quinta-feira, 21 de junho de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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A inauguração - Eduardo Luciano

Quinta, 21 Junho 2007
Confesso que não sou um adepto de inaugurações. Acho que não me consegui libertar das imagens da televisão a preto e branco, com o Américo Tomás de tesoura na mão e uns quantos cavalheiros a baterem palmas.
Percebo a importância de dar a conhecer uma nova obra ou funcionalidade, mas já não consigo entender que se faça desse anúncio uma espécie festa de casamento onde toda a gente tenta aparecer na fotografia, ao lado dos noivos.
Sempre achei ridículo aquele alinhamento de personalidades a olharem para o “promotor” da obra para beberem as palavrinhas de ocasião. E quando menor é a obra, mais ridícula acho a inauguração.
Vem esta prosa a propósito da inauguração de uma magnífica obra de adaptação das instalações do antigo terminal rodoviário em parque de estacionamento, e que consistiu na demolição das bancas de venda existentes, na limpeza do espaço e na marcação dos respectivos lugares de parqueamento.
Na inauguração dessa obra fantástica estiveram presentes os Senhores Presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal, a Senhora Governadora Civil e uma Senhora Vereadora.
Ou seja, os lugares de estacionamento tiveram a bênção dos mais altos representantes do município e da representante do governo no distrito de Évora.
Questionei-me, quando passava à porta da “ex-rodoviária”, se não bastaria um pouco de publicidade no jornal local, paga ou não, a anunciar a nova funcionalidade disponível entre os dias 22 de Junho e 1 de Julho. No fundo, tratava-se apenas, segundo o que foi aprovado em reunião de câmara, de uma solução temporária para a supressão do estacionamento no Rossio durante a Feira de S. João.
Aguardei ansiosamente pela reportagem do jornal local, para poder verificar com que aspecto tinha ficado o espaço adaptado. Em vão. Afinal as fotografias da inauguração, de generosa dimensão e destaque de primeira página, não mostravam a obra inaugurada mas antes os inauguradores mais ilustres.
Ou seja, a cerimónia serviu, antes de mais, para celebrar a existência dos inauguradores.
Tudo isto seria apenas mais uma cena de um filme em que os protagonistas se esforçam por cair no ridículo, se não fosse mais um contributo para o distanciamento dos cidadãos da nobre função política.
Num mundo “perfeito” o decisor político cumpria a sua obrigação sem necessidade de se colocar de dedinho no ar a dizer “fui eu que fiz”, acreditando na inteligência dos eleitores na altura do exercício do direito de voto.
Mas como este mundo está longe de ser perfeito, a regra parece ser outra. Anunciar tudo, o que supostamente se manda fazer, com pompa e circunstância mesmo que se trate de uma simples adaptação espacial a uma nova funcionalidade, contra a qual, aliás, nada tenho.
É por isso que cada vez são menos os que procuram participar quando são convidados para o fazer.
A sessão extraordinária da Assembleia Municipal realizada no último sábado, sobre a Igualdade de Oportunidades para Todos, é disso um exemplo marcante.
Convidadas mais de seis dezenas de associações que trabalham no âmbito dessa temática, os dedos de uma mão quase chegavam para contar as que estiveram presentes.
Já são muito poucos os que estão dispostos a fazer de figurantes, em celebrações de onde se extrai muito pouco para benefício da comunidade, mas onde se constroem belos álbuns fotográficos.
A única forma de tentar alterar este crescente virar de costas é dar mais protagonismo a quem faz e menos protagonismo a quem manda. É dar mais visibilidade à obra do que ao seu promotor. É tratar o cidadão como um ser inteligente e não como massa para manipular.

Até para a semana

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