quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM (DUAS)

Uma deferência da:

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Crónica de 11 de Janeiro - Eduardo Luciano

Quinta, 11 Janeiro 2007
É bom aprender coisas novas ou aprender a olhar para os mesmos conceitos de outra perspectiva. Li e ouvi um representante do conselho de gerência da empresa Metropolitano de Lisboa afirmar que a manutenção no Acordo de Empresa de uma cláusula que garante aos trabalhadores o gozo de mais 4 ou 5 dias férias, se as gozarem fora do período normal (de Maio a Setembro) e por conveniência da empresa, é um privilégio inconcebível. Ou seja, a compensação em acréscimo de férias como contrapartida para o seu gozo fora da época de verão é algo que não faz qualquer sentido para o Conselho de Gerência do Metropolitano de Lisboa.
Era apenas um exemplo das inaceitáveis regalias que teriam ir para o caixote do lixo com a caducidade do Acordo de Empresa.
Mudo de página de jornal e encontro uma história fantástica.
Arménio Matias, ex-administrador da CP, escreveu no seu blog que esteve os últimos seis anos sem fazer rigorosamente nada.
Durante estes seis anos, segundo o próprio, cada vez que uma nova figura era empossada no cargo de presidente do conselho de gerência pedia-lhe uma audiência e disponibilizava-se para aceitar qualquer função. Sem sucesso.
Durante todo este tempo o ex-administrador da CP recebeu mensalmente 3500 euros líquidos. Obviamente que tinha também telemóvel da empresa, viatura e secretária. Repito, sem nenhuma tarefa em concreto atribuída.
O jornal onde a notícia foi publicada investigou um pouco mais e chegou à conclusão que existem mais casos como este naquela empresa. Os chamados “emprateleirados”.
Em Dezembro, provavelmente morto de tédio, Arménio Matias demitiu-se. A CP não fez qualquer comentário à sua demissão.
Ainda bem que isto se passou na CP. Se tivesse sido no Metropolitano de Lisboa imagino o que não diria o representante do conselho de gerência daquela empresa. Se os trabalhadores do Metro são aquela cambada de privilegiados, seria difícil fugir à tentação de cometer o crime de injúrias para comentar a situação do “emprateleirado” de ouro da CP.
Logo agora que os “reformadores modernistas” nos estavam a convencer que tudo o que mexia e trabalhava, com alguns direitos conquistados a pulso, fazia parte de uma casta de privilegiados. Logo agora que se começava a instalar entre todos eles um terrível sentimento de culpa por terem salário, férias, horário de trabalho, subsídio de férias e natal, fins-de-semana, licenças de maternidade e paternidade, protecção na doença e outros terríveis privilégios, ficam a saber que alguém foi pago principescamente para estar 6 anos sem fazer rigorosamente nada, enquanto sucessivos conselhos de gerência iam recrutando prestadores de serviços do exterior.
Aprendi assim que os malvados grevistas do Metro são uns privilegiados, o ex-director da CP um talento desperdiçado.
Sacrifícios para todos? Tenham juízo.

Polícia bom, polícia mau - Eduardo Luciano

Quinta, 11 Janeiro 2007
Crónica emitida dia 4 de Janeiro de 2007

A habitual comunicação ao país do Presidente da República, no início de um novo ano, tem suscitado os mais diversos comentários dos três partidos que partilham o poder há mais de trinta anos. O PSD e o CDS entenderam a mensagem como um aviso ao governo. Multiplicaram-se em declarações entusiásticas mal disfarçando uma espécie de sensação de alívio, percebendo-se nas entrelinhas a expressão “afinal temos homem”.
Os arautos do partido do governo vieram de imediato afirmar que partilham das preocupações do Presidente e que a sua exigência de resultados mais não é do que um apoio declarado ao tão elogiado “espírito reformista”.
Portanto, onde uns viram um severo aviso, outros vislumbraram um caloroso apoio, de onde podemos tirar pelo menos uma conclusão: a mensagem de Cavaco Silva é reveladora de uma eficácia comunicacional que não lhe conhecíamos.
Exigiu resultados em três áreas consideradas essenciais: justiça, educação e economia, passando a ideia aos portugueses que os sacrifícios, para os mesmos de sempre, sendo inevitáveis teriam de ter contrapartidas em resultados palpáveis já neste ano.
Com este discurso quis dar a entender que estava ao lado daqueles que se sentem atacados pelas políticas do executivo, deixando no ar a ideia que se os resultados não fossem visíveis se zangaria seriamente com Sócrates.
Por outro lado, sabendo que as suas palavras seriam suficientemente dúbias para isso, iria aplacar a ira da sua família política permitindo uma leitura de intervenção mais crítica ao governo.
Reflectindo um pouco sobre as duas mensagens, a natalícia de Sócrates e a de Ano Novo de Cavaco, percebe-se claramente que não existem diferenças entre os objectivos das políticas do governo e o pensamento político do presidente.
O que Cavaco quis transmitir ao governo, na sua mensagem de Ano Novo, foi o seu apoio ao caminho traçado apelando ao incremento do ritmo da aplicação das medidas que ambos preconizam.
Os resultados que o Presidente pede são os mesmos que o governo persegue. Na minha opinião contrários à verdadeira mudança que o país necessita.
As duas mensagens remeteram-me para a inevitável cena que sempre acontece nos maus filmes americanos. Os dois polícias que interrogam um detido e para potenciarem a eficácia do interrogatório um deles faz de polícia bom e o outro de polícia mau. Entram em contradição aparente nos métodos de interrogatório e o detido acaba por confessar ao polícia bom.
Assim são Sócrates e Cavaco, colegas de patrulha com objectivos comuns e, enquanto se discutem as aparentes contradições entre eles, aumenta a eficácia com que prosseguem as suas políticas.
Só é pena que neste enquadramento cinematográfico os detidos sejamos nós.

Até para a semana

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