quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM (DUAS)

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Crónica de 7 de Fevereiro de Hélder Rebocho

A tranquilidade de que o governo tem desfrutado nas últimas semanas não significa que José Sócrates tenha subitamente passado a governar bem.
O mérito desta pausa para respirar - que deveria servir para reflectir sobre aquilo que de menos bom tem sido feito, ou que pura e simplesmente não foi feito - pertence à campanha para o referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, que tem monopolizado a atenção dos Portugueses.
No entanto, após o próximo dia 11 de Fevereiro todas as atenções voltarão a centrar-se no governo, sobretudo numa questão emergente cujo carácter iminente é já demasiado evidente para continuar a ser ignorada.
Refiro-me claro está à remodelação governamental em perspectiva.
Já todos percebemos que o primeiro ministro não gosta de mexer no governo, não tanto por falta de percepção da necessidade de indicar a porta de saída a alguns Ministros da sua equipa, mas sobretudo porque sabe que as remodelações governamentais estão, em regra, associadas a instabilidade.
É precisamente esta imagem de estabilidade, a preservar a todo o custo, que tem servido de abrigo para alguns ministros do actual governo.
Parece-me, no entanto, que esta aparente imagem de estabilidade está prestes a ceder, porque há ministros que têm sido maus de mais, mesmo para o governo de José Sócrates.

Na época do protocolo de Quioto e da Agenda 21, em que as preocupações e políticas ambientais constituem uma prioridade para os executivos modernos, é no mínimo enigmático e incompreensível tentar perceber porque motivo o Ministro do Ambiente se tem remetido ao silêncio, quando uma parte da costa Portuguesa, a Costa de Caparica está a viver um desastre ambiental.
Não tomar uma posição sobre o assunto, não assumir pessoalmente medidas para minimizar as consequências do desaparecimento de uma parte da costa e mais grave, remeter-se a um absoluto silêncio são um preocupante sintoma de inércia ou de incapacidade de um Ministro que ocupa uma pasta importante para o presente e para o futuro do país.
Mas não é tudo.
Portugal está a passar um período difícil no tocante ao investimento estrangeiro, a deslocalização de importantes unidades produtivas multinacionais para fora de Portugal têm provocado danos na nossa economia e empurrado para o desemprego milhares de trabalhadores.
Do Ministro da economia exigia-se, no mínimo, que procurasse, não só encontrar soluções para evitar a debandada dessas multinacionais, mas também métodos para atrair novos investimentos estrangeiros para Portugal. Este objectivo consegue-se com um aumento da competitividade, através de medidas de incentivo de natureza fiscal, com formação e promoção da qualidade da mão-de-obra Portuguesa, sempre precedidas de infra-estruturas fundamentais como as acessibilidades.

No entanto, na recente viagem à China e na presença de uma comitiva de empresários Portugueses, o Ministro da Economia veio qualificar os baixos salários como uma vantagem competitiva de Portugal.
Tentar atrair investimento estrangeiro á custa de uma imagem terceiro mundista da mão-de-obra Portuguesa é no mínimo escandaloso e degradante para a imagem de Portugal no panorama económico internacional.
A mão-de-obra barata deve envergonhar um governante porque em regra é sintoma de falta de qualificação e de precárias condições económicas, não deve nem pode servir como aliciante para atrair investimento estrangeiro a um país.
Aquela afirmação revela falta de habilidade política, mas mais do que isso põe a nu duas realidades:
- A economia Portuguesa continua estagnada e,
- Os fundos comunitários canalizados para formação profissional no nosso país, que não têm sido assim tão poucos, têm sido mal geridos ou mal aplicados.
Os Ministros do Ambiente e da Economia tornaram mais evidente aquilo que muitos já tinham constatado, as inúmeras fragilidades deste executivo.


Liberdade cerceada - Eduardo Luciano

A participação em campanhas de esclarecimento e convencimento com o objectivo de angariar votos para uma proposta que se apresente ao eleitorado, constituem oportunidades fantásticas de conhecer o território, os comportamentos e opiniões dos que contactamos e as limitações impostas ao exercício de uma cidadania empenhada e participada.
Durante a campanha que irá culminar na votação do próximo dia 11, tive o privilégio de contactar com inúmeras pessoas, que manifestaram a sua opinião, dúvidas e até a sua má educação ao recorrerem ao insulto e à intolerância.
Numa tarde fria de domingo um grupo de cidadãos decidiu fazer campanha, distribuindo documentos, nas entradas das principais superfícies comerciais.
Colocados estrategicamente do lado de fora das portas de acesso, fomos entregando panfletos, conversando um pouco quando a situação se proporcionava, trocando opiniões com quem se manifestava contra ou a favor da nossa proposta.
Assim aconteceu pacificamente em quase todas as superfícies comerciais de grande e média dimensão da nossa cidade.
Digo quase, porque numa delas fomos impedidos de o fazer. Abordados pelo segurança, que chamou os responsáveis de serviço naquele supermercado, fomos convidados a sair, informados que era política da empresa não autorizar a distribuição de documentos, ainda que fora de portas.
Argumentámos com o direito a fazer propaganda em período especialmente a isso destinado, com o direito ao exercício da livre expressão, com o facto de estarmos do lado de fora do estabelecimento comercial e de não impedirmos ou dificultarmos o acesso ao seu interior.
Inflexíveis, os responsáveis continuaram a afirmar que o espaço do parque de estacionamento era propriedade privada e, como tal, só com autorização superior seria possível a nossa presença.
Acabámos por abandonar o local para evitar mais constrangimentos aos dois trabalhadores que nos enfrentaram, no cumprimento de ordens de uma qualquer figura anónima, mas suficientemente ameaçadora para levar dois empregados a fazer algo com o qual, provavelmente, nem estavam de acordo.
Reflectindo sobre este episódio, concluí que o direito à liberdade de expressão, ainda que em período de campanha, esbarra com a vontade de impedir esse exercício por parte do dono de um parque de estacionamento.
Por este caminho, e ao ritmo a que se tornam privados todos espaços, voltamos ao tempo em que tínhamos de ser sombras para transmitir uma mensagem a alguém.
Enquanto isso não acontece, tomei uma decisão. Deixei de usar o parque de estacionamento privado daquele estabelecimento. Posso já não ter a liberdade de distribuir propaganda onde bem entender, mas ainda tenho a liberdade de decidir onde faço as minhas compras. E num sítio com tal modelo de comportamento, nunca mais.

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