O PAÍS LOCAL
1. Comecemos por dizer que a cimeira dos principais líderes e actores políticos nacionais na forma deste último debate mensal em teatro e acto parlamentar já conhecido, deixou uma vez mais uma penosa impressão e marca fundamental: ninguém sai das posições politicas que previamente definiu do “tudo ou nada pelo défice”, percebido e utilizado, como é fácil de ver, apenas como utilitária e preciosa arma de arremesso. Á semelhança, de resto, com o que já aconteceu várias vezes com a Educação.
E muito embora pela televisão pareça o contrário, o certo é que não está quase ninguém dentro do hemiciclo. Basta ir lá assistir, ver as bancadas quase vazias e o desinteresse de grande parte dos deputados. O país que se vá resignando e mais uma vez, ano após ano, o futuro que espere. Assim é, assim será.
2. As consequências são preocupantes. Em Portugal, passamos a vida a distrair-nos da realidade, achando normal que o país esteja continuamente a viver mal, senão pior, sem a aplicação de uma estratégia de sucesso e sem melhorias à vista em qualquer dos prazos que as considerarmos.
Daqui decorre um postulado: se o défice é a obsessão central, então, a obsessão por viver mal nunca estará em défice. A juventude e os mais idosos que se tramem como avisou um célebre economista do século passado. Até porque, afinal, a classe politica e todos os altos quadros empresariais ganham, acumulam cargos e governam demasiado bem a vida para o país em que vivemos. Recorde-se, aliás, que o governador do Banco de Portugal ganha bastante mais do que o Presidente da Reserva Federal Americana. Um dado que foi rapidamente escamoteado e ocultado.
3. Recorrendo, de passagem, a meia dúzia de dados concretos que ao Alentejo dizem respeito, vamos tendo em conformidade com o país, e já sem surpresas, um cenário que toca as raias do pior (sur)realismo:
“ O Alentejo ao chegar a 2006, tornou-se uma região desvitalizada: perdeu 33% da população nos últimos 50 anos (caiu de 802 mil habitantes para 535 mil em 2001); 48% da população vive de uma pensão; 10% dos trabalhadores estão desempregados e 30% (180 mil pessoas) da população vive na pobreza.
Foi este um dos resultados, quantificado sobre o Alentejo, apresentado na conferência “Alentejo: Desigualdades, Pobreza, Solidariedade, realizada em Beja (In Revista “Mais Alentejo”, 68/ Dezembro 2006).
4. Relacionando estes números com alguns dos diversos problemas do Concelho do Alandroal, cabe perguntar o seguinte: a nossa terra é efectivamente uma área viva ou desvitalizada? Quantos milhares de alandroalenses é que daqui saíram? A maioria da população vive de pensões? Qual é a percentagem e quantos dos nosso concidadãos vivem permanentemente na pobreza?
A democracia que por cá elegeu os autarcas em exercício, obriga-os a estarem atentos a estes problemas e a responderem a este tipo de questões? Sim ou não?...
5. Dito isto quase apetece perguntar, se será necessário fazer uma vez mais a releitura de Eça de Queiroz que esteve por Évora (e será que conheceu mesmo o Alandroal?...) para nos revermos uma vez mais, num certo olhar pessimista, desencantado e irónico sobre o país que temos e o Alentejo local que somos? Continuaremos a acreditar que aquilo que nos separa de um sério desenvolvimento local, vai basear-se apenas no «milagre do Alqueva» com meia dúzia de «óbvios campos de golfe» somente para passeio e devaneio de turistas ricos? Ou será que o Alqueva vai transformar-nos numa Colónia de férias para os europeus do norte endinheirados? Dois Políticos economistas à cabeça do Estado português, mais uns tantos presidentes locais das autarquias, conseguirão superando os limites do seu próprio alcance e mentalidade economicista, assumir uma visão diferente do grande Alentejo que desejamos? Socialmente justo e abrangente colocando-nos finalmente no trilho de um sólido desenvolvimento Autosustentado e com futuro?
6. Importa lembrar que segundo os últimos dados que se conhecem, em 2005 emigraram 100.000 portugueses; em 2006 cerca de 90.000. E aqui do Concelho, são já conhecidos minimamente alguns números? A autarquia mantém-se alheia a esta problemática e não é capaz de se pronunciar? E também não é capaz de se envolver directamente na área de Formação Profissional, apoiando, por exemplo, a criação/especialização dos primeiros técnicos ligados ao Turismo que de Juromenha parece soar? Que interesses vão estar verdadeiramente em jogo?
7. Ou, Infelizmente, continuamos com e sem o Alqueva, condenados à crise. Se assim for, pergunta-se, Portugal e o Alentejo transfronteiriços resistirão quantas mais décadas? Quantas, meus senhores?
A tecnocracia sem rosto e sem pátria já planeou e irá rapidamente tomar conta, à distância, da vida da nossa planície?
O Concelho do Alandroal corre o risco de se transformar num “sub-concelho” sem gente e sem trabalho qualificado para os jovens e para os que já cá estão, ficam e vão resistindo?
Ou estaremos a ser demasiado pessimistas e a visão apresentada, não serve para alertar, criticar e dirigir-se aos políticos locais, investidores e gestores económicos citadinos que apenas vão planeando e gostando mais de lucros do que dos países e províncias com as Gentes que os produzem?
Os números da decadência que apresentámos, são para serem corajosamente conhecidos e invertidos? Ou para serem escondidos e conduzir-nos a uma rápida insignificância total? Existe algum protocolo ou estudo específico que se tenha debruçado sobre a urgência de conhecer, debater e prever estes problemas e situações?...
Em que ficamos? Qual é, e como deve ser feito o ponto da situação?
António Neves Berbém
Mar. XXIV/ MMVII
P.S. - Como já afirmei tem sido um prazer colaborar no blog Alandro al.
Conto fazê-lo mais vezes. Acontece que por necessidades inadiáveis da minha vida de Formador e Professor do E. Superior, vou começar um curso de Pós graduação de ousada exigência.
Sendo assim permito-me pedir a elevada compreensão para o facto de ter de suspender Sine Die a minha colaboração no blog. Não se trata de uma qualquer desistência. Só que o tempo não é elástico.
Logo que possa voltarei a colaborar. Até lá resta-me agradecer aos que porventura leram os meus Comentários, as criticas e elogios que lhe fizeram valorizando-o.
Acredito que o único objectivo que deve mover-nos, é ter uma Vila e um Concelho cada vez melhor.
O Alandroal merece tudo de todos os que verdadeiramente lhe querem bem.
Um forte abraço,
António Neves Berbém
Sem comentários:
Enviar um comentário