quinta-feira, 16 de novembro de 2006

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Comemorar com os olhos no futuro
Eduardo Luciano

Quinta, 16 Novembro 2006
No próximo dia 25 de Novembro comemoram-se os 20 anos da atribuição ao Centro Histórico de Évora da qualificação, pela UNESCO, de Património Mundial. A data mereceria, na minha opinião, um outro envolvimento da autarquia na sua comemoração. É certo que existe uma decoração luminosa a invocar a data, também é certo que vai ser lançado um livro e uma colecção de pacotes de açúcar, com o apoio de uma conhecida marca de cafés. Quanto a mim é pouco. E é pouco tendo em conta o esforço de autarcas, técnicos e outros cidadãos que se empenharam no processo de candidatura do Centro Histórico de Évora a Património Mundial.
Não pensem que estou a falar de festejos ou de cerimónias formais de troca de encómios entre o poder actual e aqueles que trabalharam para esse fim.
Refiro-me a algo mais substancial e útil. Refiro-me ao aproveitamento da efeméride para se discutir o futuro do Centro Histórico da cidade.
Como é do conhecimento de todos existe uma tendência, que se vem acentuando com o tempo, para a desertificação desse centro fundamental da polis.
O número de casas desabitadas aumenta sem cessar, os serviços públicos são retirados para a periferia, os espaços de estacionamento vão desaparecendo.
A Évora monumental caminha para a desertificação, sob o olhar complacente do poder que se limita a concluir ser essa uma tendência geral dos centros citadinos.
Mas será que nos devemos conformar com essa evolução? Será que não é possível criar condições para manter este magnífico espaço histórico com vida?
A opção é sempre política. Quando se decide retirar para a periferia serviços camarários está-se a tomar uma opção que, objectivamente, retira vida ao centro histórico. Quando se facilita a implantação de vários espaços comerciais de grande dimensão longe do centro está-se, objectivamente, a criar condições para o encerramento de várias unidades comerciais, sem as quais o centro histórico se transformará num museu sem visitantes.
O caminho terá necessariamente de ser outro. Deverá passar por estratégias de animação permanente que tragam as pessoas a este espaço, pela criação de mais estacionamento gratuito nas zonas circundantes que inclua um serviço de transportes eficaz para o centro. Por apoios claros à modernização do comércio existente. Pela criação de uma política de recuperação dos imóveis devolutos que permitam no curto prazo o aumento e rejuvenescimento da população residente.
Haverá certamente opiniões contrárias àquelas que aqui deixei. Haverá quem prefira ter quatro ou cinco catedrais do consumo à volta da cidade e um Centro Histórico sem vida. Tudo é possível discutir e seria bom que, aproveitando as comemorações dos 20 anos de Évora como Património Mundial, essa discussão se fizesse.
Seria a melhor maneira de homenagear os que se bateram e trabalharam pelo reconhecimento de Évora como uma cidade que é tanto dos eborenses como do resto da humanidade.
Até para a semana

Não deixe de ouvir no fim de semana, na Diana/Fm o compacto das crónicas lidas por: Sérgio Major.

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