quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Tornar claro o que se quer confundir - Eduardo Luciano

Quinta, 01 Fevereiro 2007
Neste período que antecedeu a campanha de esclarecimento para o referendo do próximo dia 11 de Fevereiro, confirmaram-se os piores receios que aqui tínhamos referido há uns meses atrás.
A estratégia dos adeptos da penalização das mulheres que têm de recorrer à interrupção voluntária da gravidez refinou-se, relativamente ao que tinha acontecido em 1998.
Agora temos uma panóplia de movimentos com mensagens claramente direccionadas para públicos concretos.
Do padre de Castelo de Vide que ameaça os paroquianos com a excomunhão e com fogo dos infernos, se optarem por votar sim, ao entretainer de domingo à noite que diz apelar ao voto no não por querer impedir que as mulheres sejam presas por interromperem a gravidez em qualquer momento.
Temos também os mais ecléticos que conseguem misturar as questões religiosas e éticas com cenários de ficção científica, pretendendo demonstrar que fica aberto o caminho para a utilização de práticas abortivas para efeitos de selecção em função do género, da cor dos olhos ou de qualquer outra característica.
Há ainda quem ache que, após a alteração da lei, as mulheres irão fazer fila à porta dos hospitais e centros de saúde para interromperem a gravidez.
O que parecem não entender é o facto de nenhuma mulher enfrentar de ânimo leve a decisão de interromper uma gravidez. O que parecem não entender é que ao perseguirem criminalmente uma mulher que recorre à interrupção da gravidez, estão a perseguir e a condenar a vítima.
Mas temos ainda outro conjunto de argumentos. Numa linguagem menos radical e agressiva aparecem uns quantos que afirmam que o há a fazer é dar mais condições para o exercício da maternidade e da paternidade, deixando a lei tal como está.
Mas afinal onde andam estas almas quando se transforma a precariedade laboral em regra de contrato de trabalho?
Porque não fazem marchas a pedir a criminalização dos empregadores que nas entrevistas de selecção fazem perguntas sobre a vida privada das candidatas, para poderem excluir as que projectam ser mães em breve, ou aquelas que têm filhos pequenos, porque faltam mais vezes para assistência à família?
Pois é… nessa altura estão mais preocupados com a famosa competitividade da economia e com o princípio do máximo lucro como desiderato de toda a actividade humana.
É preciso e urgente discutir sobre qual a resposta à pergunta do referendo. É apenas isso que está em questão. Votar não, é manter tudo como está. Mulheres nos tribunais, enriquecimento de uns quantos à custa do aborto clandestino, mulheres a porem em risco as suas vidas.
Tendo-se demitido a maioria na Assembleia da República da resolução do problema, só nos resta impor pelo voto o fim desta situação.
E acreditem, a alteração da lei não impõe nenhuma opção a ninguém. Tranquilizem-se também os mais receosos, por muita vontade que tenha o senhor padre de Castelo de Vide, ninguém será lançado nas fogueiras da Santa Inquisição.

Até para a semana

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