sexta-feira, 22 de junho de 2007
OS SANTINHOS POPULARES - SÃO JOÃO
A uma velha capa
(Augusto Gil)
A uma velha capa que São João deixou,
A Virgem Maria ainda a aproveitou...
Escolhendo a parte menos gasta e puída,
Desfaz-lhe as costuras, tira-lhe a medida,
Talha uma roupinha para uma criança
Que era a mais rotinha das da vizinhança.
Prestes a alinhava, logo a cose e prova.
Que linda, que linda! Parecia nova...
Nesse tempo a Virgem quantos anos tinha?
Não ficou a conta. Era já velhinha...
Dava o sol na casa: Brasas de fogueira...
...Horas de descanso, horas de quebreira...
– E da idade, e de cansaço, e de calor –
Lento, a invade toda, um dúlcido torpor...
...Fecham-se-lhe os olhos, e descai-lhe a agulha...
...Passa uma andorinha. Uma rolinha arrulha.
As mãos escorregam, ficam-lhe pendentes...
...As cigarras cantam nos trigais dormentes.
E a pendida fronte, -- ainda mais pendeu...
E a sonhar com Deus, com Deus adormeceu.
Pôs-lhe um manto um anjo, curva-se a compô-lo,
E outros anjos descem, pegam nela ao colo...
Com as leves mãos (penugens de andorinhas)
Vão-na embalando como às criancinhas...
E embalando-a, voam, lá se vão com ela!...
Já lá vai mais alta que a mais alta estrela!...
Outros anjos chegam, querem-na cantar.
Caluda, caluda, que pode acordar...
Que as almas dos justos um hino concertem!
Silêncio, silêncio. Que não a despertem...
Jesus abre os braços, e já quer beijá-la,
Mas pára, detém-se, que pode acordá-la...
E a mãe da Senhora pediu-lhe a sorrir:
– Mais logo... mais logo... Deixai-a dormir...
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