segunda-feira, 9 de julho de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Albufeiras e lazer - José Faustino

Monday, 09 July 2007
Quase todas as albufeiras de dimensão razoável foram construídas para fins industriais ou agrícolas. Complementarmente propiciam actividades lúdicas como por exemplo a pesca e outros desportos náuticos.
Em terras alentejanas estas grandes massas de água atraem muita gente, para além da pesca, em busca de alguma frescura no verão.
Ao longo do tempo foram surgindo esporadicamente alguns equipamentos de apoio a diversas actividades, conjugando-se assim o interesse das entidades públicas, empresariais e dos utentes. À excepção de alguns aproveitamentos turísticos mais ambiciosos, na maior parte dos casos, tudo se resume a pequenas infra-estruturas.
Os principais utilizadores destes lagos artificiais são oriundos das suas proximidades e são da classe média e baixa.
Também eu sou utilizador das albufeiras, com especial incidência, nos últimos anos, da albufeira de Montargil.
Aí tenho passado muitos dias na companhia de familiares e amigos desfrutando de horas de lazer, a navegar numa pequena embarcação, a motor que possuo, ou banhando-me nas pequenas praias de areia ali existentes.
Apesar das condições paisagísticas excepcionais da albufeira nunca ali registei qualquer intervenção ou melhoramento de conservação feito pela Câmara ou pelo Estado, nem sequer para limpar ou conservar as margens.
Há dois ou três anos, na sequência do plano de ordenamento da albufeira, lá surgiu a primeira e única intervenção das autoridades, nada mais, nada menos, do que um barco da GNR para fiscalizar os barcos de recreio e levantar contra-ordenações a quem navegue para além do que está previsto, apesar de inicialmente não existir qualquer sinalização e, de actualmente, apenas existirem alguns sinais nas margens, não visíveis de dentro de água. Mas não se pense que as áreas agora protegidas têm algum sentido, nada disso, basta dizer que a parte mais larga da albufeira, onde se localiza o parque de campismo e onde se encontra em construção novos equipamentos turísticos, está interdita à navegação.
Esta pseudo protecção do ambiente, talvez se insira no recente conceito de turismo de elite que, como se sabe, é contrário ao chamado turismo de massas, cujo expoente máximo da defesa de tal conceito se verifica na jóia da coroa, no que a albufeiras diz respeito, a do Alqueva onde, segundo me disseram, já se impedem as pessoas de fazerem piqueniques. Não sei se isso é verdade, mas confesso que, se for, não me surpreende.
Não tenho nada contra o pensar em grande quando se planifica, mas já tenho sérias reservas à saloiice de se julgar que à volta da albufeira do Alqueva se vão localizar apenas resortes e empreendimentos de luxo. Sejamos realistas, Alqueva constitui uma óptima oportunidade turística, mas será fundamentalmente procurada pelas classes médias, sem prejuízo de surgirem algumas unidades para a classe alta tendo fundamentalmente o golfe como principal atracção, isto se os grandes planeadores da “coisa” permitirem a sua construção. O resto é conversa da treta. Não vai haver voos para Beja com turistas de luxo nem milhares de camas para os alojar.
Era bom que, com os pés bem assentes na terra, com uma visão para o futuro, mas conscientes da realidade presente, se aproveitasse e desse condições de utilização aos utentes de proximidade. Os príncipes ou os artistas de Hollywood jamais virão às albufeiras do Alentejo, há por esse mundo fora milhentas ofertas muito mais atraentes para eles.
Sejamos realistas, antes de se pensar em grandes voos era melhor que, por exemplo, se pensasse em criar um espaço comercial, junto da barragem do Alqueva, digno de um pais civilizado e acabar com aquele “abarracamento terceiro-mundista” que por lá se vê.

09/07/07
José Faustino

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