditar em estórias da carochinha e que se blindam em optimismos balofos que nada têm a ver com a natural e desejável confiança num futuro mais risonho.
Segundo os dados divulgados, um em cada cinco portugueses auferem rendimentos abaixo do limiar da pobreza. Dito assim até parece pouco e talvez por isso a comunicação social mais alinhada com o poder, tenha apresentado os números desta forma.
Mas façamos as contas de outra forma, sem adulterar resultados. Um em cada cinco significa que para uma população de dez milhões de habitantes, teremos dois milhões de pobres.
Percebem a diferença? Uma coisa é escrever num título de jornal: um em cada cinco portugueses vive abaixo do limiar da pobreza, outra é escrever: dois milhões de portugueses vivem abaixo do limiar da pobreza.
Reflectindo os dois a realidade da estatística, é certo que o primeiro suaviza o murro no estômago e isso não serve para agitar consciências adormecidas.
Ainda assim, se em vez de dizermos dois milhões de portugueses escrevêssemos os seus nomes, estaríamos mais próximos da dimensão do drama.
Mas os números ainda nos dizem outras coisas interessantes. Dizem-nos que somos o país da União Europeia onde a desigualdade da distribuição de rendimentos é maior. Onde o fosso entre os mais ricos e os mais pobres é mais profundo.
Lá se vai a teoria de que a pobreza de dois milhões resulta da ausência de riqueza para distribuir. Ela existe e está distribuída. Mal, como podemos ver à nossa volta.
Acresce ainda que o INE chega a estes dados, depois de considerar as transferências sociais do Estado.
Sem essas transferências quarenta e um porcento dos portugueses viveria abaixo do limiar da pobreza.
É bom lembrarmo-nos disto sempre que alguns ricos e muito ricos vêm sugerir o emagrecimento do Estado e a privatização das suas funções sociais.
Questionado sobre esta realidade, o presidente da Rede Europeia Antipobreza/Portugal, disse não estranhar a manutenção deste estado coisas porquanto “…as causa da pobreza são estruturais e em Portugal gere-se a pobreza”.
Afirmou ainda temer que medidas como o complemento solidário para idosos, sejam de mera cosmética, porque não alteram a sua estrutura de vida.
Respondendo sobre o que seriam, na sua opinião, medidas estruturais, deu como exemplo os benefícios na saúde, em vez de terem de pagar taxas moderadoras.
Com tais opiniões ainda teremos alguém mais atrevido a acusar o senhor padre Jardim Moreira de simpatias pouco recomendáveis.
Deixem-me dizer que fiquei sensibilizado com as palavras do Presidente da República a propósito desta negra estatística. Cavaco Silva disse sentir-se envergonhado com tais resultados. E tem razões para isso. O Senhor Presidente, que nos governou durante dez anos, e todos os outros dos dois partidos que têm partilhado o poder nos último trinta.
Até para a semana
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