COMENTÁRIOS EM PÉ DE PÁGINA - RUBRICA DE ANTÓNIO BERBÉM

A Manjedoura

I.

Há-de parecer a muita gente no país que somos e no Alandroal que temos que a prática (e a resolução dos assuntos políticos) nacionais ou locais, já tem pouco a ver com os bons princípios da teoria política que a devia orientar e pautar.
No campo político, pode mesmo dizer-se que as boas ideias, a ética e a ideologia de base socialista e republicana, têm cada vez menos a ver com as mais descaradas práticas e posições que muitos políticos vêm assumindo. São demasiadas, as ocasiões em que “os profissionais da política” passaram a esquecer-se do que tinham prometido durante as campanhas eleitorais até chegarem aos cargos que desejavam.
Quem é que já se esqueceu da pragmática promessa da criação de 150 mil novos empregos? Será portanto para admirar que das promessas às desilusões e à descrença, vá apenas um pequeno passo?
Será que também “aos pequenos políticos”, só lhes interessa conquistar o poder e depois logo se vê como será exercido e mantido custe o que custar? Neste contexto, será para admirar que os desvios à boa governação e as promessas falsas avultem e que, sobretudo, em matéria de gastos excessivos e abusivos de dinheiros públicos, os autarcas se tornem muitas vezes verdadeiramente irresponsáveis?
O resultado visível e a olho nu, é o de que são e serão cada vez mais raros, os casos dos políticos que no governo e nas autarquias cumprem com seriedade aquilo que efectivamente prometeram, não olhando, a maioria deles, a meios (nem a despesas…) para atingirem apenas os seus próprios fins? O caciquismo autárquico português, é ou não é, useiro e vezeiro neste tipo de praticas?

II.

Se bem que, a um nível mais alto, foi João Cravinho uma referência ética e alto quadro do Partido Socialista que tornou a afirmar, recentemente e sem papas na língua, que:
(a) em Portugal foi claramente abandonada pelo PS a luta contra a corrupção;
(b) que a governação do Partido Socialista é de natureza neoliberal, aparecendo a figura de J. Sócrates apenas como o reflexo de um político, algo refém da retórica…
Pode entender-se daqui que, umas vezes, a pretexto do deficit orçamental e outras vezes por causa do Serviço Nacional de Saúde, o País vem sendo afinal governado ao centro e à direita de uma forma ferozmente capitalista, adoptando na governação um estilo autoritário, defensor do capitalismo selvagem, dito global. Sufocante e desequilibrador da estrutura da sociedade portuguesa a apresentar sinais claros de falta de sentido de justiça e de coesão social.

III.

Centrámo-nos até aqui à escala do país. Porém, se passarmos para a escala de uma pequena autarquia, como é a do Alandroal, podemos alinhar uma mão cheia de questões políticas e sociais que em tudo se relacionam com “o sistema fechado de governo local”.

A saber:
(1) será que a dominante de gastos excessivos da autarquia, se agravou com esta maioria absoluta?
(2) A mentalidade reinante será a de haver vários «big spender»?
(3) Os gastos sumptuários, em viagens ao estrangeiro, efectivamente aumentaram?
(4) É possível saber-se alguma coisa através do Boletim Municipal e/ou usando o novel Rossio do Arquiz?

IV.

Em meio do mandato e tempo de balanço da governança socialista, dá para saber entre outras questões e entre os Munícipes que aí pagam os seus impostos, qual foi o montante real de investimento estrangeiro que a autarquia conseguiu cativar nos últimos dois anos? Pouco, muito ou nenhum?
Prosseguindo, qual será o montante em milhões de euros da divida de longo prazo da autarquia? Alguém que seja responsável, pode mostrar qual é o montante em milhões de euros de excesso de endividamento? Podemos também saber qual é o montante da dívida de curto prazo que a autarquia apresenta?
Por fim e para que não se julgue que “o Copo está meio vazio” pode saber-se qual é a dívida do Estado à Câmara? E onde irá ser aplicado o dinheiro?

V.

Passando para um âmbito diferente, se bem que inteiramente legítimo, pode simplesmente saber-se quanto custaram ou quanto estão a custar os dois BMW estacionados ao Alto da Praça? A pergunta pode ser incómoda, mas será que uma Autarquia pobre tem de comprar e exibir «o plural de tais lustrosos popós?» Em proveito específico de quem?
Desde quando e onde, é que uma pequena autarquia se obriga a ter e até ver um BM para o Presidente? E ainda mais outro para o vice. Existem por todo o Alentejo outros casos assim? A pura ostentação compensa? Pensarão os decisores políticos que o Povo pagante, não vê e não sente? Não repara, critica e obviamente discorda de tais sinais. Há mais alguém na calha?
A política local vive no «reino dos homens» ou mergulhou cegamente no «reino das coisas?» Em que ponto ficamos?

VI.

Para quando, então, o reforço efectivo da Acção Social no Concelho? Será que vai bastando “contentar” sempre o mesmo eleitorado-alvo sem atender a tantas outras pessoas que vivem claramente abaixo do limiar da pobreza?
Porque se espera para reforçar o papel da Autarquia, no campo da habitação social e da recuperação do parque habitacional do Concelho e da envolvente histórica da Vila?
Por outro lado e não menos importante, porque não perguntar como é que vão as relações políticas com os Vereadores da Oposição? São desprezadas, não contam? Ou, até vão bem e têm vindo a aprofundar-se?... E como estamos de Formação e Emprego?

VII.

Resta portanto perguntar, em final de texto, se a Autarquia entende que o Futuro é imutável? Ou será que andaremos todos melhor avisados, se soubermos que o Alandroal devia deixar-se de estar em suspenso… e passar a aproveitar o mérito, a seriedade, os bons exemplos e as boas ideias das pessoas que se empenham em defendê-las e realizá-las.
A transparência, o diálogo democrático, as portas (e contas) abertas da autarquia, são um bem político e uma condição social que os titulares de passageiros mandatos autárquicos podem, em caso algum, dispensar-se de assumir e cumprir?

António Neves Berbém
XII/Out./MMVII