quarta-feira, 7 de março de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Cortesia da : http://www.dianafm.com/

Crónica de 7 de Março de Hélder Rebocho

Quarta, 07 Março 2007
A saúde em Portugal não está bem, está doente, muito doente e necessita urgentemente de uma intervenção que a retire do coma cada vez mais profundo em que mergulhou. Que o digam aqueles que necessitam de recorrer aos serviços públicos de saúde.
Por isso, o Governo decidiu proceder à requalificação dos serviços de urgência.
O método escolhido, no entanto, não se tem revelado como o mais adequado à transição e como resultado em vez de contribuir para melhorar a qualidade dos serviços prestados aos utentes só tem dado origem a confusão e ao descontentamento generalizado.
O encerramento indiscriminado de serviços de urgência tem gerado nas últimas semanas um justificado e legítimo coro de protestos de populares, que em consequência da execução de uma reforma que deveria aproximar os cidadãos dos serviços de saúde, se vêm mais longe de uma urgência ou de um serviço de atendimento.
As unidades de saúde familiar já criadas são uma pequena gota de água no oceano. O sistema está longe de se poder considerar implementado e até lá deveriam manter-se em funcionamento muitos dos serviços de urgência que têm sido encerrados, de forma a garantir capacidade de resposta nos cuidados de saúde primários.
Muitas pessoas não compreendem porque motivos passaram a ter redobradas dificuldades no acesso aos cuidados de saúde.
Nesta medida são legítimos e genuínos os movimentos populares contra o encerramento das urgências, porque parecem corresponder a receios justificados das populações, sobretudo daquelas que vão ficar a mais de uma hora de distância de um serviço de saúde.
Tudo isto acontece porque a reforma em curso não deveria ser feita isoladamente, mas incluída numa reforma de fundo em todo o Sistema Nacional de Saúde, norteada pelos interesses dos utentes, pelo direito fundamental à saúde reconhecido a todos os cidadãos e não com base em critérios puramente economicistas tão queridos ao governo de José Sócrates.
Aos protestos, Correia de Campos reagiu distribuindo a culpa da indignação popular entre a ignorância e os lobbies da oposição, como forma de defender a bondade das medidas governamentais.
Se assim fosse, José Sócrates não recuaria como recuou perante algumas contestações populares, ou será que cedeu aos protestos porque percebeu que a estabilidade ditada pelas sondagens nem sempre corresponde aos sentimentos reais do eleitorado?
O arrepiar caminho que protagonizou só pode ser justificado com o reconhecimento da razão das populações e isso significa que as suas opções não são as melhores.
Seja como for, a sua imagem de governante determinado e corajoso que não sobrepõe critérios eleitoralistas ao rigor das medidas impopulares ficou definitivamente abalada.
O seu estado de graça está a ceder perante as consequências da sua governação.

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