
Crónica de 5 de Abril de Eduardo Luciano
Quinta, 05 Abril 2007
O denominado Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado, PRACE para os amigos, começa a fazer vítimas entre os trabalhadores da administração pública.
Durante muitos meses o governo foi gerindo de forma particularmente eficiente as previsíveis tensões que as medidas anunciadas iriam despoletar.
Criando um clima onde se misturou o medo, a indiferença e incredulidade entre os trabalhadores.
Uns passaram a olhar por cima do ombro receosos de possíveis represálias, outros assobiaram para o lado convencidos de que tudo o que se anunciava acabaria por não passar de meras ameaças, outros ainda, convenceram-se que esses desastres só aconteciam ao vizinho do lado.
Durante meses o governo foi paulatinamente fazendo sair Leis Orgânicas, Regulamentos e outros normativos que permitiriam empurrar para listas de trabalhadores dispensáveis, milhares de funcionários públicos.
Durante estes meses as condições de trabalho deterioraram-se, aumentou substancialmente a desmotivação e acentuou-se a incerteza quanto ao futuro dos serviços públicos como os conhecemos hoje.
Mas apesar de tudo encontravam-se opiniões entre os trabalhadores de que as coisas não seriam como os sindicatos as estavam a pintar.
Com a saída das primeiras listas nominais de trabalhadores a serem colocados na denominada mobilidade especial, com reportagens televisivas em que funcionários do ministério da agricultura usam o mesmo discurso que qualquer trabalhador à porta de uma fábrica falida no Vale do Ave, mesmo os mais crédulos nas políticas deste governo sentiram uma estranha sensação de desconforto.
Parece que finalmente toda a gente percebeu que o seu nome poderia constar de uma qualquer lista de dispensáveis, independentemente do número de anos de função pública.
O executivo tentará diluir no tempo a aplicação destas medidas gerindo a publicação das Leis Orgânicas e das listas de dispensáveis, para que a contestação seja sempre vista como de uns poucos de cada vez, guardando os sectores mais sensíveis para o segundo semestre deste ano.
Entretanto apelará ao patriotismo e à defesa do interesse nacional, vendendo a ideia que durante a Presidência Portuguesa da União Europeia deve ser mantida a mais perfeita paz social.
É como se numa guerra o agressor pedisse à vítima de agressão que se abstivesse de resistir.
Pelo que vejo e oiço de gente insuspeita de simpatias por movimentos sindicais, gente que nunca fez uma greve na vida e que até achava um exagero as notícias sobre os resultados do PRACE, não me parece que as coisas vão ser assim tão fáceis para o Governo.
Ouvimos nas notícias, há duas semanas, que faltavam anjinhos para uma tradicional procissão em Guimarães.
Na administração pública também começam a faltar trabalhadores que queiram representar esse papel.
Até para a semana
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