COMENTÁRIOS EM PÉ DE PÁGINA - RUBRICA DE ANTÓNIO BERBÉM

Festas e Touradas de Longa Duração

I. Antes de expressarmos uma opinião livre sobre a Festa de Setembro, 2007, começamos, desde já, por salientar que o espectáculo de pirotecnia é um momento alto que dá nas vistas «em cenário medieval adequado». Pena é que devendo a Festa encerrar porventura no domingo, não seja decidido guardar uma pequena parte do arsenal pirotécnico para a apoteose do dia e noite do encerramento. Como era de tradição.
II. Outros dois ou três bons momentos festivos incluíram “As Cantigas da Rua” conduzidas com maestria por J. Carlos Malato e as duas Exposições de Desenhos e Pinturas de João Paulo Galhardas no ‘Zé do Alto’ e a de Maria Gertrudes Pisco no ‘Fórum Cultural Transfronteiriço’. Tanto a primeira como a segunda Exposição, dão a conhecer a obra e a vontade indómita de “seguir a carreira dos seus sonhos”com arte, entrega e imaginação. Vimos “a força harmoniosa das cores”e gostámos do convite da Autora.
III. Quanto às demais manifestações que integraram as Festas, não podemos deixar passar, em claro, o descalabro absoluto que foi a Tourada. Mal planeada, mal organizada, mal dirigida, mal sucedida.
Teve infelizmente de tudo em excesso. Touros desumanamente tratados e a mais, toureiros em demasia, quatro grupos de forcados desorientados, várias pegas sem serem consumadas. E por fim uma cansativa duração de mais de quatro horas. Parece, então, que a Organização da parte da Autarquia, foi como, aliás, parece que é costume, vítima da mania das grandezas. O bom senso e o equilíbrio têm de ditar para o futuro das corridas no Alandroal, a adopção da regra dos seis touros. É o normal e chega! Até para que o espectáculo não perca a sua própria dinâmica e as pessoas não se desinteressem completamente como veio a acontecer.
IV. Importa salientar que a “Homenagem ao Sousa” acabou por ser prejudicada pela própria tourada. Se bem que justa, acabou por não ter o enquadramento e brilho merecido devidos à personagem. Não basta e não bastou a apresentação de um discurso tardio e desatendido num contexto “em fim de tourada”. Fica o reparo. Àquelas horas da madrugada, já não dava para mais nada!
A verdadeira homenagem, está ainda por fazer e precisará em todo o caso de menos protagonismo dos autarcas. E mais da população e dos seus numerosos amigos alandroalenses.
V. Quantos aos Concertos musicais estiveram dentro do esperado e percebe-se que se dirigem a públicos alvo específicos. Compreendendo-se a estratégia da Autarquia deve dizer-se, no entanto, que pouco adiantam para que a Festa se torne motivadora e verdadeiramente popular.
VI. Às Festas de Setembro (salvo melhor opinião) continua a faltar uma verdadeira Animação de Rua. Continuam a faltar mais pólos de debate e interesse cultural. Continua em falta aquilo que as podiam, de facto, tornar diferentes. São demasiado iguais ano após ano… o modelo já deu provavelmente o que tinha a dar. Por exemplo, uma certa distribuição de prémios por vereadores locais nas piscinas, tornou-se um acto penoso e insignificante.
VII. Como muita gente teve oportunidade de comentar, é bom que se diga que a Festa antes de ser popular tende a ser populista e consequentemente bastante prolongada e demasiado cara. Não há que escondê-lo. São demasiados dias de festa seguidos, o que desde logo suscita uma certa saturação. Aliás, o dito Festival da Juventude que devia ter orientação e fins diferentes dos que apresenta, poderia e deveria ser realizado em qualquer outra altura para não desvirtuar (nem ser desvirtuado) pelas Festas de Nossa Senhora da Conceição. Entretanto, os bailes à moda antiga, não tiveram qualquer chama e a aderência popular esperava-se que fosse maior.
Mas o que verdadeiramente se torna inaceitável, é a colagem, exibição e a promiscuidade do poder político local com o poder religioso, na procissão de domingo. A não ser que os actores presentes, já tenham perdido a memória e a noção da História, ou, nem sequer reconheçam que a junção dos dois poderes segue o pior lastro das práticas do Estado Novo com as nefastas consequências e atrasos sociais que se conhecem. Uma coisa é o ideário político (laico, socialista e republicano) outra coisa bem diferente são os valores que a Igreja diz prosseguir…
Mas a lição primeira, é que se deve dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Misturar os interesses e as práticas como se fossem historicamente convergentes…a não ser talvez por motivos de insegurança política, é que não. A amostragem e aparente “caça destacada” ao voto religioso, não justificam tão grandes cedências dos actores políticos. Os autarcas sejam eles de que orientações políticas forem, não podem tornar-se meros seguidores e obedientes acólitos do Altar. Se bem que no caso do Alandroal se possam perceber as razões, um mínimo de dignidade e convicções políticas firmes aconselham, obviamente, a não misturar e a meter tudo no mesmo velho saco.

Dito isto, vamos esperar e desejar sinceramente que as Festas do próximo ano sejam, efectivamente, melhores. Estamos em crer que deve ser aquilo que a autarquia procurará fazer e que os Alandroalenses mais desejam. Os balanços “auto elogiosos” de pouco adiantam. Precisam-se novas ideias.

António Neves Berbém
Set./IX/MMVII