quinta-feira, 25 de outubro de 2007

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Duzentos mil - Eduardo Luciano

quinta-feira, 25 Outubro 2007
Várias vezes me tenho lamentado, nestas intervenções semanais, de um certo clima de desistência, de adormecimento, de encolher de ombros, que parece afectar a generalidade das pessoas.
Oiço gente sem filiação partidária dizer à “boca pequena” que estamos quase a bater no fundo, que começa a instalar-se um clima de medo em que o melhor é fingir não se passar nada.
Converso com militantes do partido do governo que se dizem preocupados com a ascensão a lugares de destaque, no partido e no aparelho de Estado, de gente cujo único mérito é a capacidade de estar de acordo com quem tem mais poder no momento, não se lhes conhecendo pensamento político, posição ideológica ou qualquer outra coisa que não seja a apetência para ocupar um lugarzinho numa qualquer estrutura regional ou local.
Confesso que, fruto deste ambiente, me apanho a pensar que estamos no tal pântano de que Guterres falava e sem grande crença nas possibilidades de o abandonar.
Mas na semana passada esta visão derrotista e deprimente levou um magnífico abanão. Afinal, apesar de todos os lamentos, constatações de impotência, medos diversos e manipulações várias, há gente que é capaz de sair à rua unida por objectivos comuns e com uma enorme esperança nas potencialidades das movimentações populares, para obrigar a inverter o rumo político do país.
Estiveram lá pessoas de diversos quadrantes políticos, que nos últimos trinta anos poucas vezes se uniram em acções comuns e isto deve significar qualquer coisa sobre a resposta à forma como o governo está a hostilizar amplas camadas da população.
A importância da manifestação da passada quinta-feira pode ser aferida pela forma como a maioria dos órgãos de comunicação social a trataram.
Desta vez não tivemos analistas a ridicularizarem o protesto, nem profetas da desgraça a anunciar o fim do sindicalismo. Desta vez todos se remeteram ao prudente silêncio assobiando para o ar e fingindo que “aquilo” nem sequer existiu.
As televisões passaram a notícia como quem anuncia chuva para o dia seguinte, concentrando-se de seguida nos 27 chefes de Estado que estavam reunidos perto do protesto.
Quando a polícia lançou os primeiros números de manifestantes, em evidente contraste com as centenas que os enviados da RTP conseguiam contar, percebeu-se que estávamos perante qualquer coisa de excepcional.
A estratégia, rapidamente gizada e seguida pela generalidade dos media, foi a de falar rapidamente no assunto e seguir para o grande sucesso do cimeira informal dos 27.
Reagiram de tal forma em uníssono que só podiam estar a ser guiados pela famosa mão invisível que os adeptos do liberalismo económico tanto gostam de elogiar.
A verdade é que, sem anúncios nos jornais ou televisões, sem qualquer promoção mediática digna desse nome, duzentos mil portugueses saíram à rua para contestar a orientação política do governo e para demonstrar que nem todos se conformam, nem todos cedem ao medo, nem todos se calam perante o que acham estar mal.
Pedindo emprestada a atitude optimista do primeiro-ministro, só posso dizer… “porreiro, pá”!

Até para a semana


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AL BARRAM DOCUMENTA

HÁ SEMPRE ALGUEM QUE DIZ NÃO... (POR AL BARRAM)









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