terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Crónica de 06 de Fevereiro - Domingos Cordeiro

Terça, 06 Fevereiro 2007
Na próxima sexta-feira encerrará a campanha do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Seguir-se-á, como habitualmente, um dia para reflexão e, no Domingo, os Portugueses serão chamados a votar.
Decorridos que são oito dias sobre o seu inicio, é já possível afirmar que, excluindo alguns focos de fundamentalismo, vindos de uma parte e de outra, a campanha tem decorrido com elevação.
Trata-se de um assunto delicado que, oito anos após ter sido referendado pela primeira vez, volta a dividir os Portugueses. Importa, contudo, resolver de vez esta questão.
Para tanto, é necessário que cada um de nós exerça o dever cívico de votar, independentemente da posição que tenha sobre o assunto, não deixando para os outros a resolução de uma questão que a todos diz respeito.
No próximo Domingo, irei votar, convictamente, Sim.
Fá-lo-ei, contudo, na convicção de que seja qual for a decisão que venha a sair da votação, o aborto, também conhecido por desmancho em muitas zonas do país, continuará, infelizmente, a existir.
Fá-lo-ei, ainda, na convicção de que nenhuma mulher, prefere um aborto a preveni-lo.
Fá-lo-ei sabendo que às vezes os métodos contraceptivos falham, quando não falha a informação que daria acesso a esses mesmos métodos;
Fá-lo-ei, sabendo que se o Sim ganhar, as mulheres de menores recursos ficarão livres do flagelo do aborto clandestino, que as vem sujeitando a humilhações nos tribunais; que leva a que algumas morram e muitas outras fiquem definitivamente estéreis, com custos elevados para a saúde pública; que permite uma insustentável situação de corrupção económica, uma
vez que muita gente aproveita esta situação para enriquecer ilicitamente;
Fá-lo-ei sabendo que não são as convicções de cada um que estão em causa no referendo, mas antes valores que fazem parte da civilização ocidental onde nos inserimos e que levaram, há muito, a esmagadora maioria dos países ocidentais a deixar de perseguir, criminalmente, as mulheres que abortam. Fá-lo-ei sabendo que se o Sim ganhar nenhuma mulher será obrigada a abortar no futuro.
O que estará em causa no próximo Domingo, não é saber se a mulher passa ou não a poder abortar, uma vez essa pratica sempre existiu e continuará a existir. O que está em causa, no próximo Domingo, é saber se a mulher que toma a decisão de abortar, sempre difícil e dolorosa, deve continuar a ser tratada como uma criminosa e atirada para o flagelo do aborto clandestino ou se, pelo contrário, deve poder fazê-lo em estabelecimento de saúde autorizado, beneficiando de aconselhamento médico e no respeito pelas melhores práticas seguidas, há muito, pela esmagadora maioria dos países europeus.
Por mim, desejo vivamente que a partir do próximo Domingo nenhuma mulher, pelo facto de se ter submetido a um aborto até ás 10 semanas de gravidez, possa ser tratada pelo Estado como uma criminosa.

Colaboração da : http://www.dianafm.com/

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