quarta-feira, 28 de março de 2007

CRÒNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Crónica de 28 de Março de Hélder Rebocho

Quarta, 28 Março 2007
A celeuma em torno da construção do novo aeroporto de Lisboa que está instalada na opinião pública é um significativo sinal dos tempos, que ilustra a preocupação dos Portugueses em relação a obras públicas susceptíveis de absorver avultadas quantias de um erário público em crise evidente.
Muito se tem debatido e questionado a necessidade de construção do novo aeroporto, sobretudo tendo em conta a relação custo/benefício que pode resultar desta obra de monta.
Não tenho dúvidas que o aeroporto da Portela poderá a médio prazo atingir o colapso, porque o crescimento urbanístico que se verificou na sua periferia impede, desde logo, que se equacione qualquer projecto que passe pela sua expansão para além dos seus limites, que refira-se, nem sequer foram ainda atingidos.
A previsível asfixia do actual aeroporto de Lisboa nem sequer é um tema de hoje, pois desde o início dos anos 70 que é objecto de debate, chegando, inclusive, a ser equacionada a construção de um novo aeroporto, curiosamente em Rio Frio, localidade que foi destronada pela Ota como opção para a fixação daquela infra-estrutura.
Será, assim, inevitável a construção de um novo aeroporto que sirva Lisboa no futuro.
Não me parece no entanto, devidamente ponderada a necessidade de avançar, de imediato, para esta obra pública, sobretudo tendo em consideração a actual conjuntura económica do País.

Falamos de um investimento cujos custos finais poderão rondar, segundo algumas estimativas mais recentes, cerca de 3.000 milhões de euros e que apenas será comparticipado numa pequena percentagem.
Por muito menos, poderiam realizar-se obras na Portela que prolongariam a vida útil deste aeroporto por mais dez ou quinze anos.
O actual aeroporto está condicionado pela falta de segurança, dada a sua localização no perímetro urbano de Lisboa, mas será que a Ota será mais segura?
Tendo em conta os estudos já realizados, quer quanto à morfologia do terreno, quer no tocante à previsível expansão urbanística, provavelmente não será o melhor local para instalar o futuro aeroporto, que a breve prazo poderá revelar-se menos seguro que o actual.
Por outro lado, a evolução do tráfego no aeroporto da Portela tem crescido abaixo das previsões que foram feitas no início dos anos 70, quando se projectou para a década de 80 uma média de nove milhões de passageiros, que apenas foi atingida no final dos anos 90.
Significa isto, que o actual aeroporto ainda tem capacidade para se manter em funcionamento para além do final da década, restando saber se não se manterá em funcionamento mesmo depois da construção do novo aeroporto, pois o projecto Ota apenas comporta duas pistas - curiosamente as mesmas de que dispõe a Portela - o que segundo alguns especialistas será insuficiente para o crescimento do tráfego projectado para os próximos anos.
Não me parece, assim, que a construção imediata do novo aeroporto fosse um imperativo ou uma prioridade, para um país em crise económica, pelo menos enquanto se pedirem sacrifícios aos Portugueses.
É um contra-senso pedir constantemente aos Cidadãos e Instituições mais um aperto no cinto e continuar a investir milhões de euros em obras de urgência e utilidade imediata duvidosa.
Este país onde existem listas de espera nos hospitais, doentes a percorrer dezenas de km para obter assistência médica, tribunais obsoletos e sem condições de trabalho e universidades sem meios financeiros para assegurar o seu funcionamento, já para não falar nos reformados que sobrevivem com 150,00 €. de pensão mensal, é o mesmo que no espaço de menos de dez anos investiu milhões de euros na organização da Expo 98, do Euro 2004 e que se prepara agora para construir um novo e moderno aeroporto, que nem sequer é absolutamente necessário.
O nosso governo pretende colocar Portugal nos bicos dos pés às costas dos Portugueses, é um País pobre com a mania das grandezas que é capaz de passar fome para aparentar prosperidade e que no essencial caminha cada vez mais para a cauda da Europa.
Já sabemos que o sonho dos nossos governantes é deixar obra feita, desafortunadamente é só obra de betão, porque de outras obras e medidas mais urgente e valorosas nem a ponta aparece e não é difícil perceber porquê.
São bonitas as declarações de amor pelo ensino e pela justiça social ou as promessas dos benefícios do inovador choque tecnológico, mas estas obras não dão garantias de resultados, ao passo que a obra de betão é bem visível, tão visível que parece funcionar como manto para tapar a estagnação e a crise económica em que o País está mergulhado.
Enquanto se discute se avança ou não a construção do novo aeroporto, se fica na Ota ou em qualquer outro sítio, 100 mil milhões de euros já voaram dos bolsos dos contribuintes só para os estudos prévios.

Por isso questiono-me se não será por estas e por outras que 33 anos depois do 25 de Abril, Salazar se perfile nos lugares cimeiros para a eleição de Português do Século.

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