O LADO CRESCENTE da GLOCALIZAÇÃO
1. Se o pequeno texto que a seguir alinhamos, parece ter alguma coisa a ver com a maioria dos actores e das políticas locais, então, é porque assim está a ser visto por todos aqueles que podem e devem vir a debater livremente a questão.
Convocando esta posição sem reservas para a abordagem do tema em destaque, assinala-se que ao contrário dos termos “Globalização/Mundialização”, as expressões “Glocal/Glocalização” ainda não entraram definitivamente no léxico e linguagem comum. Há-de chegar o tempo e já sem muita demora, uma vez que a percepção adequada destes dois conceitos interligados e complementares entre si, pode marcar a diferença entre vivermos no presente com um pé no futuro… ou continuarmos agarrados às terminologias e argumentações do passado.
2.Basta, aliás, olhar para a Internet e usarmos um vulgar telemóvel para qualquer um de nós, pensar e perceber, que os dois termos conceptualmente se completam, passando a ser uma dupla realidade e exigência irreversível na vida das pessoas, dos estados, nações e comunidades locais no decorrer do Século XXI. O Mundo, de facto, tornou-se uma Aldeia Global.
3. Já não temos por onde recuar em matéria de “Globalização/Glocalização” até porque foi um português alentejano, o navegador Vasco da Gama quem A Iniciou com a realização de três viagens intercontinentais à Índia. Assumindo e praticando declarados interesses comerciais em especiarias, porcelanas e metais preciosos com os quais Portugal haveria depois de se governar e projectar poder à escala global.
Calha bem, neste contexto, lembrar mais um exemplo de ‘Globalização plena’ bastante recente. Menos mercantilista e mais neoliberal.
Citando o caso do futebol, vimos um pequeno país, Portugal, jogar com Emigrantes seus, contra a maior potência da América do Sul, o Brasil, numa grande Ilha do norte da Europa, tendo por cenário um estádio em Londres, financiado por árabes e lotado por brasileiros, portugueses e ingleses, pagando bilhetes emitidos algures na Ásia. Globalmente o Mundo assistiu à vitória da equipa das Quinas, um óptimo incentivo desta vez para a nossa triste e suspensa auto estima.
Portanto, se a Globalização significa que devemos estar, participar e vencer no Mundo actual, a Glocalização confronta-nos, de imediato, com uma segunda face da mesma moeda. Ou seja, só pensando globalmente, podemos Agir e interagir Localmente de uma forma crescente.
O contrário disto não é viajar… nem dá para acreditar que venha a cair do céu.
4. Foi precisamente nesta intenção e espaço de discussão que colocámos e usámos o termo “Glocal”, no comentário da semana passada pese embora o facto de vários leitores e Amigos (me) darem conta da sua estranheza. Aqui estamos a replicar que a via preferível e a alternativa desejável é:”Pensar global …para (se) poder agir localmente.
5. O que acabamos de dizer relaciona-se, obviamente, com a noção de que os poderes políticos nacionais ou locais, estão em constante mudança. Ou seja, o exercício de poderes verticais altamente hierarquizados e as estruturas habituais de controlo político, Globais ou Locais, começam a dar sinais de um evidente desgaste. É o caso das principais ‘Organizações Internacionais’ que são caras e acusam um excesso de burocracia, funcionando quase todas bastante mal. Ao mesmo tempo que vão recusando qualquer mudança. Vide o caso da ONU.
É também por isso, que os poderes políticos, deviam começar a aceitar e a estar abertos aos processos de substituição dos chamados poderes verticais pelo exercício de “poderes em rede”. O futuro, há-de situar-se menos em votações eleitorais e mais na criação de redes horizontais de poderes públicos. Cada vez mais disseminados pelas comunidades (e organizações) sociais locais, chamadas a colaborar no Bem-estar comum.
6. Dito isto, convém objectivar “à luz da glocalizaçao”, como é que irão funcionar os Poderes políticos das autarquias de modo a serem alcançados e postos em prática os chamados Fins de interesse comum supra partidários?
Será que a tradução disto, está cada vez mais no recurso aos referendos e cada vez menos em espectaculares actos eleitorais como, aliás, já vem sendo o caso da Suiça?
Pondo a questão num nível social local, haverá condições para praticar uma nova Sensibilidade social verdadeiramente abrangente? Pode pedir-se e esperar-se do poder autárquico, a aplicação de um novo sentido de Inclusão e de justiça social, equidade e solidariedade? O fosso entre os que, por aqui, já vivem demasiado bem e os que vivem demasiado mal, tenderá a agravar-se? O Concelho, Terena ou Santiago Maior apresentam-se equilibrados em termos sociais e culturais?
7. Em síntese, não seria oportuno que tivéssemos a consciência de que precisamos de ligar e tornar a ligar os líderes políticos com os líderes da sociedade civil local, procurando o aconselhamento e inspiração para a formação de uma atenta e moderna vontade colectiva local?
Será que é assim tão complicado, sermos ao mesmo tempo globais na discussão das situações e locais na apresentação de novos sinais e Oportunidades de Desenvolvimento Local?
Quer-se um só exemplo?... Quando é que vamos começar a ouvir falar mais intensamente em Construção e Turismo Ecológico?
A este propósito registam-se com muito agrado os Apoios, mas quando é que a autarquia, vai pensar de forma mais proveitosa e integrada, no problema do povoamento/políticas da natalidade no Concelho, uma vez que já somos parte da União Europeia há mais de duas décadas?
António Neves Berbém
Fev., X/ MMVII
Sem comentários:
Enviar um comentário