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Deixem lá o homem -
Eduardo Luciano
Quinta, 15 Fevereiro 2007
Já passaram alguns dias sobre a viagem do primeiro-ministro à China e parecia não fazer sentido falar sobre as declarações de Manuel Pinho acerca dos baixos salários como factor de competitividade.
Mas perante um ataque tão cerrado ao ministro da economia senti-me na obrigação de apresentar alguns argumentos em defesa da simpática figura.
Passamos a vida a colocar em causa a honestidade e sinceridade com que os políticos exercem a sua função. Suspeitamos que afirmam o contrário do que pensam, que escondem as reais intenções mascarando-as de promessas que sabem não poder cumprir.
Acusamo-los muitas vezes de criarem uma barreira mediática entre as suas acções e aquilo que querem que saibamos.
Ora bem, Manuel Pinho é um exemplo claro do político perfeitamente inábil para utilizar estas armas que dizemos fazer parte do arsenal de qualquer cidadão a exercer o poder.
Este governo, já aqui o disse por mais de uma vez, é o exemplo acabado da eficácia na gestão da comunicação. Tudo é preparado ao milímetro. Desde as declarações dos ministros às já famosas apresentações em PowerPoint em que se misturam intenções com projectos realizáveis e factos com conjecturas, obedecendo a uma agenda mediática pormenorizadamente estudada.
Tem, no entanto, no seu interior um ou outro ministro para quem a contenção verbal é um sacrifício intolerável.
É o caso do ministro Manuel Pinho. Por muito que tente há sempre um momento em que diz o que o governo pensa mas não pode dizer.
É exactamente isso que faz daquele homem um governante perfeitamente insubstituível. Como iríamos nós desconfiar que quando o governo apregoa o fim do paradigma do desenvolvimento baseado nos baixos salários, está em simultâneo a pensar no magnífico factor de competitividade que isso comporta.
Como iríamos imaginar que quando o primeiro-ministro vem reclamar contra a resistência dos trabalhadores à mudança, está de facto a esfregar as mãos de contente e a pensar que em Portugal a pressão para aumentar os níveis salariais é muito menor que noutras paragens.
Não meus amigos, eu não alinho no coro de vozes que quer Manuel Pinho fora do governo. Ele representa o buraquinho por onde podemos espreitar as reais intenções do executivo. Representa a voz cândida da verdade para lá do show mediático.
Posso não estar de acordo com ele, mas pelo menos sei o que pensa e, pela solidariedade demonstrada, fico também a saber o que pensa o primeiro-ministro.
Protestem contra as palavras que lhe saem pela boca fora, mas exijam a sua permanência no governo.
Imaginem que o governo é um submarino. Manuel Pinho é uma espécie de periscópio… mas ao contrário.
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