quinta-feira, 14 de junho de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Igualdade de oportunidades para todos - Eduardo Luciano

Quinta, 14 Junho 2007
Por decisão do Parlamento Europeu e do Conselho, 2007 foi instituído como o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos.
Pretende-se com esta iniciativa a intensificação de esforços no combate à discriminação em razão do sexo, raça ou origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual. Todas as iniciativas que contribuam para a sensibilização dos cidadãos sobre a problemática da discriminação são, naturalmente, de louvar.
Mas é estranho que, na enumeração das discriminações inibidoras de uma real igualdade de oportunidades, esteja excluída aquela que é a mais determinante e principal fonte de desigualdade: a distribuição da riqueza produzida.
A pobreza, as dificuldades de acesso à educação de qualidade, a precariedade laboral, o acesso ao mercado de trabalho, a criação de condições discriminatórias de acesso a cuidados de saúde, são exemplos de factores impeditivos da apregoada igualdade de oportunidades.
Não deixa de ser paradoxal que a mesma sociedade que todo os dias nos instiga para a competição, para o cada um por si, que endeusa o sucesso, que nos vende a ideia que o segundo é apenas o primeiro dos últimos, promova iniciativas que pretendem apelar à igualdade de oportunidades. É como promover a lei da selva como a única que serve para seleccionar os mais capazes e, de vez em quando, sensibilizar o predador para as fragilidades das suas vítimas. É tão paradoxal que há quem entenda que é hipócrita.
Num país onde o fosso entre os mais ricos e os mais pobres é o maior da União Europeia, onde um gestor numa empresa privada chega a ganhar 130 vezes mais que um trabalhador que aufere o salário mínimo nacional, onde as políticas do governo parecem contribuir ainda mais para o acentuar desta desigualdade, restringindo direitos duramente conquistados e tratando os trabalhadores como uma casta de privilegiados, estas iniciativas ainda me parecem mais estranhas.
Obviamente que o chamar de atenção para a necessidade de políticas de inclusão, para a necessidade de uma educação para a cidadania baseada no respeito pelo outro é algo de positivo que se retira da exposição mediática do assunto. Mas apenas isso.
Quando acabarem as iniciativas, as desigualdades de oportunidades continuarão a existir e o caminho a percorrer para as eliminar estará por fazer. As mulheres continuarão em média a ganhar menos que os homens, as trabalhadoras com filhos pequenos continuarão a ser preteridas no acesso ao mercado de trabalho, os que fogem ao estereótipo de beleza actual continuarão a ser subavaliados nas entrevistas profissionais, os pretos e os ciganos continuarão a ser estigmatizados, os deficientes continuarão atirados para funções menores e se possível longe do olhar de quem passa.
Mais do que falar dos problemas, quantas vezes sob a forma de auto elogio no realçar desta ou daquela medida de reduzido alcance, como forma de aliviar a má consciência, são necessárias acções e políticas concretas para a promoção de uma maior justiça social, se é que isso é possível com este modelo de sociedade.
Como alguém afirmava, “não é por dizer 100 vezes a palavra açúcar que se me adoça a boca”.
Não é por se afirmar 1000 vezes que se é pela igualdade de oportunidade para todos, que se alcança esse desiderato.

Até para a semana

2 comentários:

Anónimo disse...

http://cafecurtoemborba.blogspot.com/ novo espaço de reflecçao borbense.

Silvério disse...

Excelente comunicação. Pôr excluídos a festejar o combate à discriminação, é como por os que têm fome a partilhar a sua comida. Parece-me que alguém importante não quer sujar as mãos neste tipo de assuntos sem importância, então prefere que sejam os portugueses a cavarem a sua própria cova. Em vez de estarmos preocupados com as injustiças de que somos alvo é muito mais conveniente que nos preocupemos com as injustiças que fazemos aos outros. Ou seja não há comida para ninguém enquanto não houver para todos, excepção feita aos senhores no poleiro.