quarta-feira, 4 de abril de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Crónica de 4 de Abril de Hélder Rebocho

Quarta, 04 Abril 2007
O escândalo das últimas semanas parece ter sentenciado a Universidade Independente ao encerramento compulsivo.
Depois do “caso Moderna”, as universidades privadas voltam ao centro das atenções da opinião pública e dos investigadores criminais, pelas piores razões claro está.
A abertura do ensino superior à iniciativa privada não assentou em critérios objectivos, de natureza pedagógica e profissional, por isso foi um processo que nasceu torto, viciado pela ambição do “canudo” que os “númerus clausus”, até então, reservavam apenas para alguns, aliada à ânsia do lucro empresarial dos investidores privados.
Temos de reconhecer que a rede de estabelecimentos de ensino superior públicos não tinha capacidade para absorver todos os candidatos ao almejado grau académico, por isso, o Estado acabou por facilitar liberalizando sem regras e critérios rígidos.
O primado do lucro fez proliferar Universidades privadas e cursos sem fim, a grande maioria, diga-se, situados naquelas áreas onde não é necessário grande investimento em material didáctico e professores.
Bastavam meia dúzia de salas, umas cadeiras, outras tantas secretárias e a universidade estava montada. Qualidade de ensino e rigor era o menos importante, aliás quanto menos melhor, porque os alunos pagavam e portanto, o importante era passar. Quanto mais fácil fosse a admissão e a conclusão do curso, maior seria o lucro, por isso, facilitar sempre foi a palavra de ordem.
Foi neste contexto de interesses empresariais que nasceram e proliferaram muitas universidades privadas, não todas, porque não podemos incorrer na injustiça de fazer pagar o justo pelo pecador, pois existe em Portugal ensino superior privado de muita qualidade.
Infelizmente falamos de uma reduzida minoria de estabelecimentos de ensino.
Pela sua dimensão, sobretudo em termos de mercado de trabalho, Portugal não necessitava de tantas universidades privadas, facto que resulta evidente no número de desempregados licenciados, que sendo elevado, continua a engordar anualmente.
Precisava, isso sim, de um pequeno ensino superior privado de qualidade, com regras rigorosas de admissão, de ensino e de gestão.
Não foi, no entanto, esta a opção dos nossos governantes e por isso a proliferação e a cultura do facilitismo rapidamente abalaram a credibilidade e o prestígio de muitas universidades privadas, de tal modo, que a origem do diploma acabou por se constituir como um dos critérios a ter em conta no acesso ao mercado de trabalho.
O ensino superior privado poderia ter um papel preponderante como complemento do ensino superior público, designadamente naquelas áreas mais deficitárias de licenciados ou baixareis, como a saúde por exemplo, assim o Estado tivesse direccionado as autorizações de abertura de cursos, naqueles estabelecimentos de ensino, em função das necessidades de mercado.
Este seria o pressuposto para um ensino superior privado de qualidade, com benefícios evidentes para os alunos e para o país.
Ter-se-ia evitado a proliferação de universidades privadas e a multiplicação astronómica de cursos e de pólos, que transformaram estas universidades em negócios de elevada rentabilidade para os seus promotores que rapidamente adoptaram o primado do lucro sobre a qualidade do ensino, tudo com desprezo pelos alunos.

À carência de prestígio resultante da qualidade de ensino, junta-se agora a suspeição dos negócios colaterais a essas universidades, tudo com a cumplicidade do Estado que não soube programar e fiscalizar antes que se tornasse necessária a intervenção dos investigadores criminais.

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