quinta-feira, 19 de julho de 2007

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Lições de Lisboa - Eduardo Luciano

quinta-feira, 19 Julho 2007
Olhando para o processo que levou às eleições intercalares para a Câmara de Lisboa, para a campanha eleitoral que se lhe seguiu e para noite eleitoral, não podemos evitar parar para reflectir sobre o estado da democracia e sobre as razões pelas quais as pessoas se afastam discussão da coisa pública.
O anterior executivo camarário foi incensado em lume brando durante meses, insistindo num arrastar de indecisões, dívidas, processos judiciais, em que o interesse de alguns se sobrepôs ao interesse comum dos lisboetas.
Depois foi aquela anedota do sai não sai do presidente em exercício que se arrastou mais uns meses e culminou na queda ao retardador do executivo, sendo que o seu presidente nunca renunciou ao mandato, para ter a possibilidade de um ajuste de contas com o partido pelo qual tinha sido candidato.
Tivemos uma campanha eleitoral em pleno período de férias com os candidatos à procura de lisboetas para contactar e, pelo que se viu nas televisões, a encontrarem habitantes dos subúrbios que votam fora da capital.
A culminar tudo isto tivemos uma noite eleitoral delirante.
O partido mais votado elegeu seis vereadores num universo de dezassete e, pela primeira vez na história da democracia, o presidente da câmara da capital foi eleito com os votos de pouco mais de 10% dos eleitores inscritos.
Apesar disto, foi numa sala cheia de alandroalenses que tinham ido a uma excursão a Mafra e acabaram no Altis sem saber porquê, de famalicenses e cabeceirenses que tinham a Fátima e ao Oceanário e que foram desviados até ao mesmo local, que António Costa sorriu de contentamento pela extraordinária vitória obtida.
O PSD e o CDS, fulminados pelos resultados obtidos entraram em processos autofágicos que irão alimentar as guerras internas entre os habituais barões. Mas nem isso os impediu de fazerem declarações de derrota repletas de esperança numa vitória em 2009, não percebendo que durante muitos anos os lisboetas nem vão querer ouvir falar da sua existência.
Depois tivemos os independentes de última hora que tentaram passar uma imagem de vitória absoluta contra as máquinas partidárias, com o seu discurso cheio de supostas novidades, apostando na fraca memória colectiva de que parece padecer a nossa gente.
Será bom lembrar que a “cidadã independente” Helena Roseta foi a mesma cidadã que, enquanto militante do PS, escreveu uma carta ao secretário-geral do seu partido a propor-se como sua cabeça de lista à Câmara de Lisboa. Ou seja em Março assumia que queria ser candidata partidária, em Julho gritava aos quatro ventos as virtudes dos movimentos de cidadãos longe dos “horrores” das máquinas dos partidos.
Mas o grande “vitorioso” da noite foi o independente Carmona Rodrigues, esse mesmo. O mesmo que foi eleito vice-presidente da câmara no tempo de Santana Lopes, ministro no governo PSD, presidente da câmara eleito pelo PSD até há dois meses atrás. Ou seja, um homem que fez toda a sua carreira política ao colo de um partido, de repente descobre as virtudes da cidadania supostamente livre.
Percebem as razões pelas quais só 37,39% dos eleitores do concelho de Lisboa se dispuseram a votar?
É certo que fizeram mal. O poder castiga-se mudando o sentido de voto para não perpetuar no poder os da rotação de sempre. Mas que atire a primeira pedra quem nunca ficou desanimado ao ponto de virar as costas.
Esta é a última crónica antes do período de férias, por isso desejo, aos que o que o puderem fazer, o cumprimento integral do n.º 2 do Art.º 211 do Código de Trabalho, ou seja gozem-nas de modo a possibilitar a vossa recuperação física e psíquica.

Encontramo-nos por cá em Setembro

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