quinta-feira, 12 de julho de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Optimismo, um privilégio de alguns - Eduardo Luciano

quinta-feira, 12 Julho 2007
Apesar das caricaturas que se fazem das análises estatísticas e dos números poderem ser torturados até nos darem os resultados que pretendemos (todos conhecemos a anedota dos quatro amigos que mandaram vir para a mesa quatro frangos, sendo que um deles devorou todos os galináceos, estatisticamente cada um comeu um frango e na prática três passaram fome), quando se tratam grandes números os estudos acabam sempre por indicar tendências que revelam a realidade do meio onde os dados foram recolhidos.
Olhando para os indicadores de confiança dos consumidores medidos pelo Instituto Nacional de Estatística verifica-se que este índice voltou a cair durante o primeiro semestre do ano.
O que é fantástico e revelador do caminho que estamos a percorrer é que o maior contributo para este resultado vem dos consumidores mais pobres, mais idosos, com menos qualificações e com vínculo laboral mais precário.
Ou seja, existe uma enorme fatia da população que está a ficar mais fragilizada, que se sente marginalizada e que não tem grandes razões para estar optimista quando ao que aí vem.
Segundo o estudo é o desemprego que mais assusta a população mais pobre e com menos qualificações.
Diria eu que não seria preciso tanta análise estatística para chegar a estas conclusões. Bastaria conversar um pouco com os trabalhadores atirados para o desemprego, por patrões ricos de empresas falidas, para se perceber o desespero que atinge essas pessoas e de como isso afecta a forma como olham o seu futuro.
Ainda há pouco tempo alguém me dizia que o desemprego é apenas uma crise e como todas as crises tem de ser olhado como uma oportunidade.
É o irritante discurso do optimista que insiste em ver uma luz ao fundo do túnel quando, de facto, nem túnel existe e que normalmente é produzido por alguém instalado num emprego, mais ou menos garantido, protegido por uma qualificação académica e profissional relevante.
A realidade, por quem a sente, é bem mais dura e reflecte-se também nos tais indicadores de confiança dos consumidores.
Outro resultado precioso tem a ver com o sexo dos inquiridos. Mantendo-se a tendência da última década, as mulheres estão mais pessimistas do que os homens. Nem poderia ser de outra forma. São elas as primeiras a ser despedidas, são elas as que mais dificuldade têm no acesso ao emprego, são elas que maioritariamente gerem os orçamentos familiares e têm de fazer verdadeiras obras de engenharia financeira para garantir o bem-estar das suas famílias em níveis aceitáveis. Se há alguém que consegue perceber a perda de poder compra dos salários dos últimos anos são as mulheres no exercício das suas múltiplas tarefas, como trabalhadoras, mães e líderes dos seus núcleos familiares.
Talvez olhando bem para estes resultados se percebam as vaias, os insultos e os protestos que perseguem o primeiro-ministro para onde quer que ele vá e que contrariam os estudos de opinião mais ou menos manipulados que nos são oferecidos periodicamente.
A coisa é tão grave que o governo já encontrou solução para estes protestos. Na inauguração de mais uma ponte sobre o Tejo tivemos, de facto, duas inaugurações. Uma para as palmas dos apaniguados e outra aberta aos populares e sem a presença do primeiro-ministro.
Este governo perante os protestos populares reage como um rei absolutista. O povo não está de acordo com o governo… demita-se o povo.

Até para a semana

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