sexta-feira, 9 de março de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Cortesia da : http://www.dianafm.com/

Dia da mulher, todos os dias - Eduardo Luciano

Quinta, 08 Março 2007
Hoje é um dia especial. As floristas melhoram o seu negócio, os restaurantes melhoram ligeiramente a sua taxa de ocupação e os homens procuram realizar um maior número de tarefas domésticas.
Hoje é Dia Internacional da Mulher e, com o tempo, aquilo que começou por ser uma homenagem a todas as mulheres e homens que através dos tempos lutaram pela igualdade de género, transformou-se num dia de S. Comerciante em que o que importa é assinalar a data, mesmo ignorando a sua origem.
Estão a imaginar aqueles homens que vão comprar uma flor para cada colega de trabalho, a questionarem-se sobre o que teria levado centenas de mulheres a saírem à rua em Nova Iorque no dia 8 de Março de 1857?
Ou aquele que passa o ano inteiro a fingir que essa coisa das tarefas domésticas é com a parceira lá de casa e que hoje se vai oferecer para lavar a loiça, a tentar saber porque razão só em 1931 foi reconhecido, em Portugal, o direito de voto a algumas mulheres?
Estão mesmo a vê-los preocupados com o facto de, apesar de legalmente reconhecido, desde 1969, o princípio do salário igual para trabalho igual, ainda hoje a mão-de-obra feminina ser paga de forma diferenciada em alguns sectores e para algumas tarefas?
Posso estar a ser pessimista, mas pelo que vejo nas atitudes do dia a dia, muitos ainda se espantarão se lhes disserem que desde 1910 que a mulher não deve obediência ao marido.
Este dia deveria ser aproveitado para falar dessas coisas. Para discutir abertamente as diferenças entre a igualdade formal, legalmente garantida, e a prática diária sustentada nos argumentos estafados dos hábitos culturais ou das práticas enraizadas.
Eu sei que o caminho para a igualdade se faz devagar, muito devagar. A revolucionária alemã Clara Zetkin propôs em 1913 a instituição do 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher, imaginem que só foi instituído em 1975.
Em Portugal, o acesso das mulheres à magistratura e à carreira diplomática só foi possível com os diplomas legais publicados em Junho e Julho de 1974 e só em 1978, com a entrada em vigor da revisão do Código Civil, a mulher deixou de ter estatuto de dependência em relação marido.
Hoje é preciso lembrar que muito falta ainda fazer para que a cidadania seja plena independentemente do género a que se pertence. É preciso lembrar que entre a prática social e as garantias legais, continuam a existir para muitas mulheres verdadeiros muros intransponíveis que as impedem do exercício pleno dos mais básicos direitos humanos, como o direito de ter opinião dentro da sua própria casa ou o direito à inviolabilidade da sua integridade física.
Nada tenho contra as rosas e os cravos que os homens oferecem neste dia. Mas gostaria sinceramente que representasse um gesto de reconhecimento de um ser humano igual em direitos e deveres em vez de uma forma envergonhada de pedir desculpa por não sermos capazes de o fazer nos restantes 364 dias do ano.

Até para a semana

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