quarta-feira, 18 de abril de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Crónica de Hélder Rebocho

Quarta, 18 Abril 2007
A recente polémica em torno das habilitações do Primeiro-ministro e o interesse que tem despertado na opinião pública revelam alguma tendência para a mesquinhez, bem ao jeito das revistas “cor-de-rosa”.
No quadro de outra maturidade política, os Portugueses não se preocupariam em saber se José Sócrates é de facto Engenheiro ou outra coisa qualquer, ou seja, não importaria tanto sindicar as suas habilitações literárias, mas antes o seu trabalho como Chefe do Governo.
A Lei não estabelece a licenciatura como requisito para o exercício do cargo de Primeiro-Ministro e o bom senso deveria exigir, apenas, competência, traduzida na capacidade de governar um País de acordo com as suas necessidades e potencialidades, fazendo as escolhas que mais se adequam ao seu progresso e desenvolvimento.
Muitos dos que agora se interessam pelas habilitações de José Sócrates, nem sequer se preocupam em avaliar os dados relativos ao crescimento do desemprego em Portugal, nem dão qualquer relevância á problemática dos impostos, ás consequências da deslocalização de empresas, á reforma da administração pública ou às repercussões económicas e ambientais que projectos como a OTA ou o TGV podem ter para o nosso país.
Nada disso interessa, desde que haja notícias sobre o diploma universitário do Primeiro-ministro, quando afinal os Portugueses deveriam preocupar-se mais com a sua actuação do que com a sua formação.

As consequências desta mentalidade “noveleira” ficaram bem patentes na entrevista televisiva da passada semana, em que o tema dominante girou em torno da licenciatura de José Sócrates, enquanto os temas fundamentais para o País foram aflorados de forma ligeira e em segundo plano.
É necessário que se perceba que as habilitações do Primeiro-ministro ou as irregularidades em torno do diploma não são nem podem ser transformadas numa questão política, por uma razão muito simples, não tem dignidade nem relevância prática na governação do país, constituindo uma questão pessoal, que não fosse outra polémica, esta em torno da Universidade Independente, nem sequer viria a lume.
Se houve falsificações, favorecimentos pessoais ou qualquer outra ilegalidade, quem tem competência para o efeito que investigue, porque o Primeiro-ministro não está acima da lei, mas daí a transformar esta questão num caso político de interesse nacional vai uma grande distância ou deveria ir.
Alimentar esta polémica é contribuir para desviar as atenções dos portugueses das importantes decisões políticas que podem comprometer o futuro de Portugal.
Construir um prédio não é o mesmo que construir políticas justas e adequadas para um país, por isso se José Sócrates não tem sido certeiro nas suas reformas não é certamente por qualquer falha nas suas habilitações literárias, mas antes na sua capacidade de governação e de opções políticas, estas sim, a carecerem da atenção dos Portugueses.

Num país com tantos problemas sérios e decisões importantes para tomar não me parece que o curriculum académico do Primeiro-ministro seja merecedor de tanta atenção e destaque.
Mais do que as habilitações literárias, aquilo que releva é o acerto ou desacerto das opções políticas e o rumo trilhado na governação do País.
Releve-se o que é importante e secundarize-se o acessório, a começar pelo próprio Primeiro-ministro que em recente entrevista televisiva passou mais tempo a justificar o seu grau académico, contribuindo assim para alimentar esta polémica inócua, do que a justificar as polémicas opções políticas do seu governo

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