Colaboração da:
Com a saúde não se brinca - Eduardo Luciano
Quinta, 22 Fevereiro 2007
A redefinição da rede urgências do serviço nacional de saúde está a mobilizar as populações para protestos e tomadas de posição nos concelhos que são premiados com encerramentos e deslocalizações.
No passado fim-de-semana foi a vez dos habitantes de Valença saírem à rua, para contestarem as conclusões do estudo, sobre a rede nacional de urgências, que defende a transferência daquele serviço para Monção.
O presidente da câmara anunciou publicamente que se demitia de todos os órgãos do seu partido, onde tinha assento.
Afirmava ele que não se sentia confortável com o facto do partido de que fazia parte estar a preparar-se para tomar medidas gravosas relativamente à população que o tinha eleito.
A manifestação lá decorreu dentro da normalidade, ou quase, tendo as televisões dado particular ênfase aos empurrões da GNR e à situação própria da época carnavalesca.
À noite tivemos o ministro na televisão numa intervenção também propícia ao período de folia que se vivia.
Correia de Campos atirou com um conjunto de argumentos e declarações de princípios que nem pareciam ser produzidos por homem de reconhecida inteligência.
Primeiro atirou-se ao Presidente da Câmara de Valença, acusando-o de estar a manipular a população, de ser o autor e mentor da manifestação, pouco faltando para afirmar que não fora aquilo que tinham combinado na reunião que ambos tiveram uns dias antes.
Depois, num tom de voz que revelava que tinha a sua decisão tomada, lá foi desfiando o rol de argumentos que sustentariam a sua decisão, afirmando-se sempre disponível para o diálogo.
Claro que é daquelas disponibilidades que transformam o exercício do diálogo em algo estéril. É mais disponibilidade para ouvir sabendo o interlocutor à partida que nada pode mudar.
No meio desta lamentável intervenção retive um argumento que me pareceu espantoso. Afirmou o ministro que um serviço que atende uma média pouco superior a quatro urgências por dia, não tem razão de existir.
Ou seja, se utilizarmos o mesmo argumento do ministro para a existência de seguros de responsabilidade civil, por exemplo, chegamos à conclusão que são um verdadeiro desperdício.
Pagamos sempre, todos os anos ou semestres, e poderemos passar anos e anos sem sentir que nos fazem falta.
As populações entendem o atendimento de situações de urgência da mesma forma. Podem passar uma vida sem lá irem, mas gostam de saber que, se um dia precisarem, o serviço existe, funciona e está perto.
Não está em causa a necessidade de reformar o Serviço Nacional de Saúde. É mesmo essencial que esta reforma se faça. Mas todas as alterações devem ter em conta um melhor serviço, mais próximo dos cidadãos, mais eficaz.
As pessoas podem andar mais ou menos amorfas, mais ou menos desinteressadas da política, mas quando se mexe com o acesso a serviços de saúde a mobilização está garantida. E bem pode o ministro estar disposto ao diálogo e o presidente da câmara desincentivar as manifestações. É um lugar comum que com a saúde não se brinca e os portugueses levam isto a peito, mesmo em período de Carnaval.
Crónica de 21 de Fevereiro de Hélder Rebocho
O desemprego constitui um dos grandes problemas económicos e sociais com que se debate o nosso país.
Os frutos da aposta na formação profissional e académica que caracterizou Portugal nas últimas décadas, começam agora a engrossar as fileiras do desemprego, porque o mercado de trabalho revela incapacidade para absorver tanta mão-de-obra qualificada.
O desemprego é hoje um problema universal na sociedade portuguesa colocando no mesmo saco o analfabeto e o licenciado.
A aposta na formação deveria ter como consequência o aumento dos níveis de emprego, a melhoria da produtividade, o crescimento empresarial e a dinamização da economia. São estes os objectivos que presidem á distribuição e afectação de fundos comunitários á formação profissional.
No entanto, ter mão-de-obra qualificada não chega, é fundamental criar uma política efectiva de combate ao desemprego, que em Portugal não existe, porque neste país tudo se faz por conveniência imediata e não de forma planificada.
Investiram-se na formação profissional milhares de euros provenientes dos quadros comunitários de apoio, abriram-se as portas do ensino superior à iniciativa privada, tudo sem qualquer critério que direccionasse os cursos para as necessidades de mercado.
O resultado está á vista, Portugal é um dos países da união europeia com maior taxa de desemprego e sem esperança de inversão desta tendência.
Hoje a quatro ou cinco anos de universidade, segue-se para muitos o ingresso no desemprego e para outros a entrada no mercado de trabalho pela porta das caixas dos hipermercados ou das centrais telefónicas de companhias de seguros, cenário que tende a agravar-se com a aplicação das regras decorrentes da convenção de Bolonha.
