COMENTÁRIOS EM PÉ DE PÁGINA - RUBRICA DE ANTÓNIO BERBÉM

O Concelho do Alandroal, 54ª freguesia de Lisboa?

I.As surpresas e até o risível em política atingem-nos onde, às vezes, em democracias abertas e consolidadas, já não seria previsível que tal viesse a acontecer. Muitas vezes ferem a dignidade humana. Mas em outras ocasiões, vão sufocando lentamente mesmo aqueles que julgam apenas caminhar de vitória em vitória, até uma derrota final.
II.Era uma noite mais de festa eleitoral. O vencedor antecipado estava encontrado. Era do Partido Socialista. Mas talvez um tanto incomodado com o peso mínimo dos votos com que tinha sido eleito, haveria de proclamar quando chegou a sua vez, um bem frouxo, se bem que pragmático discurso da vitória. As Televisões faziam o seu papel em directo, comentando o facto, democraticamente extravagante, de António Costa o vencedor ter muito menos votos do que o M. Maria Carrilho vencido. Coisas da nossa democracia, é claro, e que deram para de imediato se perceber que a oposição critica ao governo, não terá deixado de avisar ou de oportunamente vir a fazer-se sentir.
Estávamos nisto. Mas então, não é que, de repente, o Alandroal passou a ser uma das «vedetas» da noite…
«Aqui Viemos sem saber como… e porque sim» disse um dos entrevistados! Miguel Sousa Tavares, ferino, apontou de imediato e com razão o caciquismo relho e paga-pouco destas passeatas.
III. Os motivos do passeio já toda a gente e todo o país conhecem e glosaram. Prosaicamente pode dizer-se que a causa principal deste “desatino/desaforo partidário”…desta vez socialista embora com velhas raízes em Portugal, foi só e apenas mais uma Excursãozita. Simplesmente até Mafra. Simplesmente até à rua do Hotel Altis onde, aliás, alguns ficaram entalados na porta…e nem sequer puderam entrar.
IV. Talvez este último incidente “não seja relevante”segundo M. Calha. Mas o que será certamente bastante desagradável são “os efeitos negativos” que estes factos acarretam para os próprios mentores e organizadores de tão ultrapassadas e pacóvias manifestações.
Impressionou a falta de tacto político e a demonstração de uma pura e desenfreada manipulação política. Deve magoar qualquer um a falta de respeito pelas pessoas. O país se sorriu e compreendeu, deve também ter-se interrogado se o ridículo, sobretudo em política, já alguma vez compensou? Conforme o insuspeito Vital Moreira comentou: “O Concelho do Alandroal não merecia ser exposto e estar a mercê de tanta falta de bom senso. O PS deixou de ser um partido moderno e europeu?
V. E logo agora, alandroalenses, haveria de suceder-nos uma coisa destas numa altura em que os eleitores estão cada vez mais exigentes em relação aos políticos e aos partidos que os representam.
Será que no Alandroal ainda não perceberam que o eleitorado está cada vez menos ancorado e que é extremamente sensível às conjunturas e às más / repetitivas prestações políticas e sociais também na nossa Terra, bastante recentes e discutíveis?
Para ser mais directo, pergunta-se se o Partido Socialista concelhio não tem nada a ver com as sequelas deste desprestigiante episódio, e não quer emendar-se e estar disponível para emendar a mão, pedindo desculpa aos alandroalenses?
Estará por conseguinte a faltar ao Partido socialista local, um discurso e uma prática política com um mínimo de verdade e ética? Já começou a valer tudo e tão cedo? Qual o grau de confiança que devem inspirar-nos os actuais autarcas no próximo futuro?
VI. Perguntamos também, se face aos níveis de abstenção verificados, Lisboa foi abusada pelos candidatos e reagiu mal? Lisboa terá sido nestas eleições a amostra fiel do país inteiro… e os Alandroalenses apenas a parte cómica de uma cena triste onde nos apresentaram apenas como infímos actores que só servem afinal para excursionar e agitar bandeirinhas?
Será que optando por este caminho, podemos esperar que a autarquia se mantenha capaz de continuar a promover o respeito pelas pessoas e a adoptar uma estratégia participada de desenvolvimento adequada a todo o Concelho?
VII. Finalmente todos ouvimos na noite das eleições em Lisboa e cada um à sua maneira dizer e prometer uma vez mais que iam reflectir. Pois bem, no Alandroal depois do aparente fracasso da Expo Guadiana, da euforia esvaziada das Excursões e Viagens tropicais desnecessárias, depois dos azares da Entrevista…ficará tudo como dantes? Ou será que somos todos tímidos e estamos algo envergonhados “com os nossos próprios populares alandroalenses” que desembarcaram no hotel Altis sem nunca lá terem entrado.
Presos que ficaram numa das portas demasiado giratórias que pouco têm a ver com a nossa realidade, o nosso modo de vida e as enormes dificuldades sociais. Sem cerejas, nem bolo que se veja. Talvez apenas repetindo mais um dos antigos e já gastos pirolitos…

António Neves Berbém
Julho/XVIII/MMVII