segunda-feira, 12 de março de 2007

AO CORRER DO TECLADO

NÓS E OS OUTROS – O VASCO DA ANATOMIA

Tentar falar de outrem poderá entender-se como atrevimento, sendo sempre difícil e bastante melindroso pelas diferenças de opinião, e quando se trata de figura pública, é um exercício que nem sempre corresponde á expectativa de quem lê, tanto mais que poderá ser entendido por boa gente, como um pretensiosismo descabido ou uma fofoca das classes engraxadora ou ignorante, havendo sempre quem se dedique a verificar os pontos e as segundas intenções e desdém próprio mal formados que a partir daí, aproveitarão até as vírgulas para dirigir as suas farpas e considerandos.

Ilustre português, nascido em Lisboa no dia 28 Janeiro do ano de 1898, cedo ingressou nas artes cénicas e dramáticas, fazendo dos palcos o seu melhor ambiente. Como peixe na água trabalhava e encantava, até que aos 19 anos se estreou profissionalmente, para substituir o consagrado actor Artur Rodrigues, no Teatro Avenida.
Dos palcos depressa saltou para o cinema, para a rádio e para a televisão que dava nessa altura, os primeiros passos, com tal sucesso foi a sua ascensão que, foi obrigado a deixar os estudos de Belas-Artes, para se dedicar de alma e coração, ao mundo dos espectáculos no São Luiz.
Homem de energia e talento, onde a adrenalina lhe corria nas veias, contagiava quando comunicava com o seu público, tendo a facilidade de improvisação e expressão, de comediante nato, provocando em cada momento ataques de riso na assistência e boa disposição reinava de início ao fim dos seus espectáculos.
A sua figura ainda hoje faz carreira de saudade, quando nos lembramos da sua característica fisionomia e frases inesperadas. Jamais serão esquecidas, por quem teve a felicidade de o conhecer e ouvir. As frases mais conhecidas nos dias de hoje são:

«Ó Evaristo, tens cá disto? »
«Candeeiro, dás-me lume? »


No cinema, não são menos célebres e lembradas as cenas dos seus vários filmes, onde contracenava com muitos outros actores daquele tempo e que também perpetuam as suas obras:
« A Canção de Lisboa, contracenando com Beatriz Costa, no ano de 1933 »
« O Pai Tirano, contracenando com Ribeirinho, no ano de 1941 »
«O Pátio das Cantigas, contracenando com António Silva, no ano de 1942 »

Na Rádio, a sua presença era sempre muito agradável, onde o silêncio era importante em todos os lares, para que todos pudessem ouvir e, não perder pitada das suas histórias, lembrando a série «Zequinha e a Lélé» anos de 1948/1949, que na hora era escutada na via publica, em virtude das rádios de som muito elevado, ecoando nas redondezas.

Por fim, o autor do texto que aqui apresento, em jeito de homenagem, também sobe contornar e escolher as palavras precisas e sentidas, para definir a figura e vida do ilustre homem, do espectáculo e da poesia portuguesas que foi Vasco Santana.


1 6
Um estudante desleixado ........ Também foi canalizador
Amigo da boémia e do fado ..... Quando lhe falhou o amor
Foi o Urso da Academia............ Abraçou a vida mundana
Por duas tias protegido............ Acabou por se embebedar
Em Lisboa era conhecido.......... Passando o dia a assobiar
Pelo Vasco da “Anatomia” ....... Para a sua “Rosa Tirana”

2 .................... 7
No curso era repetente........... Quando o amor foi aceite
Metia-se na aguardente´......... Começou por beber leite
E pelos “Retiros” cantava........ E a sua vida reconstruiu
Do estudo não queria saber.... Ao álcool dissera “não”
Passava o tempo a beber....... Quando viu que o coração
E o curso não terminava ....... Da “Rosa Tirana” se abriu

3 ............. 8
As suas tias desconfiadas....... Foi caixeiro no Grandela
Cortaram-lhe as mesadas ...... E numa cerimónia singela
Puseram os pés a caminho...... Quis armar em charlatão
Quiseram “ ver para crer ” ..... Forjou uma cena real
E até quiseram conhecer ........ Foi mesmo a forma ideal
O «consultório do Vasquinho»... Para enganar a “Tatão”

4 ...... 9
Maldizendo o seu fadário..... Depois da peça apresentada
Quis armar em Veterinário... A jovem ficou desconfiada
No Zoológico de Lisboa........ E ali desfez o seu engano
As tias estavam lá a ver...... Pelo teatro se apaixonou
Mas não quiseram saber ..... Porque ali se representou
Da moral que lhe apregoa....

5 ......... 10
Um dia agarrou coragem..... Ele foi um génio farsante
Acabou com a vadiagem...... E foi o maior comediante
E o seu orgulho floresceu .... Que o mundo já tem visto
Até o júri ficou perplexo...... Levou uma vida de amor
Ele descobriu o complexo.... E foi considerado o Maior
Esterno-cleico-mastoideu .... Do “Pátio do Evaristo”

Vasco Santana contracenou com os melhores actores da época, tendo falecido a 13 de Junho do ano de 1958.

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