segunda-feira, 13 de novembro de 2006

CRÓNIOCAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Uma deferência da:
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A avaliação
José Faustino

Segunda, 13 Novembro 2006
A avaliação de recursos humanos é um instrumento de gestão que deve ser utilizado quando necessário, por isso não tenho nada contra a sua aplicação.
De repente e a propósito da função pública, muito se tem falado de avaliação: porque os portugueses não gostam de ser avaliados; porque os funcionários públicos são todos avaliados com a classificação de bom; E mais por isto e mais por aquilo, utilizando cada um a argumentação que mais lhe convêm.
Por mim, já não os posso ouvir. Como habitualmente, não é sobe avaliação que realmente se quer falar, é sobre tudo menos sobre a verdadeira e necessária utilização da avaliação no que respeita à gestão de recursos humanos.
Como é habitual, nos últimos tempos, todo o barulho levantado à volta do assunto foi causado pela proposta do Governo, que agora pretende avaliar os funcionários públicos.
Pergunto: Avaliar os funcionários públicos para quê? Com que objectivo?
Sejamos francos, o que preocupa o Governo não é a imperativa necessidade de avaliar os seus funcionários. O que verdadeiramente se pretende é utilizar a avaliação para impedir as promoções e consequentemente reduzir na despesa dos seus salários.
Com a necessidade, e vontade, de diminuir a despesa pública ou impedir a sua subida estou completamente de acordo. O Estado não pode continuar a gastar aquilo que não tem.
Mas neste caso, o problema reside noutro aspecto e não na boa ou má avaliação dos funcionários, e este mesmo problema não se encontra apenas na função pública, ele também está enraizado no sector privado.
O verdadeiro problema chama-se legislação laboral e a expectativa que aí se criou da constante subida de categoria. Tudo aponta para diversas categorias dentro de cada profissão e o respectivo mecanismo de progressão bem como o mecanismo de diuturnidades. Ou seja, tudo está preparado para que se vá recebendo cada vez mais, continuando a faz-se exactamente o mesmo.
Justificar-se-á haver três, ou mais, categorias na profissão de engenheiro civil? E na de funcionário administrativo? Ou na de motorista?
Justificar-se-á que todos vão sendo aumentados pela simples razão de que vão envelhecendo?
Penso que não. Dir-me-ão que a idade dá mais experiência, concordo. Mas também tira energia e capacidade. Assim, uma coisa compensa a outra.
Parece-me que, quando um indivíduo desempenha uma profissão, o que tem de se lhe exigir é que a desempenhe com competência, recebendo um ordenado compatível.
Avaliação? Na maior parte das vezes, a única coisa a avaliar é se desempenha ou não a sua profissão, se sim que se mantenha, se não que mude de vida.
O problema não está pois na avaliação da função pública, está no excesso de categorias, escalões e de outras coisas do género.
Depois, quem é que vai avaliar o funcionário? É o, muitas vezes, burgesso e medíocre do seu chefe que sempre esteve desenquadrado da sua própria profissão?
E como serão avaliados? Os policias pelo número de multas? Os funcionários das finanças pelo dinheiro que cobram? Os professores pelo número de chumbos dos seus alunos?
Quantas pessoas conhecem que ocupem altos cargos por via de processos de avaliação?
Mesmo nas empresas privadas, a maior parte de progressões, não automáticas, são feitas por avaliação? E os administradores são nomeados em função da sua avaliação?
Já agora, não resisto, e os governantes também são avaliados?
Não me venham com a treta de que são avaliados nas eleições. É mentira, não são. Nas eleições, escolhe-se a opção política ou o candidato que mais nos agrada, o que não é exactamente a mesma coisa que avaliar o seu desempenho. Depois, há governantes que nunca se submeteram a qualquer sufrágio. Quem é que já votou no Ministro das Finanças?
Nas eleições vota-se para uma acção futura e não no passado, isso faz toda a diferença.

Para finalizar, outro assunto, em jeito de recado aos funcionários públicos: Pensem noutras formas de luta porque as greves, no actual contexto, têm um efeito contrário ao desejado. Não prejudicam o Governo. Causam-lhe um pequeno prejuízo político e um grande benefício económico.
A mais umas quantas greves, até ao final do ano, chamar-lhe-iam um figo.

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