A toda esta mutação no ensino com necessários reflexos no mercado de emprego que em Portugal vai de mal a pior, responde o governo com artifícios e fantasias que têm como consequência o aumento da taxa de desemprego.
Segundo os dados revelados pelo INE, a taxa de desemprego estimada para o 4º trimestre de 2006 subiu para 8,2 %, cifrando-se no valor mais alto dos últimos 20 anos.
Em relação a igual período do ano anterior a população desempregada aumentou 2,5%.
No entanto estes dados estatísticos apenas incluem as pessoas sem trabalho que fizeram diligências para procurar emprego, o que significa que o número de desempregados é muito superior àquele que nos é relevado pelas estatísticas, sobretudo se considerarmos os desempregados que não tiveram qualquer iniciativa para procurar trabalho e aqueles que trabalham apenas amiúde e desejariam trabalhar mais.
Para além destes, devemos também ter em conta o emprego precário e os estágios profissionais que contribuem para criar a aparência de uma taxa de desemprego menor do que ela é na realidade.
Na globalidade, o desemprego será uma realidade para cerca de 600 mil Portugueses, números que preocupam, sobretudo se tivermos em conta a falta de dinamismo económico revelado pelo país.
Nos últimos meses o governo vinha anunciando que os números do desemprego baixavam nas estatísticas e que a economia começava a dar sinais de retoma.
Afinal os últimos dados estatísticos vieram revelar o contrário, o desemprego em Portugal duplicou nos últimos seis anos.
Para um governo, que durante a campanha eleitoral prometeu a criação 150.000 postos de trabalho e assumiu a necessidade de criar uma verdadeira política de combate ao desemprego os resultados não podiam ser mais desoladores, afinal as suas boas intenções quedaram-se pela demagogia ou foram esmagadas pela prevalência da governação puramente economicista imposta por José Sócrates.
Crónica de 20 de Fevereiro de Domingos Cordeiro
Comemora-se hoje o segundo aniversário da conquista da primeira maioria absoluta do Partido Socialista em eleições legislativas.
Com esta vitória José Sócrates chegava a Primeiro-Ministro. E pouco tardou para que o País ficasse a conhecer a sua equipa governativa e a grave situação financeira que nos atingia.
O défice público encontrava-se, então, em 6,1% do PIB, isto é, duas vezes superior ao máximo permitido pela União Europeia.
Por via deste facto Portugal viu-se, pela segunda vez, confrontado com um procedimento por défice excessivo aberto pela Comissão Europeia.
A situação difícil então vivida impeliu o Governo a desencadear reformas pelas quais o Pais há muito esperava.
A par, e como resposta ao procedimento instaurado por Bruxelas, viu-se o Governo obrigado a apresentar um plano contendo a estratégia de consolidação orçamental com a indicação das políticas que se propunha aplicar ao longo dos anos seguintes, tudo para que em 2008 o défice público se encontre abaixo dos 3% do PIB.
Nesse plano propunha-se o Governo reduzir o défice, em 2006, para 4,6% do PIB.
Em Fevereiro de 2006 veio a Comissão Europeia considerar que os resultados do plano que lhe foi apresentado poderiam ser menos favoráveis que os previstos pelo Governo Português.
Com esta opinião a Comissão Europeia evidenciava sérias reservas sobre se Portugal iria alcançar, em 2006, o resultado de 4,6% a que se tinha proposto.
Em Outubro passado o Primeiro-Ministro, José Sócrates, desmentindo o cepticismo de Bruxelas, evidenciado oito meses antes, veio reafirmar que o défice público, em 2006, não iria exceder o valor de 4,6% cumprindo-se, desta forma, a meta por si traçada.
Na passada semana, decorrido que foi um ano sobre as duvidas levantadas pela Comissão Europeia veio a mesma, através do seu Comissário Joaquin Almunia, felicitar o Governo Português pelas medidas tomadas com vista à redução do défice publico e afirmar que o valor de 4,6% seria conseguido.
Na ocasião felicitou também todo o Povo Português por este resultado.
E, em minha opinião, fez bem. É que se é certo que ao Governo cabe o mérito de ter criado as condições para a ostensão de tal resultado, não é menos verdade que o mesmo se fica também a dever a todos os Portugueses que, pese embora o facto de ser verem atingidos por medidas duras, vêem nas mesmas o único caminho possível para podermos, no futuro, ambicionar a um Portugal melhor. Sem o apoio do Povo Português tal resultado não teria sido possível.
Sem comentários:
Enviar um comentário